Os
pardais e os abutres
Hoje vou contar-vos uma história
verdadeiramente macabra
Um amigo meu, que adora o PSD, o Passos, o Gaspar, o Borges, o Relvas e tutti
quanti estejam a esfrangalhar Portugal para o passar a patacos ao Goldman
& Sachs e a outros marmanjões do Grupo Bilderberg, acha que eu sou imbecil
por não concordar com as políticas que ele defende e que, como sabemos, são
excelentes, basta olhar para os resultados.
A propósito do salário mínimo dos diversos países, reencaminhei há dias
um e-mail onde destacava o salário mínimo nacional pela sua exiguidade,
comentando eu, imbecil, que até o da Grécia era, depois de todos os cortes,
superior ao nosso. Tanto bastou para que o génio – sim, o meu amigo é um génio
– me criticasse nestes termos (geniais):
«… e assim se percebe como é
que os gregos foram à falência: "dar milho aos pardais", não é
difícil. O difícil é pagar a conta. Por cá atira-se a responsabilidade da
falta de produtividade para os patrões e governos. A velha treta comunista ...
»
Infere-se
daqui, desta genial tirada, que os baixos salários portugueses – quer o mínimo,
quer o médio – são o «milho» que os trabalhadores (perdão, os «pardais»)
meteram no papo e que levaram o país à crise. Este meu amigo é técnico
municipal e ainda – diz ele – se farta de trabalhar «por fora».
Não sei
quanto milho come, nem sei se ele se considera um pardal. Ou um pardalão. Sei é
que ele acha que foram os salários mais pindéricos da Europa que deram cabo do
país.
Citando o
Scolari: E o imbecil sou eu?!
Certamente.
Se me tivesse arrimado ao partido certo, andava de papo cheio e a acusar os
outros de terem dado cabo disto.
E sabem
uma coisa? Gosto muito de ser imbecil.
Este
desvelado partidário do PSD e das suas políticas neoliberais acha, então, que
Portugal está como está porque os pardais (o povo) tiveram milho (dinheiro) a
mais. Não se refere aos grandes abutres, mas aos pardalitos dos salários e
pensões mínimos e à volta disso. A escumalha. Para ele, não há PPPs, não há
golpadas, não há sacos azuis, laranjas, cor-de-rosa, luvas brancas nem
colarinhos da mesma cor. Não há corrupção, incompetência, negócios ruinosos e,
sobretudo, não há o alibi da crise para justificar o roubo de salários e
prestações sociais.
As
golpadas de Duarte Lima, que vão ser pagas pelos
contribuintes portugueses, não aquecem nem arrefecem o extremoso partidário
laranja. Para já, 32 milhões é a parte que o Estado assume na golpada com os
financiamentos do ex-deputado do PSD no BPN. Entretanto, o senhor já não tem
nada em seu nome. Só uma pulseira electrónica, por acaso também paga por nós.
No
BPN,
conforme diz o insuspeito João Marcelino, estamos a pagar «o maior escândalo financeiro da história de Portugal. Nunca
antes houve um roubo desta dimensão. Para já, tapado por uma nacionalização que
já custou 2.400 milhões de euros delapidados algures entre gestores de fortunas
privadas em Gibraltar, empresas do Brasil, offshores de Porto Rico, um oportuno
banco de Cabo Verde e a voracidade de uma parte da classe política portuguesa
que se aproveitou desta vergonha criada por figuras importantes daquilo que foi
o cavaquismo na sua fase executiva». Nada
disto o comove o militante social-democrata, nada disto o preocupa.
Oliveira e Costa, o cabeça-de-turco do BPN, vai morrer um dia destes
e, convenientemente, vai ser o único responsável pelo crime. Também já não tem
nada em seu nome. E para que teria? Não estão cá os pardais para pagar a conta?
Claro. Os pardais e o milho que comem - que é milho que semeiam e colhem – é
aquilo que preocupa o tal cavalheiro, como se, bem vistas as coisas, ele também
não fosse um mísero pardal.
Olhando para este país e para portugueses como este, conseguimos
perceber como medraram Hitler e Pinochet e, ao fim e ao cabo, como é fácil
arranjar lacaios nos dias que correm.
1 comentário:
com amigos desses... mas seja bem aparecido!
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