quarta-feira, 21 de março de 2012

O PAÍS DAS MARAVILHAS

O valor pago pelos contribuintes para nacionalizar e reprivatizar o BPN dava para cobrir a consolidação orçamental que aumentou impostos e cortou salários e subsídios de Natal em 2011. E o que ainda virá. Para já, estão garantidos quase 5.500 milhões de euros, pagos pelo povo português, para entregar o banco aos angolanos do BIC, onde pontifica o senhor Mira Amaral, distinto e encantador social-democrata. Para agradecer a oferta, os angolanos gratificam o governo com uma gorjeta de 40 milhões de euros, e não digas que vais daqui. Por enquanto, ainda ninguém foi condenado.

Em Agosto de 2011, os utilizadores da Ponte 25 de Abril pagaram portagens, mas a Lusoponte, onde pontifica, como administrador, o senhor Ferreira do Amaral, também ele distinto e inefável social-democrata – o mesmo que, por sinal, enquanto ministro, fez o favor de oferecer à Lusoponte o negócio das travessias rodoviárias do Tejo – foi também compensada pelo Estado, como se as portagens não tivessem sido pagas. Vindo o caso a lume, fala-se agora em acerto de contas. Às vezes, é bom os casos virem a lume. Outras, como no caso do BPN, não serve para nada.
As parcerias público-privadas deram milhões de prejuízo ao Estado, exactamente os mesmos milhões que encheram os bolsos dos parceiros privados. Di-lo o ministério das Finanças, di-lo o Tribunal de Contas, até a Troika o disse. Vai daí, o governo, para mostrar ao povo que está aí para as curvas, resolveu encarregar uma empresa privada, a Ernst & Young, da auditoria para apurar o que se passa. Por acaso – e só por acaso, claro – esta consultora trabalha para os grandes beneficiários das famigeradas parcerias. Se ainda ninguém foi preso, não é assim que vai ser, como é óbvio.

Sócrates leva, em Paris, uma vida de nababo, enquanto é notícia, em Portugal, sempre que há uma sessão de julgamento do Face Oculta ou do Freeport. Já para não se falar no escândalo da sua licenciatura, agora reanimado com a divulgação das escutas das conversas escabrosas que manteve com o reitor da UNI. Mas a Justiça portuguesa não conhece Sócrates, nem quer saber, sequer, de que rendimentos vive no luxo parisiense.



No meio desta maravilha, própria de uma democracia avançada e de um autêntico estado de direito, a riqueza criada em Portugal caiu 1,6% em 2011. Foram 1,5 mil milhões de euros a menos do que aquilo que se produziu em 2010. Porquê? Porque a austeridade, e os efeitos que teve directamente sobre o consumo das famílias – factor fundamental da riqueza de um país –, a isso conduziram. E a coisa só vai piorar.

Mas o povo é sereno. Ou melhor: serenamente bovino.









Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 21/03/2012.


1 comentário:

São disse...

Manso , manso , manso e estúpido!!!

Um abraço. meu amigo


POR FAVOR , Tira s duas abstrisas letras de verificação