(Faço aqui um parênteses para recordar uma má notícia – mais uma: a electricidade vai subir quase 3%. Para vos abrir o apetite, apenas direi que o preço da electricidade, em Portugal, já está 2,2% acima da média europeia, a 27 membros. Para uma empresa que, apenas nos nove primeiros meses deste ano, arrecadou, de lucros líquidos, 835,2 milhões de euros, este não é um aumento: é um assalto. Mas para a semana falaremos disto, com a ajuda do economista Eugénio Rosa).
Mas retomando o fio à meada: criticar Cavaco Silva por alertar para o que alertou, alegando que o PR estava a interferir com a agenda do PS, significa que, na óptica socialista, o presidente não pode falar sobre as grandes questões nacionais, o que é uma rematada imbecilidade, para não lhe chamar um esgar absolutista. Confirma-se o que aqui disse há semanas: o PS entrou em parafuso, e já não diz coisa com coisa. Só estrebucha.
Numa altura em que as expectativas apontam para que o desemprego, em Portugal, possa atingir, em breve, os 15% (o que corresponderá a mais de 1 milhão e 200 mil de desempregados), o festival de irresponsabilidade continua. Já de nada serve a Sócrates e ao seu monolítico ministro das Finanças atirarem as culpas para cima da crise internacional, pois autoridades competentes e insuspeitas da União Europeia, a começar pelo Eurostat e a acabar em economistas de renome, recordam que Portugal lidera o aumento da destruição de empregos, que está, no nosso país, muito acima da média europeia. De facto, no terceiro trimestre deste ano foram destruídos 161 mil empregos face ao mesmo período do ano anterior, um ritmo de variação quase 50% acima da média da zona euro, e só entre o segundo e o terceiro trimestres deste ano a taxa de destruição de emprego foi de 1,1% (menos 58 mil postos de trabalho), e mais do dobro dos 0,5% registados pelo clube do euro.
Perante isto, a ministra do Trabalho garantiu que segue com «muita atenção» a destruição de emprego em Portugal, coisa que muito nos tranquiliza, pois a atenção da senhora ministra é, só por si, tão capaz de suster o ritmo a que o desemprego cresce, como de, ainda por cima, criar os tais 150 mil empregos que o seu primeiro-ministro uma vez prometeu mas não cumpriu. É o falar sem ter nada para dizer.
Quem não está com meias medidas para caracterizar as políticas do PS e da sua trupe governativa, é Medina Carreira. Diz ele que «José Sócrates, é um homem de circo, de espectáculo» e que «Portugal está a ser gerido por medíocres». Sem papas na língua, Medina Carreira nem precisa que lhe dêem corda. E continua: «O desemprego não é um problema, é uma consequência de alguma coisa que não está bem na economia. Já estou enjoado de medidinhas. Já nem sei o que é que isso custa, nem sequer sei se estão a ser aplicadas».
E apontando o dedo à comunicação social: «Vocês, comunicação social, o que dão é esta conversa de “inflação menos 1 ponto”, o “crescimento 0,1 em vez de 0,6”. Se as pessoas soubessem o que é 0,1 de crescimento, que é um café por português de 3 em 3 dias... Portanto, andamos a discutir um café de 3 em 3 dia… mas é sem açúcar».
E uma indirecta, mas muito bem metida: «De quem anda a viver da política para tratar da sua vida, não se pode esperar coisa nenhuma. A causa pública exige entrega e desinteresse». E continuando no mesmo tema – e no mesmo tom: «Eu, por mim, estou convencido que não se faz nada para pôr a Justiça a funcionar, porque a classe política tem medo de ser apanhada na rede da Justiça». Bruxo! – comento eu.
Ainda no campo da corrupção: «O João Cravinho tentou resolver o problema da corrupção em Portugal. Tentou. Foi "exilado" para Londres. O Carrilho também falava um bocado, foi para Paris. O Alegre, depois não sei para onde ele irá... Em Portugal quem fala contra a corrupção, ou é mandado para um "exílio dourado", ou então é entupido e cercado».
E ainda no mesmo tema: «Então, o meu amigo encomenda aí uma ponte que é orçamentada para 100 e depois custa 400? Não há uma obra que não custe 3 ou 4 vezes mais! Não acha que isto é um saque dos dinheiros públicos? E não vejo intervenção da polícia... Há-de acreditar que há muita gente que fica com a grande parte da diferença!».
E refrescando a memória dos portugueses: «Nós tivemos nos últimos 10-12 anos, 4 primeiros-ministros: um desapareceu; o outro arranjou um melhor emprego em Bruxelas, foi-se embora; o outro foi mandado embora pelo Presidente da República; e este, coitado, anda a ver se consegue chegar ao fim».
E à laia de conclusão, diz Medina Carreira: «Um país que empobrece, que se torna cada vez mais desigual, em que as desigualdades não têm fundamento, a maior parte delas são desigualdades ilegítimas, para não dizer mais, numa sociedade onde uns empobrecem sem justificação e outros se tornam multimilionários sem justificação, é um caldo de cultura que pode acabar muito mal. Eu receio mesmo que acabe».
Como se nota, gosto de trazer às minhas crónicas certas vozes descomprometidas e corajosas e que – ainda por cima – não são vozes de esquerda, nem por lá perto. Trago Medina Carreira, trago Mário Crespo, trago Ribeiro Ferreira, trago Pereira Coutinho, trago muitos outros. Não sou sectário. E não sou sectário porque defendo ideias e valores em que acredito, sejam eles numa perspectiva social e política, seja, tão-só – e já é muito – sob o ponto de vista moral. Por isso, se alguém diz por aí qualquer coisa com a qual eu concordo, nada me repugna citá-lo. É curioso, contudo, que a minha experiência política, tanto sindical – antes e depois do 25 de Abril – como autárquica, como na mera condição de cidadão, nunca me permitiu olhar com confiança e simpatia qualquer pessoa ligada ao PS.
Nos bancários, sempre foram um braço dos banqueiros, dos conselhos de gestão ou de administração e dos governos, uns reles traidores que, para cúmulo, sempre tentaram – e muitas vezes conseguiram – alcançar benesses pessoais, vendendo-se por dez reis de mel coado. Cada revisão da tabela salarial e do Contracto Colectivo dos bancários não passa de uma imunda farsa onde, quando o pano cai, os trabalhadores da banca ficam mais pobres e com menos direitos. Na Siderurgia Nacional, na Lisnave, no Arsenal do Alfeite ou na Sorefame, nunca foram outra coisa para além de reles bufos e solícitos sabotadores das lutas laborais.
Nas autarquias, onde bem os conheci, sacrificam tudo e todos aos seus interesses pessoais e partidários, e nunca encontrei nenhum que não me inspirasse um profundo nojo. São, por via de regra, gente que alia uma enorme falta de escrúpulos a uma profunda indigência mental, pessoas capazes das maiores insídias e falsidades.
Por aí, na nossa vida social, seja nos cafés, nas colectividades, nos locais de trabalho, seja onde for, topam-se à légua. Nunca lhes compraria um carro em segunda mão, não lhes confiaria um segredo, não teria ao pé deles um desabafo. São falsos. São maus. São perigosos. Fazem-te uma patifaria qualquer se te tomarem de ponta. Esta é a regra.
Curiosamente, tanto no PSD, como no CDS – e também na vida sindical, laboral, autárquica e social ou cívica – tenho bons amigos, gente com quem se pode debater ideias, gente leal, gente fraterna que sabe respeitar a diferença e aceita, sem dificuldade, pontos de vista novos, não se importando de ponderar e aplicar soluções conjuntas face a determinado problema.
E é por isso, meus amigos, que sempre que o PS toma o poder, a nossa vida social, económica e política se degrada até aos limites do impossível.
Em suma: são feios, porcos e maus. E tudo mais que vocês quiserem acrescentar.
Na verdade, começaram por ser um polvo. Mas já se transformaram num cancro.
(João Carlos Pereira)
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