(De Soares a Passos)
Mário Soares convenceu-se que só por lhe chamarem (sabe-se lá porquê!) o pai da democracia, podia fazer tudo o que lhe apetecesse. Por isso, soltou foguetes, em Março de 1975, com a nacionalização da banca, garantindo que, agora, sim, o 25 de Abril estava totalmente realizado, com o «25 de Abril económico». Que tinham sido, «finalmente, afastados os grandes suportes da ditadura». Sim, ele disse isto.
Depois, mal se apanhou com o poder na mão, foi buscar os banqueiros e, daí
a tempos, estava a pedir ajuda ao FMI. Começou a destruir o aparelho produtivo
nacional, coisa que estava intimamente relacionada com a adesão à então
designada CEE. Haveria de ser presidente da República, onde se entreteve a dar
várias voltas ao mundo. Depois de ter cavalgado os burros autóctones, chegou a
cavalgar uma tartaruga, nas Ilhas Galápagos. Hoje, nas horas vagas, e
sempre que o governo não é do PS, dá uma – ou duas – de esquerda.
Cavaco Silva convenceu-se que depois das asneiras de Soares, que
afundaram o país – e com os fundos comunitários a jorrar – a coisa estava no
papo. Seria sempre a aviar. Estoirou tudo em cimento e a deixar os amigos
encherem os bolsos – a verdadeira mãe-de-água do BPN, que viria a ser a maior
burla alguma vez acontecida em Portugal. Delapidou ainda mais o aparelho
produtivo nacional, até que foi forçado a «retirar-se», em grande parte
empurrado por aqueles a quem enchera a mula. Comprou bem umas acções fantasmas,
vendeu-as melhor, fez umas transações imobiliárias jeitosas e começou a pensar
da presidência dos matarruanos, o que viria a conseguir. Hoje, não ganha para
as despesas. Nem para se ralar.
António Guterres convenceu-se que depois de Cavaco e da sua gestão, que
afundou o país, tudo o que viesse (que, por acaso, era ele) seria uma bênção.
Bom rapaz, católico praticante – é o que consta – teve o primeiro susto ao
inteirar-se do verdadeiro estado do país. Passou uns dias no Hospital da CUF, a
recuperar do abalo.
Sabendo a escória que tinha no partido, resolver rodear-se de «gente nova
e promissora», para o que foi buscar jovens ambiciosos e sedentos de sucesso.
Sócrates e Vara, por exemplo. Não há job para boys, foi a sua frase mais
sonante – e também aquela que teve menos correspondência na realidade. Os
rapazes «ambiciosos e sedentos de sucesso», que tinham chegado a Lisboa aos
trambolhões, logo se deslumbraram, como alguém disse, com as luzes da cidade,
com os restaurantes da cidade, com os automóveis da cidade, com os bancos – e
os banqueiros – da cidade, com os negócios da cidade, enfim, com as
possibilidades da cidade, principalmente quando se tem o poder nas mãos.
Um dia, depois de eleições autárquicas que não correram nada bem, reparou
que estava atolado num pântano. E fugiu. Encontra-se, hoje em dia, refugiado no
Alto Comissariado da ONU para os Refugiados, onde trata de si e, se houver
tempo e verba, dos outros refugiados.
Durão Barroso convenceu-se que depois do pântano de Guterres, onde o país
se afundara, nada de pior podia acontecer. Cedo descobriu que o país não só se
afundara, como estava de tanga. Percebendo isto, piscou o olho a Bruxelas e,
certamente por bruxedo, conseguiu fugir para lá, onde é presidente da Comissão
Europeia. O país ficou ainda mais atascado – e a tanga mais esfarrapada. Ele está
muito bem da vida, e quase ninguém se lembra dos seus tempos de esforçado MRPP.
Sócrates convenceu-se que era um génio e um protegido dos deuses. Se os
seus antecessores lhe legaram um país de pantanas, e estavam todos bem na vida,
ele tinha todas as condições para fazer mais e melhor. E fez. Alargou o
pântano, vendeu a tanga e elevou à décima potência tudo o que de pior antes
dele fora feito. Pelo meio, descobriu que o pântano era o sítio ideal para
deitar toda a espécie de lixo, incluindo os lixos morais. O pântano passou a
borbulhar. Como o país integrava um espaço económico livre a alargado como
nunca o fora, todos os tipos de traficâncias passaram a ser permitidas.
Empenhado nestas proveitosas veniagas, não percebeu que o enriquecimento de uns
quantos – ele incluído – não era o enriquecimento do país. Pelo contrário:
agora, nem água pantanosa havia. Não quis acreditar no que via, e deu por si a
acreditar, delirantemente, sabe-se lá em quê. Já na fase de estrebucho, pediu
ajuda externa, mas, tal como Guterres e Durão, achou melhor mudar de ares.
Juntou uns dinheirinhos que arrebanhara no meio de várias confusões –
confusões, não: só cabalas e campanhas negras – e foi viver em Paris, onde é,
finalmente, um nababo. Às vezes vem almoçar ou jantar a Lisboa, só para ver
como param as modas. Pescar à linha. Diz-se por aí que se não foi internado num
hospício, ou num estabelecimento prisional, é porque não há medicina que o
trate, ou porque a Justiça está entregue à rainha de Inglaterra, que não tem
poderes para o efeito.
Passos Coelho convenceu-se de várias coisas. Uma, é que lhe bastava dizer
que herdara um país falido. Outra, é que era um génio maior do que Sócrates.
Outra, é que o povo, tal como disse, com mágoa, Erasmo de Roterdão, é uma
enorme e possante besta. Outra, é que, dados os factos, tinha força,
autoridade e competência para aplicar as medidas que entendesse. Outra, é que
tinha o seu partido com ele e o CDS na mão. Outra, é que bastava agradar aos
donos do dinheiro para poder fazer o que bem lhe desse na gana, e ainda o que o
Gaspar mais o Relvas, aconselhados pelo Borges, lhe dissessem. Outra, é que era
um homenzinho a sério, e não um fedelho com umas ideias neoliberais aprendidas
à pressa nos meandros da JSD e trabalhadas qb num curso de economia
tardio, para justificar um estatuto.
Convencido disto tudo, foi o «custe o que custar». Como ele nunca
soube o que foi «custar», porque nunca trabalhou, nem o Gaspar sabe o que é ser
gente comum, tal como o guru António Borges, que aos dois aconselha e é, em
certa medida, o primeiro-ministro sombra, perdeu o controlo da situação. O seu
partido logo percebeu que assim não vai lá nas próximas eleições, razão pela
qual – não, claro que não é por causa do país, nem das pessoas – lhe começou a
tirar o tapete. E Passos, tal como um garoto cobardolas e inconsciente que
apenas sabe produzir uns lugares-comuns em voz estudada para impressionar os
papalvos, aí está, a padecer do síndroma de Peter e sem saber que contas deitar
à vida. Pela primeira vez, em mais de quarenta anos, tem um problema para
resolver.
E O POVO PORTUGUÊS?
Ter-se-á, finalmente, convencido
- que de Soares a Passos,
nenhum se aproveita?
- que o problema não é só
de pessoas, mas das políticas que aplicam?
- que TODOS estes
governantes, cada qual com o seu carácter (desprezível, em qualquer deles, como
se vê) são corresponsáveis pela miséria a que o país chegou?
- que no actual quadro
político-partidário não há saída, nem recuos, nem remendos, nem soluções?
Sim, foram bonitas as manifestações, pá! Mas não creio que elas
signifiquem, para além da justa revolta pelas medidas impostas pela mais
desbragada austeridade, pelo esbulho e confisco que ela provoca, a consciência
plena de que estes alegados governantes – TODOS ELES – são apenas os executores
de políticas económicas determinadas de muito longe por gente sem rosto. Gente
que ninguém elege.
Gente que nos empresta o
dinheiro que nos foi roubado. Dinheiro para essa gente transferido pelos
governos dos países.
Não basta, por isso, deitar abaixo um governo. É preciso deitar abaixo
quem, realmente, comanda os povos, através dos governos. Ao mandarmos Passos
para a rua, devemos exigir que «o senhor que se segue» não leia pela cartilha
de Passos, Sócrates, Durão, Guterres, Cavaco ou Soares.
No fundo, é isto:
NACIONALIZAR OS INVESTIDORES. OS
MERCADOS.
- A União Europeia não
deixa?
Problema dela.
- Os EUA não gostam?
Problema deles. Na América Latina mandam cada vez menos, e «aquilo» já foi o
seu pátio das traseiras.
Eu não tenho medo da Liberdade.
E tu?
1 comentário:
Falta aqui o Portas...
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