quarta-feira, 11 de abril de 2012

SUICIDÊMO-LOS, ANTES QUE ELES NOS SUICIDEM


Um pensionista grego suicidou-se à frente do parlamento, em Atenas, devido à degradação da sua situação económica. O homem, um farmacêutico de 77 anos, gritou: “Tenho dívidas, não aguento mais! Não quero deixar as dívidas ao meu filho”. E deu um tiro na cabeça.

A polícia divulgou um bilhete deixado pelo pensionista, onde este atribuiu à crise económica e ao governo as razões para decidir pôr fim à vida. Nele, o pensionista escreveu que o governo “eliminou qualquer esperança de sobrevivência”, acrescentando que este era o único “final digno, para não ter de começar a remexer o lixo para conseguir comida”.

Em Portugal, talvez porque somos infinitamente mais mansos e imensamente mais estúpidos – a maioria até acha que a crise não é culpa de ninguém, muito menos dos governantes e dos senhores capitalistas – ainda ninguém decidiu suicidar-se à frente da Assembleia da República, forma de conferir ao acto alguma utilidade. Não: prefere-se fazê-lo sem espalhafatos e sem proveito.
Mas a verdade é que as mortes por suicídio, em Portugal, ultrapassaram, pela primeira vez, os óbitos provocados por acidentes rodoviários. Números do Instituto Nacional de Estatística dizem-nos que ocorreram, em Portugal, 1.101 óbitos «por lesões auto-provocadas voluntariamente», mais 86 do que as mortes registadas em acidentes nas estradas durante igual período, dizendo o director do Plano Nacional de Saúde Pública, que os casos de suicídio são muito superiores aos que as estatísticas apontam.

Segundo o DN, face a estes números, o governo decidiu antecipar a criação de uma comissão que vai desenvolver o programa de prevenção dos suicídios. Esta medida segue-se a um alerta da Comissão Europeia e da Organização Mundial de Saúde para o aumento das depressões em situações de crise.

Se o governo me permite uma sugestão, ela aqui vai: a melhor medida para esse programa de prevenção dos suicídios provocados pela crise, seria a do governo suicidar-se em bloco, numa bela cerimónia transmitida em directo pela TV, em horário nobre.
E se o não fizer, mais dia, menos dia, alguém vai ter que os suicidar. Porque já se diz por aí, à boca cheia, que isto às boas não vai lá.

Coisas lindas, as metáforas.










Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 11/04/2012.

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