quarta-feira, 20 de abril de 2011

OS AGIOTAS



Se vires alguém com fome, não lhe dês um peixe. Ensina-o a pescar. Este adágio chinês vem mesmo a propósito do pedido de ajuda externa que o governo socialista do engenheiro Sócrates fez, em desespero de causa, para evitar o colapso total da nossa economia, triste corolário da sua tresloucada governação. O pior é que a ajuda externa nem sequer é a esmola do peixe. E, muito menos, ensinar a pescar. O que está a acontecer em Portugal é bem a prova disso, e explica-se em poucas palavras. Só não ficará a saber quem não quiser – e só não se indignará quem achar que os povos devem ser manadas de carneiros toda a vida.

Quando um país pede ajuda externa, quais são as condições que logo lhe são impostas pelos investidores? Sempre as mesmas: redução da despesa, através dos despedimentos, cortes de salários e pensões, diminuição ou eliminação de prestações sociais. E para além de passarem a ganhar menos, as pessoas também vêem reduzido – ou mais caro – o acesso à Saúde, à Educação e à Justiça. E não basta reduzir a despesa, é também necessário aumentar a receita. Por isso, sobem os impostos, as cargas horárias aumentam, intensificam-se os ritmos de produção e sobem os preços dos bens e serviços. Conclusão? Milhões de pessoas pagam as loucuras da governação, o que equivale, em termos de economia doméstica, a pôr toda a família a passar fome e a dormir ao relento, apenas porque, para além de não se ter rendimentos para uma vida decente, esses poucos rendimentos foram esbanjados, por quem governa a casa, em despesas supérfluas. Que estas receitas não resolvem o problema, já todos devíamos ter percebido, na medida em que não foi a primeira vez que esta ajuda foi pedida. E, se não mudarmos de vida – isto é: de políticas – não será a última. Qual a receita, então? Aprender a pescar, como é óbvio.

Mas aprender a pescar não interessa aos usurários – ou seja, os senhores investidores, no linguajar do senhor Cavaco Silva. Nem interessa aos países que nos vendem o aço, o leite, o trigo, o peixe, a carne, a fruta, os legumes, a roupa e tudo aquilo que é essencial à nossa vida. Dizem-nos para sermos mais competitivos, ao seja, para produzirmos o que já produzimos, mas a preços mais baixos. Em língua de gente, querem dizer apenas isto: produzam mais e melhor por salários cada vez mais pequenos.

O que eu gostaria era que os senhores investidores nos dissessem assim: vamos financiar-vos para vocês desenvolveram a vossa agricultura, as vossas pescas, a vossa agropecuária, a vossa indústria e todas as vossas infra-estruturas produtivas. Vocês devem passar a produzir a maior parte do que precisam, porque assim é que o vosso défice baixa de forma sustentada. Vocês não podem livrar-se dos credores se não produzirem mais riqueza, isto é, se não ganharem o suficiente para sustentar a vossa casa. Vá lá, tomem juízo, deitem-se ao trabalho e, principalmente, dividam bem a riqueza que produzirem.

Não! Isto, os senhores investidores não dizem, nem a senhora Merkel, nem o senhor Sarkozy. Porque não são malucos; porque não se mata a galinha dos ovos de ouro. E também não é isto que querem os «patriotas» que nos governam, que se sujeitaram a reduzir à expressão mais simples o nosso aparelho produtivo, para podermos ser uns pindéricos parceiros do clube europeu. Como ninguém quer que a riqueza seja justamente distribuída, porque os bancos precisam que os indígenas dependam do crédito para irem sobrevivendo. E distribuir melhor a riqueza significaria reduzir os lucros dos agiotas e de toda a corte de parasitas que têm ao seu serviço.

Perceberam agora porque é que as coisas estão como estão?




(João Carlos Pereira)




Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 20/04/2011.

1 comentário:

João Massapina - Blog's disse...

Caro João Carlos
Objetivamente concordo, só que Portugal recebeu resmas de apoios para fazer isso tudo durante anos e anos, e nada fez, sendo que alguns ainda por cima comeram o dinheiro dos apoios em carros de luxo e moradias de alto estilo.
Acham mesmo que as diversas entidades internacionais iriam cair no mesmo erro novamente...
Só voltariamos a ter ajudas, desde que a vigilancia fosse digna desse nome, e como em Portugal existem muito mais que 40 Ali Babas, ninguém já confia nos portugas.
Saudações amigas