quarta-feira, 27 de abril de 2011

GENTE RICA É OUTRA COISA

Com o país feito num trapo e entregue aos prestamistas que nos vão levar couro e cabelo, o governo decretou umas mini férias da Páscoa, que o senhor primeiro-ministro aproveitou para abalar para uma escapadinha num hotel de luxo, como convém a alguém com o seu estatuto social e económico. Gente rica é outra coisa. Este é bem um exemplo, entre muitos outros, da mentalidade tacanha, pacóvia e profundamente irresponsável do bando tresloucado e sem vergonha que nos governa há seis anos. É claro que a salvação do país não estava em ter-se evitado a tolerância de ponto de quinta-feira santa, mas com os homens do FMI cá dentro, bem podia Sócrates e a respectiva seita terem começado a mostrar que alguma coisa a crise lhes tinha ensinado. Os elementos da troika devem ter olhado uns para os outros e comentado: perceberam agora como tudo aconteceu?

Imagine-se uma casa de família onde chegam os credores para avaliar os bens existentes e estudar soluções que a salvem da falência absoluta, mas a quem o dono da casa, chegado o fim-de-semana, lhes diz: «estejam à vontade, vejam o que quiserem, a casa é vossa, que nós vamos estar fora uns dias. Ah!, é verdade: parece que ainda há duas latas de sardinha na despensa. Passem muito bem». Foi o que Sócrates fez.

Como passei a Páscoa em casa, fiquei-me pela televisão e, naturalmente, fui até aos canais desportivos para ver o que
se ia passando. Dei com os olhos no estádio do Barcelona, a deitar por fora, mas o que me veio à ideia foi que aquele estádio já passou do meio século de vida – tem 54 anos – tal como o do Real Madrid, que tem 64. Contudo, os espanhóis já organizaram grandes competições internacionais de futebol, sem se terem metido nas loucuras em que nós, os mais pindéricos da Europa, nos metemos. Estádios novos, construímos oito: Benfica, Sporting, Porto, Braga, Coimbra, Leiria, Aveiro e Faro/Loulé. O número chega aos dez, se verificarmos que os estádios do Boavista e do Guimarães, sem terem sido construídos de raiz, a isso praticamente equivaleu.

Estes dois exemplos atestam a loucura, a irresponsabilidade criminosa e a vaidade congénita que estão no ADN da classe dirigente portuguesa. Se associarmos isso à mola detonadora de tudo o que é obra pública ou privada neste miserável país – e que é, muito singelamente, o que escorre para os bolsos dos mandantes de cada obra – temos os dados suficientes para perceber a quem estamos, há muito, entregues.

É deste ADN que o capital financeiro se aproveita para fazer de nós a rodilha que somos. Em vez de políticos sérios, patriotas, responsáveis, estadistas de corpo inteiro e dedicados ao povo e aos seus interesses, temos levado ao governo gente sem escrúpulos, aproveitadores infames do poder que lhes demos, irresponsáveis até à medula, desavergonhados das unhas dos pés à ponta dos cabelos. Um bando de criminosos, em suma. E – o que é assustador – parece que nos preparamos para mostrar ao mundo que continuamos a ser um refinando e contumaz bando de imbecis.

Mas não faz mal. O senhor engenheiro continua a poder ir de férias para hotéis de luxo, de vez em quando há um fim-de-semana prolongado e, principalmente, temos dez estádios de futebol lindíssimos.

Gente rica é outra coisa. Então não é?





(João Carlos Pereira)



Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 27/04/2011.


quarta-feira, 20 de abril de 2011

OS AGIOTAS



Se vires alguém com fome, não lhe dês um peixe. Ensina-o a pescar. Este adágio chinês vem mesmo a propósito do pedido de ajuda externa que o governo socialista do engenheiro Sócrates fez, em desespero de causa, para evitar o colapso total da nossa economia, triste corolário da sua tresloucada governação. O pior é que a ajuda externa nem sequer é a esmola do peixe. E, muito menos, ensinar a pescar. O que está a acontecer em Portugal é bem a prova disso, e explica-se em poucas palavras. Só não ficará a saber quem não quiser – e só não se indignará quem achar que os povos devem ser manadas de carneiros toda a vida.

Quando um país pede ajuda externa, quais são as condições que logo lhe são impostas pelos investidores? Sempre as mesmas: redução da despesa, através dos despedimentos, cortes de salários e pensões, diminuição ou eliminação de prestações sociais. E para além de passarem a ganhar menos, as pessoas também vêem reduzido – ou mais caro – o acesso à Saúde, à Educação e à Justiça. E não basta reduzir a despesa, é também necessário aumentar a receita. Por isso, sobem os impostos, as cargas horárias aumentam, intensificam-se os ritmos de produção e sobem os preços dos bens e serviços. Conclusão? Milhões de pessoas pagam as loucuras da governação, o que equivale, em termos de economia doméstica, a pôr toda a família a passar fome e a dormir ao relento, apenas porque, para além de não se ter rendimentos para uma vida decente, esses poucos rendimentos foram esbanjados, por quem governa a casa, em despesas supérfluas. Que estas receitas não resolvem o problema, já todos devíamos ter percebido, na medida em que não foi a primeira vez que esta ajuda foi pedida. E, se não mudarmos de vida – isto é: de políticas – não será a última. Qual a receita, então? Aprender a pescar, como é óbvio.

Mas aprender a pescar não interessa aos usurários – ou seja, os senhores investidores, no linguajar do senhor Cavaco Silva. Nem interessa aos países que nos vendem o aço, o leite, o trigo, o peixe, a carne, a fruta, os legumes, a roupa e tudo aquilo que é essencial à nossa vida. Dizem-nos para sermos mais competitivos, ao seja, para produzirmos o que já produzimos, mas a preços mais baixos. Em língua de gente, querem dizer apenas isto: produzam mais e melhor por salários cada vez mais pequenos.

O que eu gostaria era que os senhores investidores nos dissessem assim: vamos financiar-vos para vocês desenvolveram a vossa agricultura, as vossas pescas, a vossa agropecuária, a vossa indústria e todas as vossas infra-estruturas produtivas. Vocês devem passar a produzir a maior parte do que precisam, porque assim é que o vosso défice baixa de forma sustentada. Vocês não podem livrar-se dos credores se não produzirem mais riqueza, isto é, se não ganharem o suficiente para sustentar a vossa casa. Vá lá, tomem juízo, deitem-se ao trabalho e, principalmente, dividam bem a riqueza que produzirem.

Não! Isto, os senhores investidores não dizem, nem a senhora Merkel, nem o senhor Sarkozy. Porque não são malucos; porque não se mata a galinha dos ovos de ouro. E também não é isto que querem os «patriotas» que nos governam, que se sujeitaram a reduzir à expressão mais simples o nosso aparelho produtivo, para podermos ser uns pindéricos parceiros do clube europeu. Como ninguém quer que a riqueza seja justamente distribuída, porque os bancos precisam que os indígenas dependam do crédito para irem sobrevivendo. E distribuir melhor a riqueza significaria reduzir os lucros dos agiotas e de toda a corte de parasitas que têm ao seu serviço.

Perceberam agora porque é que as coisas estão como estão?




(João Carlos Pereira)




Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 20/04/2011.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

O TRUÃO



O truão não tem emenda. Também quem a teria, se tivesse 33% das intenções de voto? Faz ele muito bem. E não me venham dizer que esses 33% são todos da rapaziada dos tachos, dos jobs. Não são. Eles são muitos, mas não são tantos. O povo português é que é mesmo estúpido. É burro que nem uma porta. Na Europa, talvez só o italiano se lhe compare. Mas é o que temos, não é?

O truão chegou ao congresso e declarou que a culpa da crise e do pedido de ajuda externa não é dele, nem do PS. Pois não. É da oposição. Afinal, o PS, nos últimos 16 anos, só governou 13. Nos últimos 6 anos, o PS, com Sócrates, só governou 6! É pouco, mesmo tendo em atenção que 4 deles foram com maioria absoluta. O que é que um génio pode fazer nestas condições? Nada, não é? Depois de 3 PEC’s e um OGE que não resolveram a crise – por culpa da oposição, claro – o iluminado inventou mais um PEC – o quarto – que esse, sim, é que era. Mas a malvada da oposição não percebeu a maravilha milagrosa que ali estava, e pumba! Não se faz.



Quem topa bem o truão, é D. Manuel Martins, antigo bispo de Setúbal. Disse ele, numa entrevista à Antena 1:

«Vejo esta crise com muita apreensão, com muito desgosto, com alguma vergonha. Estou convicto que esta crise era evitável se à frente do país estivessem pessoas competentes, isentas, pessoas que não se considerassem responsáveis por clubes, mas que se considerassem responsáveis por todo um povo, cuja sorte depende muito deles. E eu fico muito irritado quando, por parte desses senhores, que nós escolhemos e a quem pagamos generosamente, vejo justificar que esta crise impensável por que estamos a passar, é resultante de uma crise mundial. Há pontas de verdade nesta justificação. Esta crise, embora agravada por situações internacionais, é uma crise que já podia ter sido debelado por nós há muito tempo, se nós não andássemos a estragar o dinheiro que precisávamos para o pão de cada dia», acrescentando que o povo português, que estava numa situação de desgosto, de medo, de gente perdida, está agora a deixar criar dentro de si um sentimento de raiva muito perigoso.

Para D. Manuel Martins, «estas situações, da maneira como estão a ser agravadas e, sobretudo, da maneira como estão a ser mal resolvidas, podem ser focos muito perigosos de um incêndio que em qualquer momento pode surgir e conduzir a uma confrontação e a uma desobediência civil generalizadas».

Sem papas na língua, continuou: «Mete-me uma raiva especial quando vejo o governo a justificar as suas políticas e as suas preocupações de manter e conservar e valorizar o estado social do país. Pois se há alguém que esteja a destruir o estado social do país, é o governo, com o que se passa a nível da saúde, a nível da educação, a nível da vida das famílias, dos impostos, dos remédios, mas que tem só atingido as pessoas menos capazes, enfim as pessoas que andam no chão, as pessoas que estão cada vez com mais dificuldades em viverem o dia-a-dia, precisamente por causa destas medidas do governo».

Depois, D. Manuel Martins ainda quis tocar numa das maiores chagas da governação socialista. «A política é uma arte nobre, mas o que nós vemos é a política depois incarnada em determinadas pessoas, cujo interesse é promoverem-se, e promoverem os parentes, e os amigos, e os parentes dos parentes, e os parentes dos amigos».

Caramba! Depois disto, se eu fosse socialista e tivesse um pingo de inteligência e vergonha na cara, nunca mais queria ouvir falar em Sócrates nem no Partido Socialista.




(João Carlos Pereira)



Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 13/04/2011.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

CRIME, DIGO EU


Com os títulos da dívida pública portuguesa a serem classificados, praticamente, como lixo, os bancos nacionais que os compraram não podem dá-los como garantia de crédito, junto do Banco Central Europeu, para conseguirem novos financiamentos. Com os portugueses de tanga – ou já sem ela – e, por isso, sem dinheirinho para a bucha, quanto mais para depositar nos bancos, a banca portuguesa vai deixar de poder continuar a comprar títulos do Estado, depois da banca estrangeira também ter fechado a torneira.

Pouco a pouco, os portugueses vão percebendo o enorme buraco que aí está. No Metro do Porto, já se admite não pagar salários no final do mês de Abril. Por todo o lado faltam verbas para as necessidades mais básicas. O país produz cada vez menos, vítima da integração na maravilhosa Europa dos ricos. Sob a regência do senhor engenheiro, temos vindo, alegremente, a contrair dívidas para pagar dívidas anteriores e respectivos juros. Para que se veja a qualidade dos patifes que gerem as finanças nacionais, recordo-lhes que esse penedo que passa por ministro das Finanças, garantia, há tempos, que seria obrigado a pedir ajuda internacional no dia em que os juros que pagamos passassem dos 7%. Já bateram nos 9%. E ele continua por aí, de braço dado com o engenheiro-chefe, a atirar o país para o mais fundo dos abismos.

Outra coisa que se ficou a saber – os que ainda não sabiam – é que o governo viciou as contas, enganou conscientemente, com dados falsos, o povo português e, com requintes de descaramento – uma das especialidades de Sócrates –, até aos burocratas de Bruxelas tentou enfiar o barrete. Os défices anteriores nada têm a ver com a realidade. Isto é: não estamos perante puros incompetentes chapados. Estamos perante vigaristas puros. Criminosos. Delinquentes. Gostaria de saber o que pensam disto – se é que pensam alguma coisa – os fiéis do senhor engenheiro.


O país, agredido por este bando contumaz de salafrários, está moribundo. Agoniza. Para que não morra, o povo vai ser chamado a escolher, pelo voto, os seus salvadores. Pelo que se ouve e lê, a escolha vai recair naqueles que o estão a matar. Brilhante! Gostava de saber se um eleitor socialista – ou social-democrata – ficasse entre a vida e a morte por ter sido mal avaliado – e pior tratado – por um médico, a ele voltaria para que o curasse. Se fosse completamente louco – ou muito estúpido – acredito que sim.

Mas o povo português é manso e lerdo. E louco. O engenheiro garante que está inocente neste descalabro, e que só ele sabe como salvar o país. E os fiéis socialistas acreditam. O PSD garante que nada tem a ver com a crise, mas que tem, agora, a receita para os nossos males. E os fiéis do PSD acreditam. E se eu perguntar a esses portugueses: se aqueles que nos têm governado – PS, PSD e CDS/PP – não são culpados desta situação, então, quem é? E se têm, agora, as receitas para a doença, porque não as aplicaram antes? Porque fugiu Guterres? E Durão? E porque forçou Sócrates a sua saída?

Não sabem responder. Só sabem votar, com os resultados que estão à vista.

Meus senhores. Tanta estupidez também é crime.



(João Carlos Pereira)


Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 06/04/2011.