Finalmente, o PS livrou-se do cancro. Acaba de eleger um novo secretário-geral, que – julgo eu – será um homem idóneo e sério, com um passado impecável, pessoa bem formada, tida como incorruptível, estimada e respeitada no país e no estrangeiro, com competências realmente adquiridas em honradas fontes do saber, enfim, alguém decente e capaz (caso os portugueses voltassem a confiar no PS) de salvar o país do atoleiro financeiro, económico e moral onde o seu antecessor o meteu. Tratar-se-á, acima de tudo – e outra coisa seria impensável – de alguém sem qualquer responsabilidade na pavorosa situação que hoje vivemos, perfeitamente alheio ao turbilhão de irresponsabilidade, mentira, corrupção, amiguismo e desconcerto das contas públicas que caracterizaram a governação socialista nos últimos seis anos. (E parece que a dimensão do buraco arranjado por Sócrates e respectiva súcia ultrapassa os palpites dos mais pessimistas. Ou seja: a procissão ainda vai no adro).
Como consequência do desvairo criminoso do maior sacripanta que alguma vez governou este país, Portugal tem a pior taxa de crescimento económico dos últimos 90 anos, a maior taxa de desemprego dos últimos 80 anos, a maior dívida pública dos últimos 160 anos e a maior dívida externa dos últimos 120 anos. Ele – o improvável engenheiro – é o escárnio de toda a Europa e arredores – e, com ele, o país – tanto pela criminosa inconsistência das políticas adoptadas, como pela psicótica teimosia em negar a realidade. Em aldrabar, falando bom português. E a par do descalabro económico e financeiro, o país também se arruinou em todas as vertentes da sua natureza, especialmente no plano moral, fruto dos maus exemplos e dos múltiplos escândalos que envolveram altas figura do aparelho do Estado e da alta finança – o próprio primeiro-ministro, seus amigos do peito e gente da sua confiança – com a Justiça a dar à venda a função que ela não tem: a de não ver, em vez de cortar a direito. A esta infâmia se chegou, com a complacência dos altos patamares do aparelho judiciário. Foi o PS de Sócrates no seu imenso – e pútrido – esplendor.
Muito bem. Sócrates demitiu-se – ou criou as condições para justificar a fuga – vamos ter eleições, mas falta qualquer coisa. Os longos seis anos de governação socialista sujeitaram o país à demência de um homem a quem ninguém, em seu perfeito juízo, entregaria a chave da sua casa para lhe regar as plantas, mas a quem o triste e asnático povo português – que nem de porrada é farto – entregou as chaves do reino. Falta, em primeiro lugar, que governantes e deputados responsáveis por cataclismos como aquele que aí temos, sejam, de facto, impedidos de voltar a ter responsabilidades políticas. Já mostraram o que (não) valem. Em segundo lugar, deveriam ser criminalmente responsabilizados pelas suas malfeitorias, consciente e repetidamente cometidas. Milhões de portugueses estão a sofrer, há anos, as consequências de governações dolosas – e não é exagerado dizer que, por causa delas, muita gente perdeu a vida, e muita outra a irá perder antes do seu tempo.
Quanto a Passos Coelho, que já se imagina o novo primeiro-ministro de Portugal, seria bom que soubesse que não basta ter uma licenciatura insuspeita e ser honrado quanto baste. É fundamental, mas não é tudo. É preciso entender que foram as políticas seguidas que levaram ao buracão que aí está. Será pedir-lhe muito que pense noutras saídas?
Mas o que interessa é que o PS escolheu um novo secretário-geral. Deve ser alguém determinado a redimir o PS de anos e anos de crimes contra o povo português. Por momentos, pensei que iriam insistir em Sócrates. Se o fizessem, lá tinha eu que perguntar: mas não há ninguém sério no PS?
(João Carlos Pereira)
Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 30/03/2011.