quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

O REINO DOS DEMOCRATAS (II)


A Democracia – ou reino dos democratas, como vimos em O reino dos Democratas ( I ) – é o oposto de Ditadura. Em Democracia, o poder é de todos os cidadãos, adiante designados por Povo. Em Ditadura, o poder está nas mãos de um indivíduo, uma família ou um grupo restrito de indivíduos. Em Democracia, as decisões políticas são tomadas a favor do Povo. Em Ditadura, as decisões beneficiam quem os ditadores querem.

Tanto em Democracia, como em Ditadura, existem duas coisas muito importantes: a teoria e a prática. Teoricamente, a democracia dá, directa ou indirectamente, o poder ao Povo. Obedecendo a prática à teoria, o Povo tomará sempre decisões a seu favor – e só se for completamente estúpido é que não o fará. Já em Ditadura – e sendo a teoria e a prática concordantes – ao Povo nada mais resta que sujeitar-se ao ditador. Isto é: comer e calar.

Assim sendo, é natural que o Povo viva bem no reino dos democratas, enquanto que, no – digamos – reino dos ditadores, passe as chamadas passas do Algarve. Face a esta lapidar asserção, toda ela baseada na mais elementar e pura lógica, podemos concluir que as misérias sociais em que as ditaduras são pródigas (veja-se o caso português, entre 28 de Maio de 1926 e 25 de Abril de 1974), não existem em Democracia. Por isso, e tomando ainda o caso português como exemplo, no reino dos democratas, que foi instituído neste país, de facto, em 25 de Novembro de 1975, tudo passou a ser diferente. Para muito melhor, naturalmente.

Os velhos e tradicionais mendigos que, na Ditadura, esmolavam de pé de
scalço às portas das igrejas, desapareceram. Em seu lugar prolifera, agora, uma florescente classe de indivíduos economicamente débeis e socialmente desenquadrados, a quem, pelo Natal, se oferecem ceias fumegantes, transmitidas pelas televisões em directos comoventes, para que todo o país se compraza e durma tranquilo. E se o tempo arrefece, os sem-abrigo dispõem de ultra-eficaz sistema de alerta que, em zeloso excesso, é servido em várias cores. Assim, só morrerá enregelado quem for, realmente, muito pouco colaborante. Ou não tiver TV a cores.

Para que se veja que à fome da ditadura se opõe a abundância democrática, encenam-se, periodicamente, gigantescas operações de recolha de alimentos, não porque haja quem deles necessite, mas porque todo o Povo tem excedentes que prefere doar, assim como quem dá milho aos pombos.

Dos meninos desvalidos e esfomeados da ditadura, nem sinal. Quando muito – e são mais as vozes que as nozes – há algumas centenas de milhares de crianças mal nutridas, que apenas não sabem o que é leite, carne ou três refeições quentes por dia. Mas só isso.

As desigualdades sociais são típicas das ditaduras, pois resultam da sua própria essência. As ditaduras enriquecem o grupo oligárquico dominante, à custa da exaustão económica da maioria do Povo. A Democracia faz rigorosamente a mesma coisa, mas sempre com a melhor das intenções, que é resolver problemas económicos emergentes de crises imponderáveis e sem autores conhecidos, pois as oligarquias passaram a ser SA – anónimas.

O desemprego, em Ditadura, deriva da crueldade e incompetência do regime, para além de ser fonte de mão-de-obra barata e disposta a tudo. O desemprego, em Democracia, resulta da enorme bondade e extrema competência do regime, que assim quer reanimar a economia com uma enorme fonte de mão-de-obra barata e disposta a tudo.

Como a Democracia assenta na soberania do Povo, se a prática não corresponder à teoria, então é porque o Povo é, realmente, muito estúpido.



(João Carlos Pereira)

1 comentário:

Anónimo disse...

É verdade, sim senhor. os «democratas» que andam por aí a tratar da vida (da vida deles antes de mais) sugam mais o povo que os fascistas do velhos tempos.

Arre burro!

Um trabalhador da CMS