quinta-feira, 13 de dezembro de 2012


Os pardais e os abutres

 
Hoje vou contar-vos uma história verdadeiramente macabra
Um amigo meu, que adora o PSD, o Passos, o Gaspar, o Borges, o Relvas e tutti quanti estejam a esfrangalhar Portugal para o passar a patacos ao Goldman & Sachs e a outros marmanjões do Grupo Bilderberg, acha que eu sou imbecil por não concordar com as políticas que ele defende e que, como sabemos, são excelentes, basta olhar para os resultados.
A propósito do salário mínimo dos diversos países, reencaminhei há dias um e-mail onde destacava o salário mínimo nacional pela sua exiguidade, comentando eu, imbecil, que até o da Grécia era, depois de todos os cortes, superior ao nosso. Tanto bastou para que o génio – sim, o meu amigo é um génio – me criticasse nestes termos (geniais):
«… e assim se percebe como é que os gregos foram à falência: "dar milho aos pardais", não é difícil. O difícil é pagar a conta. Por cá atira-se a responsabilidade da falta de produtividade para os patrões e governos. A velha treta comunista ... »
Infere-se daqui, desta genial tirada, que os baixos salários portugueses – quer o mínimo, quer o médio – são o «milho» que os trabalhadores (perdão, os «pardais») meteram no papo e que levaram o país à crise. Este meu amigo é técnico municipal e ainda – diz ele – se farta de trabalhar «por fora».
Não sei quanto milho come, nem sei se ele se considera um pardal. Ou um pardalão. Sei é que ele acha que foram os salários mais pindéricos da Europa que deram cabo do país.
Citando o Scolari: E o imbecil sou eu?!
Certamente. Se me tivesse arrimado ao partido certo, andava de papo cheio e a acusar os outros de terem dado cabo disto.
E sabem uma coisa? Gosto muito de ser imbecil.
Este desvelado partidário do PSD e das suas políticas neoliberais acha, então, que Portugal está como está porque os pardais (o povo) tiveram milho (dinheiro) a mais. Não se refere aos grandes abutres, mas aos pardalitos dos salários e pensões mínimos e à volta disso. A escumalha. Para ele, não há PPPs, não há golpadas, não há sacos azuis, laranjas, cor-de-rosa, luvas brancas nem colarinhos da mesma cor. Não há corrupção, incompetência, negócios ruinosos e, sobretudo, não há o alibi da crise para justificar o roubo de salários e prestações sociais.
As golpadas de Duarte Lima, que vão ser pagas pelos contribuintes portugueses, não aquecem nem arrefecem o extremoso partidário laranja. Para já, 32 milhões é a parte que o Estado assume na golpada com os financiamentos do ex-deputado do PSD no BPN. Entretanto, o senhor já não tem nada em seu nome. Só uma pulseira electrónica, por acaso também paga por nós.
No BPN, conforme diz o insuspeito João Marcelino, estamos a pagar «o maior escândalo financeiro da história de Portugal. Nunca antes houve um roubo desta dimensão. Para já, tapado por uma nacionalização que já custou 2.400 milhões de euros delapidados algures entre gestores de fortunas privadas em Gibraltar, empresas do Brasil, offshores de Porto Rico, um oportuno banco de Cabo Verde e a voracidade de uma parte da classe política portuguesa que se aproveitou desta vergonha criada por figuras importantes daquilo que foi o cavaquismo na sua fase executiva». Nada disto o comove o militante social-democrata, nada disto o preocupa.
Oliveira e Costa, o cabeça-de-turco do BPN, vai morrer um dia destes e, convenientemente, vai ser o único responsável pelo crime. Também já não tem nada em seu nome. E para que teria? Não estão cá os pardais para pagar a conta? Claro. Os pardais e o milho que comem - que é milho que semeiam e colhem – é aquilo que preocupa o tal cavalheiro, como se, bem vistas as coisas, ele também não fosse um mísero pardal.
Olhando para este país e para portugueses como este, conseguimos perceber como medraram Hitler e Pinochet e, ao fim e ao cabo, como é fácil arranjar lacaios nos dias que correm.

1 comentário:

Anónimo disse...

com amigos desses... mas seja bem aparecido!