quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

ATÉ UM DIA…


O «socialista» Carlos César, que manda nos Açores, determinou que os cortes nos ordenados dos trabalhadores da função pública não se aplicam lá no feudo. Sócrates, com o seu habitual descaramento, alega que não manda nada nos Açores. Ao mesmo tempo, o governo determinou que os altos quadros do Estado já podem, afinal, continuar a acumular os ordenados e as pensões pagas pelo próprio Estado. Exactamente o mesmo governo que decidiu os cortes nos salários dos políticos e da função pública, mas que inscreveu, no OGE, um aumento de 20% em despesas de representação, com as quais os senhores políticos e os altos quadros da FP se compensam dos cortes proclamados. E até ficam a ganhar. Os cortes nas despesas, por outro lado, também não se aplicam aos hospitais com gestão empresarial, nem às empresas do Estado.

Afinal, quem vai pagar a crise? Que pergunta parva! A ralé, como de costume. Os remediados, os esfomeados, os miseráveis. O batalhão de jovens, homens e mulheres que vegetam por aí com baixos salários e trabalhos precários. Os reformados e pensionistas. Mas a elite política e empresarial, bem como todo o seu séquito de boys e girls, vai continuar a rir-se e a encher a pança e os bolsos. E a exigir mais sacrifícios aos portugueses.

O senhor Fernando Ulrich, presidente do BPI, por exemplo, declarou que os despedimentos devem ser rápidos e fáceis, ou seja, sempre que o patrão quiser. As pessoas não são pessoas. São instrumentos da gestão. O senhor Barroso, lá de Bruxelas, bolçou que os despedimentos devem ser mais baratos. Nada de indemnizações, nada de subsídios de desemprego que delapidem os cofres públicos. Trabalhador trabalha se tiver trabalho, o tempo que o patrão quiser, recebe o que o patrão quiser… e é se quiser. Come, se puder comprar alimentos. Ou se, por caridade, alguém lhe der uma esmola. Direitos? O que é isso? O tempo não está para luxos.

Falando em luxos. O senhor Rui Pedro Soares, conhecido como o boy dos boys de Sócrates, foi afastado da «primeira linha» da administração da PT depois do escândalo da compra da TVI. A própria PT garantiu que o boy tinha sido afastado da administração e que não era director fosse do que fosse, mas apenas funcionário. Sabem quanto ganha este «funcionário»? «Apenas» dez mil euros por mês, mais secretária e carro às ordens. Ganham bem, os funcionários da PT!

Portugal é o maior na pobreza infantil? Ninharias! Há mais de dois milhões de pobres em Portugal, 500 mil dos quais até têm trabalho? Que se lixe! Portugal é um dos países mais assimétricos da Europa na distribuição de rendimentos, onde os 20% mais ricos ganham 6,1 vezes mais do que os 20% mais pobres? Porreiro, pá! Assim, o senhor Ulrich e o senhor Rui Pedro Soares estão na maior!

Enfim, linda democracia a nossa! O senhor presidente do BPI, Fernando Ulrich, pode perfeitamente à vontade – e com toda a cobertura televisiva – alvitrar que qualquer trabalhador português possa ser posto no olho da rua sem mas nem porquês. É democrático. Mas se eu alvitrar que o senhor Fernando Ulrich – bem como qualquer parasita da sua laia – deveria passar a receber o salário mínimo e posto a trabalhar a sério nas minas de Aljustrel, e que os lucros da banca deveriam reverter para o desenvolvimento do país, em vez de engordarem os chupistas e calaceiros que engordam, já serei um perigoso revolucionário. Ou – sei lá – um temível subversivo, a tender para o terrorista.

Até um dia…

(João Carlos Pereira)

Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 08/12/2010.
Não deixe de ouvir em 98.7 Mhz e participar pelos telefones 212277046 ou 212277047 todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00.

2 comentários:

Anónimo disse...

O que iria ele fazer nas Minas de Aljustrel?
Esta gente não sabe fazer nada a não ser parasitar e sacar-nos o pouco dinheiro que temos.

Anónimo disse...

Eu dizia-lhe o que faria ele nas minas de Aljustrel. E se não aprendesse, seria despedido com justa causa, por inadaptação à função. Está no Código do Trabalho, não está?