quarta-feira, 25 de maio de 2011

A PALHAÇADA ELEITORAL

Com quase toda a gente entretida com a algazarra da campanha eleitoral, aparentemente convencida que as eleições de 5 Junho se fazem para resolver os nossos problemas, não há espaço nem tempo para falar verdade. E a verdade é simples, mas brutal: as eleições são uma palhaçada. Saia quem sair vencedor, o nosso futuro está escrito e rescrito. Quem nos vai governar – como tem governado até aqui – são os donos do dinheiro. Sócrates, Passos Coelho ou Portas não passam de meros figurantes, os palhaços de serviço, cuja principal responsabilidade é entreter a malta e fazê-la acreditar que o voto serve para alguma coisa. É tudo cenário, é tudo uma patranha, é tudo uma falácia.

A lógica eleitoral do povo português é punir quem está a governar, ou votar no «clube» do seu coração. Por isso, cerca de 70% dos eleitores vai às urnas com o único propósito de se vingar ou, na melhor das hipóteses, dar a vitória às suas cores, querendo lá saber do que virá a seguir. Ganhe o seu clube – ou melhor: perca o clube do adversário –, e que se lixe o desemprego, a perda do poder de compra, a penhora da casinha, o filho que nunca mais tem vida própria, a fominha, a operação que não se pode fazer, a roupa que não se pode comprar, os estudos que têm que ser interrompidos. Ganhámos as eleições, está tudo bem.

É claro que entre Sócrates e Passos Coelho há diferenças. Sócrates é, acima de tudo, um intrujão desvairado; e Passos Coelho é, acima de tudo, um totó inconsistente. Já entre PS e PSD não há diferenças nenhumas, salvo nas palavras.

O PS finge que defende o estado social, mas só o tem destruído;
e o PSD nem se dá ao trabalho de fingir.

O PS finge que não quer privatizar tudo, mas jamais algum partido privatizou tanto como ele;
o PSD não está com meias medidas: quer privatizar o mesmo que o PS, mas não se importa de o confessar.

Para um e para outro, as necessidades das pessoas são, antes de tudo, uma fonte de receita para que tem nas mãos o que precisamos para viver. Do comprimido à água, da educação à reforma, da maternidade ao cemitério. Paulo Portas, no meio disto tudo, não passa de um contra-peso.

Agora, toda a gente sabe que vamos ser governados pelos donos do dinheiro. Aliás, eles gostam de nos governar sem que se note, como agora aconteceu, com a vinda da Troika. Eles preferem não ser vistos, nem ouvidos, nem falados. Para fazer o seu trabalho é que existem os governos. Só quando os governos se espalham ao comprido, como aconteceu por via das loucuras de Sócrates, é que eles são obrigados a pôr ordem na casa, não vá o diabo tecê-las.

Mas são eles que sempre nos governaram. Eles determinam os preços das matérias-primas e de todos os recursos naturais, os juros e o preço do nosso trabalho. Eles não podem admitir que os povos – e os países – possam viver sem ter que recorrer ao dinheiro deles. Para cúmulo, o dinheiro deles é – vejam bem – nada mais, nada menos, do que o nosso dinheiro. Porque o depositámos nos bancos, ou porque fomos nós, os trabalhadores, que criámos a riqueza que, depois, se traduz em notas de banco.

São eles que nos governam. Sócrates e Passos, não passam de meros palhaços. E, ainda por cima, péssimos palhaços.

E as eleições são mera palhaçada. E um suicídio.

Pelo menos, enquanto os portugueses votarem como têm votado.




(João Carlos Pereira)


Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 25/05/2011.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

OS EXTERMINADORES IMPLACÁVEIS

Durante mais de 35 anos eles destruíram a nossa indústria, as nossas pescas, a nossa pecuária, a nossa agricultura.

Venderam ao desbarato a Siderurgia Nacional, arrasaram os estaleiros navais, arruinaram a indústria vidreira, desmantelaram a metalomecânica pesada e os têxteis.

Sabotaram as grandes empresas públicas para justificar a sua entrega ao sector privado – leia-se: aos grandes grupos económicos.

Ao fazê-lo, sacrificaram as nossas vidas aos interesses do lucro dos déspotas do capital financeiro mas, em contrapartida, foram compensados com tachos milionários nos conselhos de administração das empresas assim beneficiadas.

Hoje, a satisfação de quase todas as nossas necessidades básicas depende do quanto pudermos pagar aos senhores que, ao preço da uva mijona, compraram os sectores estratégicos da economia. Como se não bastasse, o Estado obriga-nos a comprar certos bens e serviços a esses mesmos privados, seja a inspecção do automóvel, sejam os seguros obrigatórios, sejam os chips para circularmos nas vias públicas. Querem obrigar-nos a mudar de pneus de quatro em quatro anos, mesmo que eles estejam como novos.

Ao longo de 35 dolorosos anos, o Serviço Nacional de Saúde foi sendo cientificamente estrangulado, para abrir espaço aos privados. Exemplo disso, é o vergonhoso estado a que chegou a maternidade Alfredo da Costa, onde os utentes são solicitados a contribuir com qualquer coisinha, pois fraldas, leite e medicamentos não chegam para as encomendas. O sistema público de educação sofreu ataques furiosos, enquanto os privados prosperam.

A privatização dos cemitérios já veio à baila. As empresas público-privadas custam balúrdios ao Estado, mas fazem as delícias dos administradores e respectivos séquitos.

A ÚLTIMA FRONTEIRA DESTA FÚRIA DEVORADORA É A ÁGUA.

Aquilo que os reis – até os mais tiranos – cuidavam que não faltasse ao povo, espalhando chafarizes por toda a parte, querem estes bastardos ao serviço do grande capital entregar, também, nas mãos gulosas da grande vampiragem.

Durante 35 anos eles atascaram o aparelho do Estado com – e a expressão é de D. Manuel Martins, antigo Bispo de Setúbal – os amigos, os parentes, os amigos dos parentes e os parentes dos amigos – e quando a gamela já não chegava para tanto bácoro, inventaram os institutos, as fundações e as empresas públicas, onde deram assento de luxo a um infinito bando de amigalhaços.

Paralelamente, criaram esquemas de financiamento partidário, com base na adjudicação de obras e fornecimentos públicos, onde parte importante dos custos é encaminhado para o partido no poder – seja a nível central, seja a nível local – ficando sempre parte importante da verba no bolso do fiel intermediário.

Chegámos ao que hoje sabemos. Diziam que as suas políticas eram a receita para salvar o país. Aí está o resultado: um abismo.

Quando é que esta gente responde pelos seus crimes?





(João Carlos Pereira)

Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 18/05/2011.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

PRENDÊ-LOS? ERA POUCO…

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Se os argumentos de Catroga para levar Sócrates a tribunal fossem aplicados à letra – e eu acho que sim – então Catroga também deve fazer parte da lista. Catroga e Soares, Cavaco e Guterres, Durão e Manuela, Cadilhe e Beleza, Portas, Bagão, Constâncio (como ceguinho-mor agarrado à teta do banco de Portugal) e todos quanto passaram pelos governos do PS e PSD, com as muletas dos CDS e PPM.

Claro que o PS, com 18,6 anos de governação, e o PSD, com 15,5 anos de governação, são as organizações criminosas com mais responsabilidades nos crimes de lesa-pátria que agora percebemos terem sido cometidos. É julgá-los, sem dúvida, e sem qualquer espécie de atenuantes.

Como réus maiores, inquestionavelmente, Sócrates e o PS. Pela dimensão e gravidade dos crimes, pela sua contumácia, pelo número de vítimas causado e, no que a Sócrates respeita, pela forma dolosa como foram cometidos, nitidamente consciente dos males que causava, o que se prova pela forma como pretendeu, constantemente, negá-los, dissimulá-los e atribuir a terceiros a sua autoria. Ele é, sem dúvida, o mais perigoso dos criminosos a levar a julgamento. Provas? Ei-las:

Anos de Poder
PS: 18,6 - PSD – 15,5

Dívida pública contraída
PS: 113,7 mil milhões - PSD 55 mil milhões

Neste imenso buraco, qual a responsabilidade de Sócrates?
Anos de poder: 6
Dívida Pública contraída: 83 mil milhões


(quase tanto como os outros governos todos juntos!)

Na dívida pública contraída pelo PS, nos seus 18,6 anos de poder, que totaliza 113,7 mil milhões de euros, Sócrates, em apenas 6 anos, é responsável por 83 mil milhões. Isto é: em menos de 1/3 do tempo em que o PS, por infelicidade nossa, esteve no poder, Sócrates cometeu a proeza de ser o autor de quase 74% da dívida contraída pelo bando do Largo do Rato.

Em 37 anos de (digamos) democracia, o PS governou mais de 18, e o PSD mais de 15. Endividaram o país em quase 170 mil milhões de euros, esbanjaram fundos comunitários, arrasaram a economia, venderam o aparelho produtivo ao estrangeiro, encheram o aparelho do estado de parasitas com os seus cartões partidários, decretaram para a corja governante bons salários e reformas rápidas, para além de acesso a muitos e generosos tachos, abriram o buraco das contas públicas – que iam tapando com novos e sempre mais caros empréstimos – e apresentam-se agora como os grandes salvadores da Pátria.

Sócrates – de entre todos o maior responsável pela desgraça a que chegámos – ainda anda por aí como se nada fosse com ele. E parece que este povo, desgraçado e obtuso, ainda não percebeu em que buraco está metido. A que gente está entregue.

Portugal não é um país: é uma pocilga.




(João Carlos Pereira)


Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 11/05/2011.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

O ESPANTO DE UM OCIDENTAL

Acabei de aterrar em Portugal, país que, segundo ouvi, integra uma comunidade europeia com 27 países, entre os quais a nata da civilização ocidental, de inspiração judaico-cristã e, sem a menor dúvida, berço da todas as democracias – as havidas e as por haver. Recordo que essa civilização levou ao mundo inteiro as luzes da Verdade, da Justiça e da verdadeira Fé, coisa que fez a bem (sempre que possível), ou a mal, fosse à ponta de espada, ou à lei da bala (quando os indígenas, ou nativos, não estavam muito receptivos à boa-nova). Uma das coisas que me chamou a atenção, foi verificar a quantidade de especialista em política mundial que existem neste país. Sabem, por exemplo, tudo sobre Cuba, Líbia, Coreia do Norte, Venezuela, Iraque, China ou Afeganistão. E têm soluções para todos os problemas que existem nesses países. Segundo parece, consiste em adoptar um sistema político e económico igual ao português.

Contudo, mal cheguei, deparei-me com algumas situações que julgava verdadeiramente impensáveis. Passo já aos factos, retirados de fontes insuspeitas, tais como o INE, o EUROSTAT, relatórios do Banco de Portugal e comunicação social. Desemprego galopante. Salários e pensões baixíssimos. Criminalidade a dar com um pau. Prostituição esquina sim, esquina não, pinheiro sim, pinheiro não, para além das senhoras que se oferecem, aos milhares, em dezenas de páginas de requintado bom gosto, nalguns jornais nacionais, com publicidade paga. Falências aos milhares. Corrupção, upa, upa, principalmente a nível de órgãos de soberania e da administração. Crime de colarinho branco que, tal como a prostituição e a corrupção, são as únicas actividades florescentes, bem se podendo considerar as verdadeiras – e grandes – indústrias nacionais. Milhares de doentes em listas de espera. Fome. Cerca de dois milhões de portugueses considerados pobres ou a raiar a miséria. Dos realmente miseráveis, não rezam as estatísticas. A agricultura, as pescas e a indústria reduzidas à sua expressão mais simples. Ao mesmo tempo, uma elite política e empresarial estabelece para si ordenados, reformas e prémios de gestão – mesmo quando as suas empresas dão prejuízo – dignos de autênticos nababos.

Para além disto tudo, fiquei a saber que o país está nas lonas, apesar de o senhor primeiro-ministro dizer – e eu li e ouvi isso, no estrangeiro – ainda há bem pouco tempo, que Portugal estava bem e até se recomendava, podendo ser um exemplo para outras nações. Mas, de repente, pumba! Falimos. Por isso, andam, por aí uns senhores a ver o estado a que chegámos e, segundo se diz, vão apresentar uma factura duríssima, que a maioria dos portugueses vai ter que pagar com língua de palmo.

Acrescento que não acreditava quando, lá fora, ouvia dizer que Portugal era uma anedota, os governantes uns autênticos embusteiros, gente sem crédito, tudo isto ilustrado com histórias verdadeiramente incríveis. Pensei que era tudo uma campanha negra, uma imensa cabala. Pelos vistos, enganei-me. Como foi isto possível? Será que é tudo verdade, ou estarei a viver um pesadelo?

Será isto que os sabichões que por aí opinam, tal como os vários especialistas em política internacional, querem exportar para países como Cuba, por exemplo?




(João Carlos Pereira)



Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 04/05/2011.