No Reino dos Democratas, todas as pessoas têm os mesmos direitos e deveres. Todos são iguais perante a Lei. Consequentemente, todos podem ser ricos. E todos podem ser pobres. E, naturalmente, todos podem ser remediados. Então, porque é que não somos todos ricos, ou todos pobres, ou todos remediados? Ou ainda: porque é que há pouquíssimas pessoas imensamente ricas, e muitíssimas pessoas imensamente pobres? Simplesmente porque, como já foi dito anteriormente, uma coisa é a teoria, e outra coisa é a prática. E – principalmente – porque a Liberdade a isso conduz. Pode parecer estranho, mas é o exercício da Liberdade, que é a bíblia de todo o democrata que se preze, que distribui a riqueza, a pobreza e o remedeio. No fundo, é isto: todos temos a liberdade de ser ricos, ou pobres, ou remediados. É à escolha do freguês.
A Liberdade é um conceito tão prezado no Reino dos Democratas, que uma pessoa que tenha decidido ser pobre, até pode, se quiser, morrer à míngua de alimentos, medicamentos e assistência médica, que o Estado respeita essa sua opção. Diga-se, em abono da verdade, que o inverso também se dá: uma pessoa que tenha decidido ser rica, pode nutrir-se dos alimentos que os pobres não querem consumir, bem como utilizar os medicamentos e recursos médicos disponíveis para que, como pessoa feliz e saudável, ajude a desenvolver o país. Isto é: os ricos são pessoas responsáveis e patriotas, ao invés dos tarados que decidem ser pobres. Mas Liberdade obriga…
O que se passa com a alimentação e a saúde, passa-se, também, com a educação. Há pessoas que nascem inteligentes, tal como há pessoas que nascem irremediavelmente néscias. Mas cada uma delas pode escolher se quer dedicar-se ao saber, à aquisição de conhecimentos – ou não. Por isso, há verdadeiros génios que resolvem abandonar os estudos e ir trabalhar para as obras – quando há obras – enquanto que verdadeiras obras-primas da imbecilidade decidem ser doutores ou engenheiros. E conseguem…
O mesmo acontece no que à habitação respeita. A Liberdade, magnânima, permite que cada um escolha como – e onde – quer viver. Uns escolhem três assoalhadas, na Brandoa; outros, um palacete na Quinta da Marinha e outros, noutros sítios; uns, uma pitoresca habitação de zinco e papelão; outros preferem um banco do jardim, ou um desvão de uma escada; outros, com requintes ambientais, ocupam casas em ruínas, num afã, altamente louvável, de aproveitamento e requalificação de espaços e recursos.
No âmbito do trabalho – ou da profissão – e, posteriormente, das reformas, também aqui a Liberdade mostra as suas muitas ofertas. Há quem escolha trabalhar, e há quem escolha não trabalhar. Há os que trabalham – e não recebem. Há os que recebem – e não trabalham. Há os que produzem muito, e ganham pouco. Há os que produzem pouco – ou nada – e ganham muito. Há os que têm vários empregos, mas não trabalham. E há os que querem trabalhar e não têm trabalho, porque a Liberdade, como tudo na vida, não é perfeita. Quanto às reformas, idem, idem, aspas, aspas. Desde os que escolheram só uma – e minguada – ao fim de 40 anos de trabalho, até aos que escolheram várias – e graúdas – ao fim de poucos meses de desempenho dos cargos, a Liberdade permite tudo.
É assim no Reino dos Democratas, sob o manto translúcido da Santa Liberdade. E é curioso: ser pobre deve ser muito melhor que ser rico, pois, em Portugal, a maioria da população está a optar, a grande velocidade, por passar de remediada a pobre, deixando os ricos cada vez mais isolados.
Coitaditos…
A Liberdade é um conceito tão prezado no Reino dos Democratas, que uma pessoa que tenha decidido ser pobre, até pode, se quiser, morrer à míngua de alimentos, medicamentos e assistência médica, que o Estado respeita essa sua opção. Diga-se, em abono da verdade, que o inverso também se dá: uma pessoa que tenha decidido ser rica, pode nutrir-se dos alimentos que os pobres não querem consumir, bem como utilizar os medicamentos e recursos médicos disponíveis para que, como pessoa feliz e saudável, ajude a desenvolver o país. Isto é: os ricos são pessoas responsáveis e patriotas, ao invés dos tarados que decidem ser pobres. Mas Liberdade obriga…
O que se passa com a alimentação e a saúde, passa-se, também, com a educação. Há pessoas que nascem inteligentes, tal como há pessoas que nascem irremediavelmente néscias. Mas cada uma delas pode escolher se quer dedicar-se ao saber, à aquisição de conhecimentos – ou não. Por isso, há verdadeiros génios que resolvem abandonar os estudos e ir trabalhar para as obras – quando há obras – enquanto que verdadeiras obras-primas da imbecilidade decidem ser doutores ou engenheiros. E conseguem…
O mesmo acontece no que à habitação respeita. A Liberdade, magnânima, permite que cada um escolha como – e onde – quer viver. Uns escolhem três assoalhadas, na Brandoa; outros, um palacete na Quinta da Marinha e outros, noutros sítios; uns, uma pitoresca habitação de zinco e papelão; outros preferem um banco do jardim, ou um desvão de uma escada; outros, com requintes ambientais, ocupam casas em ruínas, num afã, altamente louvável, de aproveitamento e requalificação de espaços e recursos.
No âmbito do trabalho – ou da profissão – e, posteriormente, das reformas, também aqui a Liberdade mostra as suas muitas ofertas. Há quem escolha trabalhar, e há quem escolha não trabalhar. Há os que trabalham – e não recebem. Há os que recebem – e não trabalham. Há os que produzem muito, e ganham pouco. Há os que produzem pouco – ou nada – e ganham muito. Há os que têm vários empregos, mas não trabalham. E há os que querem trabalhar e não têm trabalho, porque a Liberdade, como tudo na vida, não é perfeita. Quanto às reformas, idem, idem, aspas, aspas. Desde os que escolheram só uma – e minguada – ao fim de 40 anos de trabalho, até aos que escolheram várias – e graúdas – ao fim de poucos meses de desempenho dos cargos, a Liberdade permite tudo.
É assim no Reino dos Democratas, sob o manto translúcido da Santa Liberdade. E é curioso: ser pobre deve ser muito melhor que ser rico, pois, em Portugal, a maioria da população está a optar, a grande velocidade, por passar de remediada a pobre, deixando os ricos cada vez mais isolados.
Coitaditos…
(João Carlos Pereira)
Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 16/02/2011.
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