quarta-feira, 14 de março de 2012

BANCO DOS RÉUS COM ELES



O senhor Geir Haarde, ex-primeiro-ministro da Islândia, está a ser julgado por negligência na gestão do país, já que durante a sua governação a economia entrou em colapso e colocou o país numa situação dramática, semelhante, aliás, às que enfrentam a Grécia e Portugal. Verdade se diga, que não deveria ser apenas este senhor a responder pela crise, pois os governos anteriores, igualmente direitistas e de cariz marcadamente neo-liberal, abriram o caminho ao descalabro.

Tal como cá, foi gente de direita que afundou o país, mas ao contrário dos portugueses, os islandeses recusaram pagar dívidas que não eram suas. Esta é a diferença entre um povo consciente e culto, que sabe o que significa a palavra cidadania, e um rebanho de carneiros enfeudados a partidos que os usam para lhes salvaguardarem as costas e abastecerem os tachos, reduzindo-os, assim, a meros pagadores do banquete a que, depois, dão o nome de crise.

Na Islândia, baniram-se os figurões e os partidos que, tradicionalmente entrincheirados no poder que o voto lhes deu, destruíram a economia do país, designadamente a partir de 2008, não por geração espontânea, saliente-se, mas resultante do desvairo neoliberal a que o governo, vassalo dos famigerados mercados/investidores, sujeitou o país.

Tal como cá, a fúria privatizadora foi a espoleta que acelerou o descalabro. Em causa estiveram, principalmente, a privatização das quotas de pesca, que canalizou para as mãos dos armadores fortunas fabulosas, fuga de capitais para o estrangeiro, em prejuízo do investimento nacional, e a privatização desastrosa dos bancos, feita sempre com base no clientelismo e oleada com a fatal corrupção. A tudo se juntaram esquemas do tipo BPN, onde uma onda de concessão de créditos bancários, sem critérios nem garantias, causou, a nível nacional, o caos que a bolha imobiliária e o subprime provocaram nos EUA e, depois, no mundo inteiro.

A resposta dos islandeses à crise foi lúcida, corajosa e, principalmente, plena de dignidade. Recusaram os caminhos impostos pela União Europeia e procuram soluções estritamente nacionais. Sofrem, naturalmente, os efeitos de uma forte austeridade económica e de uma acentuada quebra no consumo, mas conseguiram salvaguardar o Estado social, o desemprego está em 7%, e as entidades patronais não foram além de limitar o trabalho extraordinário.


Se os portugueses sentarem no banco dos réus TODOS os políticos que governaram o país no últimos 35 anos, os banirem, de vez, da cena política e, simultaneamente, se livrarem da canga partidária que os leva, eleição após eleição, a eleger contra-natura os seus algozes, estarão a dar os passos necessários para que Portugal seja, realmente, um país livre e democrático.

Um país verdadeiramente livre e democrático, e não o coito de chulos e vendilhões da pátria que tem sido nas últimas décadas.







Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 14/03/2012.

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