Se fosse vivo, o 25 de Abril estaria agora a festejar os
seus 38 anos. Como está morto e enterrado, paz à sua alma. Digo isto, e já
estou a ver e a ouvir os gestos e os gritos indignados daqueles para quem o 25
de Abril está aí, vivinho da silva, e que ainda cerram os punhos, enquanto
gritam: 25 de Abril Sempre, fascismo nunca mais! Como se
gritar qualquer coisa transformasse a realidade. Alto lá! Mas ainda temos o
voto e a liberdade de expressão. Ah, pois temos. E servem para quê? Ou não
servem para quê? Se não sabem, eu explico. NÃO SERVEM para evitar:
- A maior taxa de desemprego de sempre!
- Mais de dois milhões de pobres, muitos dos quais até
têm emprego!
- Os mais baixos salários e reformas da Europa!
- Estarmos, a seguir à Grécia e ao Sudão, no pódio dos
países com pior desempenho económico!
Que escolhamos governantes que deram cabo da Segurança
Social (qualquer dia não há dinheiro para as reformas), do Serviço Nacional de
Saúde (quem quer saúde, que a pague!), que enfeudaram a Justiça aos interesses
dos partidos no poder e da alta finança (Portucale, Freeport, Operação Furacão,
Face Oculta, BPN), que vendem ao desbarato o que resta das grandes empresas
públicas (EDP, por exemplo), e que se aproveitam dos cargos públicos para
enriquecerem, bem como as respectivas seitas, e que nos fazem pagar pelos seus
erros e crimes, cortando-nos nos salários, nas pensões e nos direitos básicos
consagrados na Declaração Universal dos Direitos Humanos, mas que nadam num mar
de corrupção como jamais se viu.
Digam-me esses exaltados defensores do 25 de Abril, o que
é que a nossa realidade, mesmo com a liberdade de expressão e de voto, tem do
25 de Abril nascido em 1974? Se lhes custa responder, respondo eu – e sem
hesitar: ZERO! Noves fora, NADA! Há anos que digo isto, e há
anos que a vida todos os dias me dá razão.
E sabem mais uma coisa? Sabem a quem é que os velhacos,
os estúpidos, os crápulas e toda a ordem de canalhas ou imbecis atribuem todos
os males que nos afectam? Será ao capitalismo? Será às políticas conduzidas
pelo PS de Soares, Guterres ou Sócrates, ou pelo PSD de Cavaco, Durão ou
Passos? Nem pensar! Dizem eles que a culpa é do 25 de Abril. O 25 de Abril que
eles assassinaram.
E as brigadas do reumático, incapazes de abrirem os olhos
para esta realidade – e em vez de se convocarem para um novo alvorecer –
repetem a velha e inútil ladainha: 25 de Abril sempre, fascismo nunca
mais!
Pois… Só que é o fascismo, travestido de democracia, que
aí está. E isto que sofremos não é (nem tem nada a ver, felizmente, com)
o 25 de Abril que Deus haja!
Crónica lida nas “Provocações” da Rádio
Baía em 25/04/2012.