quarta-feira, 19 de maio de 2010

OS GLUTÕES AO ATAQUE

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Com o país entretido e anestesiado com a vitória do Benfica e a visita do Papa, os glutões deram a machadada que há muito se preparavam para dar. Até agora, só lhes faltava a oportunidade. O momento psicológico certo. Ele apareceu com esses dois acontecimentos que passaram a ocupar a atenção dos portugueses, com horas e horas a fio de noticiários, como se mais nada de importante acontecesse no país e no mundo. Embora em esferas diferentes, as emoções dos portugueses vieram ao de cima, tirando-lhes, literalmente, os pés do chão. Deixaram de pensar na sua triste vidinha, na dura realidade do dia-a-dia, eufóricos com o êxito desportivo do clube português que mais paixões desperta, apoiado por mais de cinquenta por cento da população portuguesa, ou adormecidos com as ladainhas bem encenadas da visita papal. Mas enquanto os benfiquistas fizeram a festa do seu bolso, a festa que tem Sua Santidade como principal artista, caríssima de milhões de euros, foi paga pelo bolso de todos nós, mesmo dos que se estão perfeitamente nas tintas para os aparatos e artifícios da religião.

Vendo a manada adormecida – e como vampiros que são – os glutões ferraram-lhe as mandíbulas sem dó nem piedade. O pretexto, como é sabido, é o défice. Há sempre um pretexto para justificar a sangria. Por isto ou por aquilo, o Zé tem sempre que pagar a crise. Esta, ou outra qualquer tirada no inesgotável armazém de crises que os glutões possuem. Desde que me lembro – e já lá vão muitas décadas – a conversa é sempre a mesma. E eficaz. O povo sai de uma crise, e entra logo noutra. Para Salazar, era a Bem da Nação; para estes, seus dignos sucessores, é a Bem da Economia. Porque é que a nação e a economia nunca estão bem, é que eles não explicam. Nem, muito menos, porque é que as crises acontecem.

Estou farto de dizer que as crises não são fenómenos naturais, impossíveis de controlar pelos homens. As crises económicas resultam da acção directa de quem comanda a economia, em suma, da vontade e da competência de alguns homens. Não acontecem por acaso, como um furacão ou um tsunami, ou terramoto ou uma época de chuvas diluvianas. As crises económicas têm responsáveis, que são os governos e os detentores do poder económico. Mais ninguém. Não é quem trabalha arduamente, a troco de pagamentos inferiores à riqueza que produz e que, ainda por cima, paga os seus impostos, que provoca a crise. Mas, inevitavelmente, é ele quem a paga.

O que aí vem não é uma solução para a crise, porque o próprio sistema capitalista é a crise em si mesma. Se este sangrar das classes trabalhadoras resolvesse alguma coisa, há muito que as crises estariam vencidas, porque há muito que este sangrar é a receita para vencer a crise. Sem sucesso, como a realidade atesta. O papão da crise é apenas um pretexto para saquear as classes laboriosas, seja através do congelamento de salários e aumento do custo de vida, seja através do sufoco tributário.

O que aí vem é apenas mais do mesmo, em dose reforçada, e porque é mais do mesmo vai conduzir ao mesmo: estagnação económica, desemprego, mais fome, mais miséria, retrocesso social, decadência, endividamento externo, instabilidade, desmoralização, violência, insegurança.

Para além disto, que é garantido, apenas temos outra coisa como certa: não somos donos do país, não somos donos do nosso destino. E se quisermos deixar de ser – como realmente somos – bestas de carga, só nos resta sacudir a canga e as arreatas, unir as vozes, as mãos e as vontades e, sem a mínima hesitação ou misericórdia, tomarmos conta do país.

Ou seja: eliminar de vez os glutões. Os vampiros…





(João Carlos Pereira)

Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 19/05/2010.
Não deixe de ouvir em 98.7 Mhz e participar pelos telefones 212277046 ou 212277047 todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00.

1 comentário:

Anónimo disse...

Eu chamar-lhes-ia antes PORCOS. Com o devido respeito pelos suinos.