quarta-feira, 17 de agosto de 2011

NÃO SE PODE NACIONALIZAR OS “INVESTIDORES”?



Esta crónica é da responsabilidade de todos os meus contactos – e são mais de cem. Enviei o seu esboço para todos eles e pedi-lhes que a corrigissem no que entendessem. Só recebi aplausos. Nenhuma crítica contrária, nenhuma correcção, nenhuma dúvida, sequer. Ela é, por isso, uma homenagem a todos os meus amigos.

O planeta onde vivemos está dividido em países. Que eu saiba, não há nenhuma parte do mundo – isto é; não há nenhum território – que não pertença a um estado (deixemos o Vaticano em paz, apesar de também ser um estado). Também que eu saiba, todos os estados têm um governo. É igualmente verdade que o trabalho realizado em cada país produz riqueza. Sem querer imitar o senhor Jacques de la Palisse, sou forçado a dizer que, se tudo o que disse antes é verdade, toda a riqueza produzida no planeta resulta do trabalho (manual e intelectual) realizado em cada um desses estados, contando com as riquezas naturais, como a água (atenção aos sedentos, que querem a água toda para eles, para depois a venderem ao preço que quiserem).

Também me parece óbvio que cada governo deve gerir a riqueza produzida – principalmente as riquezas naturais – no seu país e promover as condições necessárias a que o trabalho seja orientado para a criação de cada vez mais riqueza. Outra verdade indiscutível, diz-nos que todos os governos cobram impostos. Ora, se os governos tiverem uma política fiscal justa e equilibrada, conseguem receitas suficientes para gastar na resolução de problemas existentes nos seus países e na promoção do respectivo desenvolvimento.

Se até aqui tudo está certo, TODA a riqueza do mundo (traduzida em bens ou moeda) estaria, obviamente, nas mãos dos estados, para investimento, ou aplicada em cada país, através de equipamentos e serviços e, logo que os mesmos sejam suficientes, divididos pela população, também segundo critérios de equidade.

Então, porque é que os estados estão a ficar tesos (e até a maior economia do mundo, como eles dizem, não consegue pagar o que deve) e têm que pedir dinheiro emprestado a…

Esta agora! A quem?

Das duas, uma:

1 – ou a extraterrestres;

2 – ou a pessoas que, dentro dos estados, andam a arrebanhar a riqueza produzida por quem trabalha – porque sem trabalho não há riqueza -, levando os países à penúria e, consequentemente, à necessidade de lhes ir pedir dinheiro emprestado;

3 - então, se assim é, em que país – ou países – vivem? Que impostos pagam? Qual a actividade que desenvolvem (que riqueza criam), para terem acumulado assim tanto dinheiro? Para terem tanto sucesso, devem ser pessoas conhecidas, tal como as suas firmas e os seus negócios. Ou não?

Como eu não acredito em extraterrestres, nem essas pessoas vivem num país só delas, há alguns governos que andam, há muito tempo, a desviar dinheiro – que é nosso – para o bolso de quem não mexe uma palha. Ou seja. A entregar o ouro ao bandido – aos senhores investidores.

Resumindo:

1 – As classes laboriosas, que são quem produz a riqueza, vivem à míngua – e grande parte nem isso;

2 – Os governos, que cobram os impostos que querem e determinam as políticas produtivas e o investimento, estão todos tesos, derreteram o dinheiro, criaram défices monstruosos e andam por aí de mão estendida;

3 – Mas umas pessoas, que jamais alguém as viu trabalhar, têm tanta riqueza acumulada que podem emprestar dinheiro aos estados, determinar as taxas de juros e ditar leis, apesar de não serem eleitos para isso.

De onde lhes veio a riqueza? Alguém sabe?

A propósito: se foi possível nacionalizar o BPN, não se pode nacionalizar os «investidores»? Ou, se não for possível, encostá-los à parede?



(João Carlos Pereira)


Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 17/08/2011.

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