A fúria privatizadora tomou conta do governo. A esse propósito, uso as palavras de Saramago, quando soube que um ladrão, corrupto e assassino que governava o Peru, chamado Fujimori, até as zonas arqueológicas do país queria entregar aos privados. Escreveu, na altura, Saramago:
«A mim parece-me bem. Privatize-se Machu Picchu, privatize-se Chan Chan, privatize-se a Capela Sistina, privatize-se o Pártenon, privatize-se o Nuno Gonçalves, privatize-se a Catedral de Chartres, privatize-se o Descimento da Cruz, de Antonio da Crestalcore, privatize-se o Pórtico da Glória de Santiago de Compostela, privatize-se a Cordilheira dos Andes, privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E, finalmente, para florão e remate de tanto privatizar, privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional. Aí se encontra a salvação do mundo... E, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos.»
Podia ficar por aqui, mas sempre acrescento qualquer coisa.
Admite, caro leitor, que tens uma casa com terreno à volta, onde produzes géneros alimentares, crias galinhas, uma vaca, há um furo de água, um forno para fazer pão, fogão, e microondas. De repente, alguém te diz que o melhor para ti era vender o terreno, a vaca, as galinhas, o forno, o fogão, o microondas e o furo de água. Sem fogão, sem microondas, sem leite, sem ovos, sem fruta, sem legumes, sem cereais, sem água e sem pão, passarias a comprar tudo aquilo que agora tens, com melhor qualidade e muito mas barato.
Se, caro leitor, uns figurões quaisquer te fizessem essa proposta, o que é que tu os mandavas fazer?
Cá para mim, exactamente a mesma coisa que Saramago sugeriu: que pusessem eles à venda as rameiras que os deitaram ao mundo.
«A mim parece-me bem. Privatize-se Machu Picchu, privatize-se Chan Chan, privatize-se a Capela Sistina, privatize-se o Pártenon, privatize-se o Nuno Gonçalves, privatize-se a Catedral de Chartres, privatize-se o Descimento da Cruz, de Antonio da Crestalcore, privatize-se o Pórtico da Glória de Santiago de Compostela, privatize-se a Cordilheira dos Andes, privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E, finalmente, para florão e remate de tanto privatizar, privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional. Aí se encontra a salvação do mundo... E, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos.»
Podia ficar por aqui, mas sempre acrescento qualquer coisa.
Admite, caro leitor, que tens uma casa com terreno à volta, onde produzes géneros alimentares, crias galinhas, uma vaca, há um furo de água, um forno para fazer pão, fogão, e microondas. De repente, alguém te diz que o melhor para ti era vender o terreno, a vaca, as galinhas, o forno, o fogão, o microondas e o furo de água. Sem fogão, sem microondas, sem leite, sem ovos, sem fruta, sem legumes, sem cereais, sem água e sem pão, passarias a comprar tudo aquilo que agora tens, com melhor qualidade e muito mas barato.
Se, caro leitor, uns figurões quaisquer te fizessem essa proposta, o que é que tu os mandavas fazer?
Cá para mim, exactamente a mesma coisa que Saramago sugeriu: que pusessem eles à venda as rameiras que os deitaram ao mundo.
(João Carlos Pereira)
Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 27/07/2011.