Já estou a ouvir os gritos indignados de algumas pessoas que eu conheço, todas encrespadas a debitar desculpas e justificações para estas cascatas de ouro, na parte que toca aos nomes ligados aos seu partido (quanto aos nomes do outro partido, batem palmas), e argumentando velhacamente, e em desespero de causa, que isto é resultado do 25 de Abril.
Encho-me de pachorra e lá vou tentando explicar-lhes que não, não é nada disso, este tipo de amanhanços não tem nada a ver com o 25 de Abril, mas com o assalto que os filhos e netos do fascismo – quer a nível político, quer a nível financeiro e económico – fizeram ao aparelho do Estado, nele se entrincheirando bem armados e equipados. Herdeiros que, diga-se a verdade, são mais glutões e descarados do que os seus pais e avós, que tinham algumas maneiras à mesa e um pouco de vergonha na cara.
Vejam bem que uma dessas criaturas dizia-me, há dias, que os escândalos verificados nas empresas públicas de transportes, com a distribuição de benesses aos senhores administradores, era culpa do 25 de Abril, que as nacionalizou, e não de terem sido administradas por gente nomeada, à vez, por governos do PS e PSD (ora agora roubas tu, ora agora roubo eu), numa clara afronta aos valores do 25 de Abril, já para não dizer, aos valores republicanos e democráticos. Para aquela cabecinha, os “boys” e “girls” que administram, por escolha do PS e do PSD, a CP, a TAP, o Metro, a Transtejo ou a Soflusa nem queriam carros de luxo, ordenados opíparos, cartões de crédito bem recheados, telemóveis de “plafond” ilimitado, reforma cedo e choruda, etc, etc, mas foi o 25 de Abril que lhes disse: Façam favor de aceitar, caso contrário vai tudo preso.
Com gatunos destes – e com eleitores destes – alguém acredita que este país – esta enxovia – algum dia terá cura?
(João Carlos Pereira)
Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 12/10/2011.
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