...
Não sei se já repararam, mas sempre que se fala em corrupção na Assembleia da República, o Partido Socialista fica de cabelos em pé. Arranja sempre uma desculpa para evitar a discussão e, principalmente, para aprovar medidas eficazes que combatam o fenómeno, mesmo que as propostas partam de gente sua, como foi o caso das medidas preconizadas pelo engenheiro João Cravinho, que é mesmo engenheiro e tudo e, principalmente, é pessoa séria e sem rabos de palha. Não ficam bem no retrato, mas por aquelas bandas já se perdeu completamente a cabeça, depois de se ter perdido completamente a vergonha.
Talvez por isso, no último debate, Sócrates voltou a ser o animal feroz. Ou, para sermos mais exactos, o animal furioso. A sua atitude, os seus esgares, a sua agitação e o seu discurso demonstram o quanto se sente encurralado e sem saída para os muitos problemas que o afogam. A governação não passa de uma catadupa de palavras, promessas, explicações atabalhoadas e ridículas acções de pura propaganda. Todos os sectores da nossa vida política, social e económica pioraram durante o seu reinado, mesmo antes – e muito para além – do que as costas largas da crise internacional permitem justificar. Na verdade, a única coisa que insiste em dizer é que tudo estaria ainda pior se não fosse a sua iluminada governação. Esquece-se que foi o último a admitir a crise e o primeiro a declarar o seu fim, mesmo que o descalabro económico e social seja aquele que se sabe e que se sente.
Para além da hecatombe governativa, vê-se atolado em embrulhadas do arco-da-velha. Não me lembro de personagem da nossa vida pública ou privada com um pendor tão grande para se envolver em sarilhos. Casas serranas, apartamentos de Lisboa, aterros sanitários, processo Cova da Beira, co-incineração, Freeport, licenciatura e, agora, o Face Oculta, são coisas demais para um homem só. E – convenhamos – são coisas demais para se tratar, apenas, de uma campanha negra ou monstruosa cabala.
Fase caricata e reveladora do desnorteio socialista (também não é para menos), foi aquela investida contra Manuela Ferreira Leite, por esta ter dito, há meses, que Sócrates mentia quando afirmava que nada sabia sobre o negócio da TVI, que, entre outras coisas, visava calar – e calou – vozes incómodas para o senhor primeiro-ministro. Desembaraçados e sem papas na língua – mas com muitas papas nos miolos – lá vieram à liça gritar Aqui, del Rei!, que a senhora, para dizer aquilo, já sabia das escutas do caso Face Oculta. Brilhante! A questão passou a ser, então, uma eventual quebra do segredo de justiça, e não a eventual maquinação antidemocrática para calar um órgão de comunicação social? Estou enganado, ou isto nada mais é do que a confissão de que pelo menos uma das conversas entre Vara e Sócrates versava o negócio TVI? Para mim, fica claro que se o PS acha que Ferreira Leite sabia que Sócrates mentia porque teve acesso às escutas, então é porque o PS sabe que as escutas apanharam Sócrates e Vara com a boca na botija. Se houver por aí outra leitura disto, fico à espera dela.
Já que estamos a falar em corrupção, vem a propósito tocar na iniciativa do PSD destinada a investigar o que é isso, afinal, da Fundação para as Comunicações Móveis, cuja grande – e, praticamente, única – tarefa foi entregar, sem concurso público, o projecto de produção e distribuição do famoso computadorzinho Magalhães a uma firma de rapaziada do PS com dívidas ao Fisco. Falámos precisamente disso aqui há um bom par de meses atrás, manifestando as mesmas dúvidas que o PSD agora manifesta. Seria bom que toda a oposição se esforçasse a sério em apurar a verdade, porque estou fartinho de me sentir lixado e mal pago com tanta bagunça que por aí vai, sempre à conta dos nossos bolsos. É tempo de gritar um sonoro Irra! (ou coisa pior) Basta de trafulhices!
Já estou a ouvir por aí alguns puristas – e juristas – a dizer que não se pode falar em trafulhices sem que o caso seja devidamente apurado e, como se costuma dizer, transite em julgado. Isso era se, em Portugal, as coisas funcionassem com clareza, rigor e isenção. Ou, simplesmente, com normalidade. Isso era se Portugal fosse um país de razoável grau de pureza. O que, como é sabido e mais que sabido, não é o caso.
Mas se dúvidas eu tivesse sobre a pouca clareza e muita opacidade da tal Fundação para as Comunicações Móveis (irmã gémea da famigerada Fundação para a Prevenção e Segurança, de um certo Armando Vara) elas, as dúvidas, teriam desaparecido quando o inefável Assis (mais conhecido por ter levado uns apertões em Felgueiras, dados por alguns outros socialistas, aficionados da madame Fátima, e por Rui Rio lhe ter dado um belo banho nas autárquicas de há 4 anos) se enxofrou todo contra a iniciativa. Mais uma vez não se compreende de que tem medo o PS.
Assis não foi de meias medidas, e classificou logo a iniciativa do PSD de «radical, extremista e irresponsável (…) e de todo imprópria de um grande partido com vocação de alternativa de poder». Ouvi… e não acreditei! Então, saber o que se passou numa fundação financiada por dinheiros públicos e tutelada pelo Governo, se há dúvidas sobre as suas actividades, é ser-se irresponsável, extremista e radical? Por alma de quem? E imprópria de um grande partido com vocação para ser alternativa de poder, porquê? Ocorre-me a ideia que isto pode querer dizer que, na óptica de Assis, o PSD deveria saber como a coisas são, ou seja: amanho-me eu hoje, amanhas-te tu amanhã.
Este estrebuchar desvairado do PS, esta incapacidade de parar para pensar antes de abrir a boca, este estado de irritabilidade permanente e estes tiques próprios de capataz que perdeu o chicote, significam que o partido já entrou em parafuso. Abra o PS a porta à Comissão de Inquérito, sem medos e sem reservas, e todos ficaremos satisfeitos se nada de anormal for detectado. Pena foi que a mana, a defunta Fundação para Prevenção e Segurança, tivesse morrido de morte macaca e fosse cremada sem se ter feito e devida autópsia. A mesma e conveniente morte que teve a Universidade Independente, não se está a ver.
Estava eu nestas tristes lucubrações, quando me passaram pelos olhos as palavras de uma pessoa insuspeita, nem mais, nem menos, que o presidente da Caritas Portuguesa, Eugénio da Fonseca, que afirmou o seguinte:
«São escandalosos os níveis de corrupção que este país está a registar. É escandalosa a disparidade que existe de compensações que determinados cidadãos têm pelos cargos que desempenham, relativamente ao geral dos rendimentos que são auferidos pela população portuguesa». A estas palavras, proferidas no final do conselho geral da Caritas Portuguesa, Eugénio da Fonseca acrescentou que «há, muitas vezes, até prémios que se concedem por maus serviços prestados». Depois de se dizer chocado com estas situações, o presidente da Caritas Portuguesa declarou que «a corrupção toda ela é má, mas há pessoas que, pelos lugares que ocupam, não podem, de forma nenhuma, entrar em mecanismos que não sejam éticos, para poderem ser farol pelo qual se orientam os demais cidadãos».
Que diabo! Será que o senhor se está a referir àquelas pessoas que nós sabemos?
Sim, ou não? Aceitam-se apostas.
Talvez por isso, no último debate, Sócrates voltou a ser o animal feroz. Ou, para sermos mais exactos, o animal furioso. A sua atitude, os seus esgares, a sua agitação e o seu discurso demonstram o quanto se sente encurralado e sem saída para os muitos problemas que o afogam. A governação não passa de uma catadupa de palavras, promessas, explicações atabalhoadas e ridículas acções de pura propaganda. Todos os sectores da nossa vida política, social e económica pioraram durante o seu reinado, mesmo antes – e muito para além – do que as costas largas da crise internacional permitem justificar. Na verdade, a única coisa que insiste em dizer é que tudo estaria ainda pior se não fosse a sua iluminada governação. Esquece-se que foi o último a admitir a crise e o primeiro a declarar o seu fim, mesmo que o descalabro económico e social seja aquele que se sabe e que se sente.
Para além da hecatombe governativa, vê-se atolado em embrulhadas do arco-da-velha. Não me lembro de personagem da nossa vida pública ou privada com um pendor tão grande para se envolver em sarilhos. Casas serranas, apartamentos de Lisboa, aterros sanitários, processo Cova da Beira, co-incineração, Freeport, licenciatura e, agora, o Face Oculta, são coisas demais para um homem só. E – convenhamos – são coisas demais para se tratar, apenas, de uma campanha negra ou monstruosa cabala.
Fase caricata e reveladora do desnorteio socialista (também não é para menos), foi aquela investida contra Manuela Ferreira Leite, por esta ter dito, há meses, que Sócrates mentia quando afirmava que nada sabia sobre o negócio da TVI, que, entre outras coisas, visava calar – e calou – vozes incómodas para o senhor primeiro-ministro. Desembaraçados e sem papas na língua – mas com muitas papas nos miolos – lá vieram à liça gritar Aqui, del Rei!, que a senhora, para dizer aquilo, já sabia das escutas do caso Face Oculta. Brilhante! A questão passou a ser, então, uma eventual quebra do segredo de justiça, e não a eventual maquinação antidemocrática para calar um órgão de comunicação social? Estou enganado, ou isto nada mais é do que a confissão de que pelo menos uma das conversas entre Vara e Sócrates versava o negócio TVI? Para mim, fica claro que se o PS acha que Ferreira Leite sabia que Sócrates mentia porque teve acesso às escutas, então é porque o PS sabe que as escutas apanharam Sócrates e Vara com a boca na botija. Se houver por aí outra leitura disto, fico à espera dela.
Já que estamos a falar em corrupção, vem a propósito tocar na iniciativa do PSD destinada a investigar o que é isso, afinal, da Fundação para as Comunicações Móveis, cuja grande – e, praticamente, única – tarefa foi entregar, sem concurso público, o projecto de produção e distribuição do famoso computadorzinho Magalhães a uma firma de rapaziada do PS com dívidas ao Fisco. Falámos precisamente disso aqui há um bom par de meses atrás, manifestando as mesmas dúvidas que o PSD agora manifesta. Seria bom que toda a oposição se esforçasse a sério em apurar a verdade, porque estou fartinho de me sentir lixado e mal pago com tanta bagunça que por aí vai, sempre à conta dos nossos bolsos. É tempo de gritar um sonoro Irra! (ou coisa pior) Basta de trafulhices!
Já estou a ouvir por aí alguns puristas – e juristas – a dizer que não se pode falar em trafulhices sem que o caso seja devidamente apurado e, como se costuma dizer, transite em julgado. Isso era se, em Portugal, as coisas funcionassem com clareza, rigor e isenção. Ou, simplesmente, com normalidade. Isso era se Portugal fosse um país de razoável grau de pureza. O que, como é sabido e mais que sabido, não é o caso.
Mas se dúvidas eu tivesse sobre a pouca clareza e muita opacidade da tal Fundação para as Comunicações Móveis (irmã gémea da famigerada Fundação para a Prevenção e Segurança, de um certo Armando Vara) elas, as dúvidas, teriam desaparecido quando o inefável Assis (mais conhecido por ter levado uns apertões em Felgueiras, dados por alguns outros socialistas, aficionados da madame Fátima, e por Rui Rio lhe ter dado um belo banho nas autárquicas de há 4 anos) se enxofrou todo contra a iniciativa. Mais uma vez não se compreende de que tem medo o PS.
Assis não foi de meias medidas, e classificou logo a iniciativa do PSD de «radical, extremista e irresponsável (…) e de todo imprópria de um grande partido com vocação de alternativa de poder». Ouvi… e não acreditei! Então, saber o que se passou numa fundação financiada por dinheiros públicos e tutelada pelo Governo, se há dúvidas sobre as suas actividades, é ser-se irresponsável, extremista e radical? Por alma de quem? E imprópria de um grande partido com vocação para ser alternativa de poder, porquê? Ocorre-me a ideia que isto pode querer dizer que, na óptica de Assis, o PSD deveria saber como a coisas são, ou seja: amanho-me eu hoje, amanhas-te tu amanhã.
Este estrebuchar desvairado do PS, esta incapacidade de parar para pensar antes de abrir a boca, este estado de irritabilidade permanente e estes tiques próprios de capataz que perdeu o chicote, significam que o partido já entrou em parafuso. Abra o PS a porta à Comissão de Inquérito, sem medos e sem reservas, e todos ficaremos satisfeitos se nada de anormal for detectado. Pena foi que a mana, a defunta Fundação para Prevenção e Segurança, tivesse morrido de morte macaca e fosse cremada sem se ter feito e devida autópsia. A mesma e conveniente morte que teve a Universidade Independente, não se está a ver.
Estava eu nestas tristes lucubrações, quando me passaram pelos olhos as palavras de uma pessoa insuspeita, nem mais, nem menos, que o presidente da Caritas Portuguesa, Eugénio da Fonseca, que afirmou o seguinte:
«São escandalosos os níveis de corrupção que este país está a registar. É escandalosa a disparidade que existe de compensações que determinados cidadãos têm pelos cargos que desempenham, relativamente ao geral dos rendimentos que são auferidos pela população portuguesa». A estas palavras, proferidas no final do conselho geral da Caritas Portuguesa, Eugénio da Fonseca acrescentou que «há, muitas vezes, até prémios que se concedem por maus serviços prestados». Depois de se dizer chocado com estas situações, o presidente da Caritas Portuguesa declarou que «a corrupção toda ela é má, mas há pessoas que, pelos lugares que ocupam, não podem, de forma nenhuma, entrar em mecanismos que não sejam éticos, para poderem ser farol pelo qual se orientam os demais cidadãos».
Que diabo! Será que o senhor se está a referir àquelas pessoas que nós sabemos?
Sim, ou não? Aceitam-se apostas.
(João Carlos Pereira)
Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 09/12/2009.
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