
A lógica eleitoral do povo português é punir quem está a governar, ou votar no «clube» do seu coração. Por isso, cerca de 70% dos eleitores vai às urnas com o único propósito de se vingar ou, na melhor das hipóteses, dar a vitória às suas cores, querendo lá saber do que virá a seguir. Ganhe o seu clube – ou melhor: perca o clube do adversário –, e que se lixe o desemprego, a perda do poder de compra, a penhora da casinha, o filho que nunca mais tem vida própria, a fominha, a operação que não se pode fazer, a roupa que não se pode comprar, os estudos que têm que ser interrompidos. Ganhámos as eleições, está tudo bem.
É claro que entre Sócrates e Passos Coelho há diferenças. Sócrates é

O PS finge que defende o estado social, mas só o tem destruído;
e o PSD nem se dá ao trabalho de fingir.
O PS finge que não quer privatizar tudo, mas jamais algum partido privatizou tanto como ele;
o PSD não está com meias medidas: quer privatizar o mesmo que o PS, mas não se importa de o confessar.
Para um e para outro, as necessidades das pessoas são, antes de tudo, uma fonte de receita para que tem nas mãos o que precisamos para viver. Do comprimido à água, da educação à reforma, da maternidade ao cemitério. Paulo Portas, no meio disto tudo, não passa de um contra-peso.
Agora, toda a

Mas são eles que sempre nos governaram. Eles determinam os preços das matérias-primas e de todos os recursos naturais, os juros e o preço do nosso trabalho. Eles não podem admitir que os povos – e os países – possam viver sem ter que recorrer ao dinheiro deles. Para cúmulo, o dinheiro deles é – vejam bem – nada mais, nada menos, do que o nosso dinheiro. Porque o depositámos nos bancos, ou porque fomos nós, os trabalhadores, que criámos a riqueza que, depois, se traduz em notas de banco.
São eles que nos governam. Sócrates e Passos, não passam de meros palhaços. E, ainda por cima, péssimos palhaços.
E as eleições são mera palhaçada. E um suicídio.
Pelo menos, enquanto os portugueses votarem como têm votado.

(João Carlos Pereira)
Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 25/05/2011.