O país respirou de alívio. Depois de negociações verdadeiramente dramáticas, o OGE vai passar. Muito obrigado, PS, Obrigadíssimo, PSD. Com este OGE, Portugal vai salvar-se da bancarrota, reconquistar o prestígio internacional e abrir o caminho a um futuro finalmente radioso. Ou, pelo menos, tranquilo e estável. A crise foi vencida. Aleluia!
Não houve retrato de família, com Sócrates e Passos Coelho ao centro – ou a dançar o tango – mas houve, mais singelamente, uma linda foto de Eduardo Catroga e Teixeira dos Santos, recolhida pelo telemóvel do antigo ministro das finanças, onde se fixa para o posteridade o momento histórico, quiçá o mais relevante da história contemporânea, logo a seguir ao segundo lugar da selecção nacional no Euro 2004. Comovente. Eu próprio, que sou um verdadeiro pedregulho, chorei que nem uma Madalena.
Apenas me ficou uma dúvida. Se toda a gente detinha – dos governantes actuais aos governantes passados, como é o caso do mesmo senhor Catroga – as receitas para salvar o país e transformá-lo, pelo menos, numa coisa menos fétida, porque se deixou chegar o doente ao estado a que chegou? Desconfio que nenhum destes sábios salvadores da pátria sabe a resposta. Ou, se a sabe – o que é mais certo – prefere guardar um prudente silêncio.
Falemos, então, do futuro que nos espera com o novo OGE – e desculpem qualquer coisinha, mas não sou catedrático em finanças, como os senhores Catroga e Teixeira dos Santos:
Em primeiro lugar, o défice vai ser reduzido porque os portugueses que trabalham – e ganham cerca de metade do que ganham os trabalhadores da Zona Euro – vão ganhar ainda menos.
Em segundo lugar, porque os gestores portugueses, que ganham mais 32% do que os americanos, mais 22,5% do que os franceses, mais 55 % do que os finlandeses e mais 56,5% do que os suecos, vão continuar assim.
Em terceiro lugar, porque o desemprego vai aumentar, a fome também, as dívidas vão acumular-se, o crédito malparado vai disparar, as falências upa, upa, a economia definhará, a violência e a insegurança escalarão para níveis insuportáveis em consequência da miséria galopante, e todos os indicadores económicos e sociais cairão a pique. Tudo coisas menores.
Em quarto lugar, porque muitos idosos e pessoas com graves problemas de saúde serão dispensadas de viver mais tempo do que aquele que lhes estava destinado, o que significará uma poupança significativa para os cofres do Estado. E, em termos estatísticos, uma acentuada melhoria no que respeita à saúde dos portugueses e ao progressivo envelhecimento da população. Menos doentes, menos velhos – e sem recorrer a câmaras de gás.
Em quinto lugar, porque os jovens abandonarão mais cedo os seus estudos, transformando-se em mão-de-obra barata e acessível para todos os tipos de trabalho e para os horários que, a bem da economia, lhes forem impostos.
Parabéns, PS. Parabéns, PSD. Um país roto e faminto, mas grato pela vossa competência, agradece o esforço. E até acha que não merecia tanto.
Chocalham de riso os ossos de Salazar. Mas isso só os mais velhos ouvem.
Não houve retrato de família, com Sócrates e Passos Coelho ao centro – ou a dançar o tango – mas houve, mais singelamente, uma linda foto de Eduardo Catroga e Teixeira dos Santos, recolhida pelo telemóvel do antigo ministro das finanças, onde se fixa para o posteridade o momento histórico, quiçá o mais relevante da história contemporânea, logo a seguir ao segundo lugar da selecção nacional no Euro 2004. Comovente. Eu próprio, que sou um verdadeiro pedregulho, chorei que nem uma Madalena.
Apenas me ficou uma dúvida. Se toda a gente detinha – dos governantes actuais aos governantes passados, como é o caso do mesmo senhor Catroga – as receitas para salvar o país e transformá-lo, pelo menos, numa coisa menos fétida, porque se deixou chegar o doente ao estado a que chegou? Desconfio que nenhum destes sábios salvadores da pátria sabe a resposta. Ou, se a sabe – o que é mais certo – prefere guardar um prudente silêncio.
Falemos, então, do futuro que nos espera com o novo OGE – e desculpem qualquer coisinha, mas não sou catedrático em finanças, como os senhores Catroga e Teixeira dos Santos:
Em primeiro lugar, o défice vai ser reduzido porque os portugueses que trabalham – e ganham cerca de metade do que ganham os trabalhadores da Zona Euro – vão ganhar ainda menos.
Em segundo lugar, porque os gestores portugueses, que ganham mais 32% do que os americanos, mais 22,5% do que os franceses, mais 55 % do que os finlandeses e mais 56,5% do que os suecos, vão continuar assim.
Em terceiro lugar, porque o desemprego vai aumentar, a fome também, as dívidas vão acumular-se, o crédito malparado vai disparar, as falências upa, upa, a economia definhará, a violência e a insegurança escalarão para níveis insuportáveis em consequência da miséria galopante, e todos os indicadores económicos e sociais cairão a pique. Tudo coisas menores.
Em quarto lugar, porque muitos idosos e pessoas com graves problemas de saúde serão dispensadas de viver mais tempo do que aquele que lhes estava destinado, o que significará uma poupança significativa para os cofres do Estado. E, em termos estatísticos, uma acentuada melhoria no que respeita à saúde dos portugueses e ao progressivo envelhecimento da população. Menos doentes, menos velhos – e sem recorrer a câmaras de gás.
Em quinto lugar, porque os jovens abandonarão mais cedo os seus estudos, transformando-se em mão-de-obra barata e acessível para todos os tipos de trabalho e para os horários que, a bem da economia, lhes forem impostos.
Parabéns, PS. Parabéns, PSD. Um país roto e faminto, mas grato pela vossa competência, agradece o esforço. E até acha que não merecia tanto.
Chocalham de riso os ossos de Salazar. Mas isso só os mais velhos ouvem.
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(João Carlos Pereira)
Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 03/11/2010.
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