quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O REINO DOS DEMOCRATAS (I)


A Democracia é o reino dos democratas. Está estruturada em feudos (vulgo: partidos), que se subdividem em três grupos, ou extractos: os Senhores, os Pajens e os Apaniguados – ou Devotos, dado que só servem para votar e dizer amém.

Os Senhores de cada feudo decidem, dizem, desdizem, põem e contrapõem. Repartem entre si os fundos e os proveitos, também chamados saque, ou despojos. Periodicamente, disputam com os Senhores dos outros feudos o direito a ocupar o trono real por um período de quatro anos. O vencedor pode governar todo o Reino como se do seu próprio feudo se tratasse.

Os Pajens servem fielmente os Senhores, a troco de razoável paga em dinheiro e em espécie, podendo, se os préstimos forem excelentes, aceder à categoria de Pajem-Delfim (ou Boy), de onde, sendo suficientemente espertos e isentos de escrúpulos, será apenas um pulinho até ao topo senhorial.

O Apaniguado, ou Devoto, limita-se a votar no respectivo Senhor e a manifestar, de forma mais ou menos explícita – ou seja; com maior ou menor gritaria – o seu apoio à casa senhorial. De nada mais sabe, nem quer saber. É muito disputado pelos Senhores, dada a sua excelente capacidade de não pensar – ou de não ter capacidades cognitivas – quer porque os seus neurónios são poucos e de má qualidade, quer porque foram neutralizados por conteúdos difundidos via media, tipo Casa dos Segredos, Agora é que Conta, Ídolos, telenovelas quanto baste, futebol e sessões de lavagem cerebral levadas a cabo pelos postilhões de cada feudo. O Apaniguado repete slogans, e com isso se satisfaz. Exulta, se o seu Senhor ocupar o trono. Deprime-se, se o não conseguir. Para ele, o seu Senhor governa sempre bem. Já o Senhor alheio é sempre um governante nefasto. O Apaniguado é, nos tempos que correm, o mais perfeito paradigma do indivíduo acéfalo, isto é, do cidadão exemplar, que serve para trabalhar, pagar imposto e ver televisão. Em termos de argumentação, está habilitado a dizer a única coisa que conseguiu aprender: «Estes podem não prestar, mas os outros são iguais…». Que se saiba, é raro um Apaniguado conseguir concluir que todos os Senhores, incluindo o seu, são predadores naturais da espécie humana.

Embora os diversos feudos se confrontem pela conquista do trono, estabeleceram pactos e normas que conferem direitos inalienáveis a todos os Senhores e respectivos séquitos, pelo que dispõem, ao abrigo das leis (por si – e para isso – elaboradas), de pecúlios – bens e aforros – vedados aos entes comuns. Isto é: os Senhores podem apropriar-se das riquezas do reino praticamente sem limitações. Mesmo em caso de manifesto abuso ou desaforada ilegalidade, estão protegidos por um estatuto de impunidade que manieta a Justiça, sempre célere e eficaz quando o prevaricador é o vulgar cidadão, incluindo os Apaniguados, ou Devotos.

Existe um grupo heterogéneo de cidadãos que não se integram nesta estrutura política e social, embora também trabalhem e paguem impostos. São, no geral, considerados párias, irresponsáveis, obtusos e – porque não participam nas pugnas pelo trono – são tidos como culpados por qualquer coisa que corra menos bem. Ou muito mal. Ou pessimamente.

Apesar de laica, a Democracia obedece a um poder superior, cujo nome não gera consensos. Para uns, é a Economia de Mercado; para outros, é o Poder Económico, ou Capital Financeiro; há quem diga, como os Apaniguados, que «é a vida, o que é que se há-de fazer?».

E assim vai o reino dos Democratas…


(João Carlos Pereira)


Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 26/01/2011.
Não deixe de ouvir em 98.7 Mhz e participar pelos telefones 212277046 ou 212277047 todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

O CRIME E OS CRIMINOSOS

O gabinete do senhor primeiro-ministro gasta, por dia, 11.391 euros. Só Sócrates e o seu querido delfim, Pedro Silva Pereira, custam aos portugueses 4 milhões de euros ao ano. A presidência da república custa mais aos portugueses que a monarquia espanhola, com os seus príncipes e princesas, custa aos espanhóis. Mas a maioria dos criminosos fica em liberdade a aguardar julgamento, porque o legislador passou de três para cinco anos a pena para crimes que permitiam aos juízes aplicar a prisão preventiva. A razão é que não há dinheiro para sustentar tanto patife. E o crime violento disparou. Portugal é o paraíso dos patifes. E governam-se bem, especialmente os de colarinho branco e fatinho Armani...

Os medicamentos custam cada vez mais aos portugueses. Doentes crónicos, como os doentes oncológicos ou do foro neurológico, pagam, agora, exorbitâncias para poderem ter uma vida com alguma qualidade. Milhares de doentes, sobretudo idosos, só conseguem atenuar as suas maleitas devido à generosidade e compreensão das farmácias, onde o rol de fiados aumenta todos os dias. Em Portugal, um medicamento para doentes oncológicos (Capecitabina) custa 443,63 euros, enquanto em Espanha e França custa menos 100 e 95 euros, respectivamente. Se o medicamento, para a mesma doença for a Cladribina, o custo é de 1750 euros, mais 250 euros que em Espanha e França. Mas pagou-se a burla no BPN.

O país envelhece – e adoece – a cada dia que passa mas, em vez de aplicar políticas de apoio à natalidade, o governo corta o – ou no – abono de família.

Portugal perdeu mais de 390 mil hectares de área agrícola. Quem o diz é uma fonte insuspeita, o Instituto Nacional de Estatística, que acrescenta ter havido uma redução enorme de explorações e agricultores. Em consequência, somos obrigados a importar cada vez mais produtos alimentares, agravando a nossa dívida externa e obrigando-nos a consumir, em muitos casos, o refugo dos países a quem compramos. Porque fomos obrigados a viver de subsídios e a construir estradas e auto-estradas (cada vez mais desertas), andamos agora de mão estendida a pedir dinheiro emprestado, a juros asfixiantes, e preparados, mais dia, menos dia, para vermos entrar por aí os emissários dos credores. Não virão para resolver os nossos problemas, mas para garantir que vamos pagar a quem devemos. Com mais fome, mais desemprego, mais doença, mais morte.

Para fazer dinheiro, o governo vendeu ao desbarato as nossas melhores e mais lucrativas empresas – e agora, nem empresas nem dinheiro. Não podem dizer que não foram avisados das consequências. O PCP avisou.

Então, não foram os ordenados nem as pensões dos portugueses que levaram o país à ruína. Eles são os mais baixos da Europa. Não foi o preço dos medicamentos que delapidaram os cofres do estado, porque eles são dos mais caros da Europa. O que nos conduziu à situação que hoje vivemos, foi terem morto a capacidade produtiva do país. Foi esse o crime.

Falta o nome dos criminosos: todos os que nos governaram após o 25 de Novembro de 1975. De Mário Soares a Sócrates, passando por Cavaco e Durão, nenhum é inocente. E nenhum tem perdão, porque eles souberam sempre o que estavam a fazer.

Quem não sabe o que faz, é a maioria do povo. Está cada vez mais loira, como as eleições de domingo irão demonstrar.


(João Carlos Pereira)


Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 19/01/2011.
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quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

O POVO PORTUGUÊS É UMA LOIRA


Está interessante a campanha para as presidenciais. De alto nível. Os dois principais candidatos andam entretidos a falar – ou a mandar falar – dos podres um do outro. Alegre, entalado entre um PS – o seu PS – que conduziu o país à ruína, e um Bloco de Esquerda que nem do PS quer ouvir falar, parece ter percebido que a sua fanfarronice é chão que já deu uvas. É do PS, mas não quer que se saiba; não é do Bloco, mas quer fazer crer que até podia ser. E voto dos camaradas comunistas, que ele em tempos renegou – e hoje abjura – que venham às pazadas. Caíam que nem sopa no mel…

Fala grosso, diz palavras lindíssimas, como solidariedade, democracia e república, mas, no fundo, sempre esteve ao lado do bando cor-de-rosa. A solidariedade socialista e os seus valores democráticos e republicanos, sabemos nós o que são: chamam-se roubalhe
ira, corrupção, compadrio, amanhanço à má fila, tentativa de controlo da comunicação social e toda uma série de desmandos dignos do currículo de um enxofrado coronel das velhas Repúblicas das Bananas. E muita degeneração à mistura. Ciente da banhada que vai levar, pôs-se, a propósito do BPN, a atirar pedras a Cavaco. Até parece que não esteve cá no tempo – e já lá vão uns anitos – em que a coisa estoirou mesmo debaixo das barbas do seu querido camarada, o distraído Vítor Constâncio. Mais vale tarde, dirão os totós. E as loiras…

Cavaco, por seu lado, quer fazer crer que o BPN lhe passou ao lado, e que a pequena fortuna que lhe medrou no bolso, foi um mero – embora infeliz – acaso. Ele também nada sabia dos esquemas do BPN, como não percebe nada dessas coisas de aplicações financeiras, embora, valha a verdade, seja mesmo economista, com diploma passado a dia útil. Limpinho. E logo vem à baila a reforma de 600 contos que Alegre nem se lembrava que tinha, conseguida ao fim de seis longos
mesinhos a debitar palavrório no velho Rádio Clube Português. E para provar que o poeta anda mesmo mal da memória, aparece a história de um cheque que não foi cheque, mas sim dinheiro que foi devolvido – ou talvez não. Ou seja: que ele devolveu, por cheque, mas que não sabe se o cheque foi descontado, mas a verdade é que o valor veio contra a sua vontade – ou seria sem o seu conhecimento? – mas que ele, na realidade, não queria, isto é… Olhem: o poeta não percebe nada de dinheiro, nem de reformas, o seu mister são as letras, os poemas, os decassílabos, o verso branco e as palavras belas, como liberdade, solidariedade e outras coisas a acabar em ade, como fatalidade, que o é estar-se num partido – o PS – que acabou de afundar o país, e ser-se apoiado por esse partido. E – volto a lembrar – por outro partido que nem pode ver o PS. «Ké kisso tem?», perguntam as loiras deste país.

Cavaco, valha a verdade, percebe é de pobreza. Vejam lá que descobriu, há quinze dias, que a pobreza era uma vergonha. Fiquei elucidado. Infelizmente, ele chegou a Portugal – e, provavelmente, ao planeta Terra – há precisamente duas semanas. Foi pena. Ele devia ter estado cá quando um tal Aníbal Silva foi primeiro-ministro e, mais tarde, presidente da república.

Mas não faz mal. O povo português é mesmo loira…

Completamente loira.


(João Carlos Pereira)


Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 12/01/2011.
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