quarta-feira, 7 de março de 2012

O MUNDO IDEAL

Quem governa a Grécia já não é um primeiro-ministro saído do voto popular. Idem para a Itália. Num e noutro caso, foram os senhores investidores que mandaram pôr à frente dos governos grego e italiano, através da União Europeia e do FMI, homens da sua confiança. Até agora, quando se queria conquistar um país – ou seja: arrebanhar as suas riquezas – arranjava-se um pretexto qualquer, do género existência de armas de destruição maciça, violação dos direitos humanos, enfim, coisas destas, e vá de arrasar aquilo à bomba, mas sem tocar nas riquezas cobiçadas, tipo poços de petróleo. Isto ainda é necessário quando o país em causa não se deixou ir na conversa de sujeitar a sua estrutura económica às maravilhas da economia de mercado, aceitando desenvolver-se à custa de generosos empréstimos, dando como aval a nação inteira, povo incluído, casos da Líbia e da Síria e, muito provavelmente, do Irão, assim que houver condições.

Mas nas sociedades civilizadas, democráticas, bem comportadas e respeitadoras dos direitos humanos, já não é necessário usar a força das armas para deitar a mão a um qualquer país, como fez, aqui há uns anos, um tipo de bigode esquisito. Poupa-se em armas, poupa-se em homens e poupa-se em chatices, porque há sempre quem não compreenda estas cruzadas libertadoras. É, pois, mais barato e muito mais lucrativo. Depois, como já não existe, praticamente, nenhuma riqueza natural que não tenha sido devidamente arrebanhada – isto é: que já não seja propriedade dos senhores investidores – há que conseguir novas fontes de lucro, e nada melhor, para o efeito, que ir, muito legal e democraticamente, aos bolsos dos cidadãos – aos resultados do seu trabalho.
Agora, em vez de tiros, bombardeia-se um país com crédito: gaste agora, pague depois. Seja feliz enquanto é vivo. Papandreus, Berlusconis, Soares, Aznares e Gonzalez, Guterres e Sócrates, Merkeles e Sarkozis, Durões e Cavacos, prestimosos, curvam a espinha e assinam – ou assinaram – as livranças. É o Eldorado que lhes permite ganhar eleições e distribuir o dinheiro fácil pelos respectivos bandos partidários e elites financeiras locais.

Um dia, o investidor bate à porta e apresenta a factura. Pode passar por cá para a semana? Posso, mas com uma factura maior. E ou resolves isso, ou ponho cá um vice-rei no teu lugar.

Pois é: eles já não põem um país a ferro e fogo. Nem usam câmaras de gás. Nada disso. Os investidores são pessoas finas, civilizadas, de mãos limpas. E, acima de tudo, são pessoas muito práticas.

Tanto, que um dia destes nem precisamos de eleições. Nem de Constituição. Nem de governo.

Coitado do Hitler. Não percebia mesmo nada de economia…








Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 07/03/2012.


1 comentário:

Anónimo disse...

Ao pé destes gajos o Hitler era um santo.