quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

DÁ CÁ O MEU!

Segundo o semanário Expresso, foi proposto à Assembleia Municipal de Cascais, de maioria PSD, que o cabaz de Natal e o bolo-rei que a autarquia costuma oferecer, nesta altura, aos senhores e senhoras deputados municipais, fossem distribuídos por famílias carenciadas. Não estranho que os dinheiros públicos possam ser utilizados desta forma, como se eleitos municipais, para além dos seus ordenados e das roliças senhas de presença, ainda tivessem direito a miminhos pelo Natal, pagos pelo Zé, e logo num ano em que o Natal vai ser, para milhões de compatriotas nossos, um tempo frio e amargo. E não estranho, porque é sabido que neste miserável e pestilento país os detentores de cargos políticos têm por hábito encher a pança à conta do pagode, seja qual for o pretexto. O amanhanço faz parte do cargo, é o venha a nós enquanto há, nem que seja um mísero cabaz de Natal e um bolo-rei, ainda por cima sem fava e sem brinde, que a UE, sempre preocupada com a nossa saúde, não quer que morramos engasgados. À míngua, pode ser; asfixiados, jamais!

Pensava eu que a proposta seria aprovada por unanimidade e aclamação, nem que fosse para inglês ver. Julgava, mas enganei-me. A votação deu uns interessantes 16-16, competindo ao senhor presidente desempatar. E o senhor presidente, eleito pelo CDS/PP, dentro do espírito cristão que caracteriza os centristas, lá desempatou a coisa. Mantenha-se a esmola aos senhores deputados, que devido aos cortes no subsídio de Natal podem ter algumas dificuldades este mês. E depois, que diferença fariam trinta e tal cabazes de Natal no meio da tanta fome que por aí vai? Para além disso, essa gente, a que chamamos carenciada, não pode ser mal habituada. Na volta ainda vinham, daqui a um ano, exigir, como direito adquirido, um cabaz de Natal para toda a gente que passa mal – e para toda a vida. Então, mais de trinta cabazes de Natal e bolos-rei, pagos com o dinheiro dos munícipes, vão aconchegar a mesa dos senhores deputados municipais de Cascais, pelo menos daqueles que votaram a favor da manutenção de obscena regalia.

Este episódio retrata bem o carácter de grande parte da nossa classe política. Para a maioria, os cargos são, antes de mais, um por aqui me sirvo despudorado. Deitam a mão a tudo o que podem, tudo serve de pretexto para regalar a pança e satisfazer a gula. E a sofreguidão é de tal ordem, que nem se dão ao trabalho de disfarçar. Ou de pensar duas vezes.

Boçais, tacanhos, ávidos e devassos, arregalam os olhos e salivam o verdume da ganância, mal lhes passa à frente a hipótese de um ganho. Se não são capazes de se conter com um cabaz de Natal e um bolo-rei, veja-se lá do que estas alimárias não são capazes.

O país a saque? Que ideia! É só assim uma espécie de Ó Abreu, dá cá o meu!

E o povo que se lixe!





(João Carlos Pereira)



Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 14/12/2011.

5 comentários:

Anónimo disse...

Muitas vezes estou de acordo com o tema das suas crónicas, mas desta vez acho que está a ser injusto.
Então as excelências não hão-de ter direito a um cabazinho de Natal? Como poderiam eles passar sem os pinhões, as nozes e o espumante? Penso até que o mesmo deveria ser acompanhado por um peru e como o Presidente da Assembleia Municipal é o “dono” das cervejas, não ficaria mal também uma gredezita de “mines”.
Será que esta gente não se vai engasgar na noite de Natal? Se calhar alguns até vão à Missa do Galo rezar pelos pobrezinhos.
Cambada!

joaocarlos42@gmail.com disse...

O que me assusta, o que me indigna, o que me revolta é que este triste e lazarento povo, com poucas excepções, continue a alimentar este tipo de gente como se ela, em vez de votos, não merecesse cachaporra em cima.

Ou a mais pura e dura Justiça Popular.

Anónimo disse...

Cachaporra?! Qual cachaporra qual caraças! Corda à volta do pescoço, porque o Tribunal Penal Internacional não julga os crimes dos seus comparsas. Gente deste calibre é que comete todos os dias crimes contra a Humanidade.

Morte aos vampiros!

Zé do Telhado

Anónimo disse...

"O que mais me preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem carácter, nem dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons"

Martin Luther King

Obrigado João Carlos pelas suas crónicas e denúncias.

joaocarlos42@gmail.com disse...

problema é que os bons, regra geral, padecem de vários males, entre os quais:

1 - Acreditam na boa-fé do partido em que votam;
2 - Acham que as coisas são mesmo assim;
3 - Os senhores doutores, de fato e gravata e bom discurso, têm sempre razão.
4 -Pensam sempre algo semelhante a isto: para que há-de um gajo chatear-se? NMão há volta a dar...

Ou seja: podem ser bons, mas são um pouco para o estúpido.