– Uma questão de moral
Parece ser de bom-tom – e politicamente correcto – que se evite falar no temperamento e carácter dos políticos, como se um político não fosse, exactamente, um produto daquilo que é como indivíduo. Mas não. Diz-se por aí que o político deve ser apenas avaliado enquanto tal – ou seja: pelo que propõe fazer, faz, ou deixa de fazer pelo seu país – e que a sua índole está fora de questão.
Esta libertina opinião tem vindo a fazer escola nos últimos tempos, muito especialmente depois dos vários escândalos em que o nome de José Sócrates aparece envolvido. Dizem essas almas puras e bem pensantes – e, provavelmente, ainda melhor pagas – que o importante é debater ideias e princípios programáticos, para que o povo possa escolher as melhores soluções de governação, pondo de lado a craveira moral de quem as emite e propõe concretizá-las. Não dizem, mas está implícito nesta licenciosa perspectiva, que qualquer crápula pode merecer a confiança popular, pois o fundamental é o seu discurso político. As suas ideias. Ou, se quisermos, a sua capacidade de manipulação. É assim em Itália; parece ser assim em Portugal.
Peço licença para discordar, mas não vou por aí. Não me basta saber o que cada um destes cavalheiros pretende, mesmo que não soubesse, como sei, de cor e salteado, o que propõem. Para mim, é importante saber se um candidato a governar o meu país, ou a ocupar um qualquer lugar no aparelho do Estado, é uma pessoa decente e confiável, ou não passa de um vulgar sacripanta, capaz da maior pulhice.
Já não bastava que cada campanha eleitoral fosse – ou tentasse ser – uma monumental lavagem ao cérebro de cada um de nós, uma fastidiosa repetição de todas as campanhas eleitorais anteriores, uma farsa autenticamente carnavalesca onde, como disse – e bem – Jerónimo de Sousa, os partidos do poder põem o conta-quilómetros a zero?
Já não bastava o ridículo de, como já tenho dito, todos agora terem grandes ideias para governar o país, esquecendo-se que, quando o governaram, o deixaram sempre pior do que estava? Já não bastava, em cada período de caça ao voto, se vestirem de anjinhos papudos entoando as mais luminosas promessas, que depois, descaradamente, ignoram?
Então, como se isto já não bastasse, ainda querem que ignoremos o carácter desta gente, os seus valores morais, a sua integridade – ou a falta dela?
Tenham paciência, mas não alinho. Não aceito mordaças. Eu preciso de saber se um qualquer candidato é uma pessoa íntegra, séria, acima de qualquer suspeita. Mais do que saber aquilo que o político diz, é necessário saber aquilo que o político é, sem o que a sua palavra pode não valer absolutamente nada. Por isso, para mim, a integridade é mais importante do que a ideologia. Não sou como muita gente, neste país, que acha que a corrupção só é condenável nos outros; que um pedófilo pode sê-lo, se for da sua cor partidária; que os oportunistas, os incompetentes, os trafulhas ou os poltrões são aceitáveis, desde que sejam da sua família política. Não, meus amigos, esse não é o meu caminho.
Posto isto – e só enfiou a carapuça quem achou que ela lhe ficava bem – é inevitável que traga à baila o «senhor engenheiro», quanto a mim o maior embuste político que conheci em toda a minha vida. O político que pior fama deu à já de si mal afamada política.
Disse atrás que, para mim, é importante saber se um candidato a governar o meu país, ou a ocupar um qualquer lugar no aparelho do estado, é uma pessoa decente e confiável, ou não passa de um vulgar sacripanta, capaz da maior pulhice. Sendo assim, se outras razões não tivesse – e tenho todas as razões possíveis e imaginárias – para não votar PS, bastava ser o «engenheiro Sócrates» o seu candidato natural a primeiro-ministro para, por razões puramente éticas, não confiar o meu voto a tal partido.
E por muito que custe aos papagaios e araras que por aí se esforçam em calar os que trazem à discussão os podres do «engenheiro», eu insisto em recordar que ele tem no seu cadastro anotações incompatíveis com as funções que desempenha e quer continuar a desempenhar. Isto é: mesmo que as suas propostas políticas fossem coisa em que se pudesse acreditar, ele não preenche os requisitos necessários – face ao que já ficou provado do seu temperamento e do seu carácter – para ocupar qualquer cargo público, muito menos o de primeiro-ministro.
Realmente, não pode ser primeiro-ministro de Portugal um homem que mentiu deliberadamente à Assembleia da República sobre as suas habilitações literárias. Para além da mentira, em si mesma, sobressai a ânsia pacóvia de tentar parecer o que não se é, denunciadora, só por si, de um carácter muito deficiente. Muito menos o pode ser se, como ficou provado, alterou grosseiramente essa declaração, para a adaptar à realidade e esconder, desse modo, o embuste inicial. Isto é: tentou esconder a mentira com uma grosseira adulteração.
Não pode ser primeiro-ministro de Portugal um homem que conseguiu uma licenciatura de forma absolutamente duvidosa e peregrina, só não se podendo dizer que foi única em Portugal porque é sabido que a rapaziada do PS usava a Universidade Independente para obter habilitações a martelo. Recordo-me que um antigo vereador socialista da Câmara Municipal do Seixal mo confirmou abertamente, tendo ido ao extremo de me convidar para o baile, garantindo que também eu poderia licenciar-me a troco de 400 contos, pagáveis em prestações.
Não pode ser primeiro-ministro de Portugal um homem que se dá mal com a verdade e se deixa envolver em processos esconsos, chegando ao ponto de negar conhecer o homem que haveria de passá-lo, por atacado, a quatro disciplinas no caso da sua famosa licenciatura (o professor Morais), de quem é, afinal, testemunha no processo judicial do escabroso caso do aterro da Cova da Beira.
Não pode ser primeiro-ministro de Portugal um homem que participou em esquemas de licenciamentos fantasmas, no concelho da Guarda, em que processos com pareceres negativos de várias entidades regionais, ou mesmo embargados, eram aprovados em prazos recordes, variando entre os 8 e os 15 dias e, nos casos mais espantosos, em apenas um dia. Bastava que o engenheiro-técnico José Sócrates assinasse os projectos.
Não pode ser primeiro-ministro de Portugal um homem que entrega a uma firma, sem concurso público, a comercialização e distribuição de um computador da Intel, que se pintou de azul e baptizou com o nome de Magalhães, sendo que essa firma está a contas com o fisco e pertence a camaradas do seu partido. Foram milhões de euros transferidos dos cofres do Estado para os cofres da empresa, num autêntico passe de mágica.
Não pode ser primeiro-ministro de Portugal um homem que avaliza a criação de uma Fundação para as Comunicações, onde o estado investe milhões de euros, e que ninguém sabe o que faz, como faz, e cujas contas ninguém fiscaliza. Sabe-se, apenas, que esta fundação, tão fantasma como os licenciamentos da Guarda, esteve ligada aos famosos Magalhães.
Esta libertina opinião tem vindo a fazer escola nos últimos tempos, muito especialmente depois dos vários escândalos em que o nome de José Sócrates aparece envolvido. Dizem essas almas puras e bem pensantes – e, provavelmente, ainda melhor pagas – que o importante é debater ideias e princípios programáticos, para que o povo possa escolher as melhores soluções de governação, pondo de lado a craveira moral de quem as emite e propõe concretizá-las. Não dizem, mas está implícito nesta licenciosa perspectiva, que qualquer crápula pode merecer a confiança popular, pois o fundamental é o seu discurso político. As suas ideias. Ou, se quisermos, a sua capacidade de manipulação. É assim em Itália; parece ser assim em Portugal.
Peço licença para discordar, mas não vou por aí. Não me basta saber o que cada um destes cavalheiros pretende, mesmo que não soubesse, como sei, de cor e salteado, o que propõem. Para mim, é importante saber se um candidato a governar o meu país, ou a ocupar um qualquer lugar no aparelho do Estado, é uma pessoa decente e confiável, ou não passa de um vulgar sacripanta, capaz da maior pulhice.
Já não bastava que cada campanha eleitoral fosse – ou tentasse ser – uma monumental lavagem ao cérebro de cada um de nós, uma fastidiosa repetição de todas as campanhas eleitorais anteriores, uma farsa autenticamente carnavalesca onde, como disse – e bem – Jerónimo de Sousa, os partidos do poder põem o conta-quilómetros a zero?
Já não bastava o ridículo de, como já tenho dito, todos agora terem grandes ideias para governar o país, esquecendo-se que, quando o governaram, o deixaram sempre pior do que estava? Já não bastava, em cada período de caça ao voto, se vestirem de anjinhos papudos entoando as mais luminosas promessas, que depois, descaradamente, ignoram?
Então, como se isto já não bastasse, ainda querem que ignoremos o carácter desta gente, os seus valores morais, a sua integridade – ou a falta dela?
Tenham paciência, mas não alinho. Não aceito mordaças. Eu preciso de saber se um qualquer candidato é uma pessoa íntegra, séria, acima de qualquer suspeita. Mais do que saber aquilo que o político diz, é necessário saber aquilo que o político é, sem o que a sua palavra pode não valer absolutamente nada. Por isso, para mim, a integridade é mais importante do que a ideologia. Não sou como muita gente, neste país, que acha que a corrupção só é condenável nos outros; que um pedófilo pode sê-lo, se for da sua cor partidária; que os oportunistas, os incompetentes, os trafulhas ou os poltrões são aceitáveis, desde que sejam da sua família política. Não, meus amigos, esse não é o meu caminho.
Posto isto – e só enfiou a carapuça quem achou que ela lhe ficava bem – é inevitável que traga à baila o «senhor engenheiro», quanto a mim o maior embuste político que conheci em toda a minha vida. O político que pior fama deu à já de si mal afamada política.
Disse atrás que, para mim, é importante saber se um candidato a governar o meu país, ou a ocupar um qualquer lugar no aparelho do estado, é uma pessoa decente e confiável, ou não passa de um vulgar sacripanta, capaz da maior pulhice. Sendo assim, se outras razões não tivesse – e tenho todas as razões possíveis e imaginárias – para não votar PS, bastava ser o «engenheiro Sócrates» o seu candidato natural a primeiro-ministro para, por razões puramente éticas, não confiar o meu voto a tal partido.
E por muito que custe aos papagaios e araras que por aí se esforçam em calar os que trazem à discussão os podres do «engenheiro», eu insisto em recordar que ele tem no seu cadastro anotações incompatíveis com as funções que desempenha e quer continuar a desempenhar. Isto é: mesmo que as suas propostas políticas fossem coisa em que se pudesse acreditar, ele não preenche os requisitos necessários – face ao que já ficou provado do seu temperamento e do seu carácter – para ocupar qualquer cargo público, muito menos o de primeiro-ministro.
Realmente, não pode ser primeiro-ministro de Portugal um homem que mentiu deliberadamente à Assembleia da República sobre as suas habilitações literárias. Para além da mentira, em si mesma, sobressai a ânsia pacóvia de tentar parecer o que não se é, denunciadora, só por si, de um carácter muito deficiente. Muito menos o pode ser se, como ficou provado, alterou grosseiramente essa declaração, para a adaptar à realidade e esconder, desse modo, o embuste inicial. Isto é: tentou esconder a mentira com uma grosseira adulteração.
Não pode ser primeiro-ministro de Portugal um homem que conseguiu uma licenciatura de forma absolutamente duvidosa e peregrina, só não se podendo dizer que foi única em Portugal porque é sabido que a rapaziada do PS usava a Universidade Independente para obter habilitações a martelo. Recordo-me que um antigo vereador socialista da Câmara Municipal do Seixal mo confirmou abertamente, tendo ido ao extremo de me convidar para o baile, garantindo que também eu poderia licenciar-me a troco de 400 contos, pagáveis em prestações.
Não pode ser primeiro-ministro de Portugal um homem que se dá mal com a verdade e se deixa envolver em processos esconsos, chegando ao ponto de negar conhecer o homem que haveria de passá-lo, por atacado, a quatro disciplinas no caso da sua famosa licenciatura (o professor Morais), de quem é, afinal, testemunha no processo judicial do escabroso caso do aterro da Cova da Beira.
Não pode ser primeiro-ministro de Portugal um homem que participou em esquemas de licenciamentos fantasmas, no concelho da Guarda, em que processos com pareceres negativos de várias entidades regionais, ou mesmo embargados, eram aprovados em prazos recordes, variando entre os 8 e os 15 dias e, nos casos mais espantosos, em apenas um dia. Bastava que o engenheiro-técnico José Sócrates assinasse os projectos.
Não pode ser primeiro-ministro de Portugal um homem que entrega a uma firma, sem concurso público, a comercialização e distribuição de um computador da Intel, que se pintou de azul e baptizou com o nome de Magalhães, sendo que essa firma está a contas com o fisco e pertence a camaradas do seu partido. Foram milhões de euros transferidos dos cofres do Estado para os cofres da empresa, num autêntico passe de mágica.
Não pode ser primeiro-ministro de Portugal um homem que avaliza a criação de uma Fundação para as Comunicações, onde o estado investe milhões de euros, e que ninguém sabe o que faz, como faz, e cujas contas ninguém fiscaliza. Sabe-se, apenas, que esta fundação, tão fantasma como os licenciamentos da Guarda, esteve ligada aos famosos Magalhães.
Não pode ser primeiro-ministro de Portugal o homem que, enquanto responsável pelo Governo, permite que a comunicação social recolha imagens da distribuição dos computadores Magalhães numa escola e da inauguração de um hospital, e depois os computadores sejam retirados às crianças, e as camas e demais equipamentos sejam retirados do hospital, ficando apenas as paredes.
Não pode ser primeiro-ministro de Portugal um homem cujo nome está irremediavelmente ligado ao caso Freeport, a quem um dos arguidos chamou corrupto, e onde figuram, como arguidos, outros camaradas socialistas, sendo ele, na altura dos acontecimentos, o primeiro responsável pela luz verde que permitiu a aprovação da Declaração de Impacte Ambiental, que abriu as portas ao licenciamento do empreendimento. Sem esquecer a implicação directa de três dos seus familiares em todo o processo.
E não pode ser primeiro-ministro de Portugal um homem que, lidando pessimamente com a verdade, queira impedir os outros de a saber. Fascismo à parte, para o qual a verdade era, apenas, a verdade oficial – e daí a Censura – nunca ninguém, como José Sócrates, atentou tanto contra o direito a informar e a ser informado.
Por isso, impedir que Sócrates continue a governar não é só um imperativo político. É, antes de tudo, um imperativo ético e cívico.
É, em suma, uma questão de moral.
(João Carlos Pereira)
Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 09/09/2009.
(Não deixe de ouvir em 98.7 Mhz e participar pelos telefones 212277046 ou 212277047 todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00).
(Não deixe de ouvir em 98.7 Mhz e participar pelos telefones 212277046 ou 212277047 todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00).
1 comentário:
Sempre que posso, costumo ouvir as crónicas do João Carlos Pereira na Rádio Baía e as intervenções dos ouvintes que, infelizmente, são quase sempre os mesmos e dizem sempre as mesmas coisas.
Nota-se nalguns casos um exacerbado fanatismo e quando existem intervenções que não comungam exactamente dos mesmos pontos de vista, a contestação chega a raiar a ordinarice e a ofensa gratuita, tal como aconteceu na última edição, em que uma habitual ouvinte mandou uma outra “cozer meias” só porque esta considerou que Jerónimo de Sousa foi muito brando com Sócrates.
É pena que o espaço radiofónico não seja aproveitado de outra maneira e que quem quer intervir não se cinja à crónica, mas sim a outros factos que nada têm a ver com aquilo que é proposto semanalmente pelo João Carlos Pereira, desvalorizando-se assim as suas excelentes palavras e o aspecto pedagógico que as suas crónicas possuem.
De qualquer modo há que remar contra a maré e felicitar quem de forma voluntária e altruísta sabe ter a paciência necessária para continuar a prestar um verdadeiro serviço público.
Parabéns Rádio Baía, parabéns João Carlos Pereira.
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