Costumo utilizar, com frequência, um pensamento engraçado, que adquiri já nem sei onde, nem quando: diz ele, o pensamento, que um pessimista é, apenas, um optimista bem informado. Adaptando isso à nossa realidade, conclui-se que uma pessoa lúcida e atenta aos dias que correm, não pode, de forma alguma, ser optimista. Aviso já as mentes perversas que não estou a falar em derrotismo, mas a apelar ao realismo. Ou seja: vêm aí tempos ainda piores.
Olhando à minha volta – e centrando-me, apenas, na realidade que nos envolve – percebo que a crise veio para ficar. Não porque a crise seja uma coisa com vontade própria, um instrumento divino para castigar os homens, ou uma consequência de forças naturais. Claro que não. A crise explica-se pela intervenção dos homens. E, neste mundo, os homens que fazem, refazem e desfazem as crises são aqueles que têm poder para isso. O poder de fazer leis, o poder de mandar na economia, enfim, o poder de decisão sobre a vida de milhões e milhões de pessoas.
Porque não vale a penas falarmos da crise global, falemos da crise que nos afecta, já que ela tem, em si própria, todos os ingredientes da crise mundial. Li, no sítio da Internet http://www.resistir.info/, sob o título PAÍS A SAQUE E A CAMINHO DA RUÍNA, que «a depressão económica que agora se inicia no mundo capitalista, pode ser agravada ou amenizada pelas políticas dos governos nacionais. No caso português, o governo do senhor Sócrates, parece apostado em agravá-la ao máximo. Fecham empresas todas as semanas, aumenta o desemprego, os défices tornam-se assustadores, a dívida externa agrava-se a níveis monstruosos, mas ele permanece impávido nos seus projectos ruinosos – como o novo aeroporto, TGV, terceira ponte sobre o Tejo, o super-hospital de Todos os Santos, etc, etc. Enquanto isso, as universidades vivem à míngua, maternidades e centros de saúde são encerrados, as pensões de reforma são uma miséria, a repartição do rendimento é a pior de todos os países da Europa (a do Leste inclusive).
O custo do novo aeroporto está agora orçamentado em 5 mil milhões de euros. E, como toda a gente sabe, os orçamentos têm o hábito de fazer derrapagens da ordem dos 40, 50 ou mais por cento. Ao mesmo tempo, este governo autista e de lesa economia nacional ignora deliberadamente a realidade do Pico Petrolífero. Como se os preços momentaneamente baixos do barril – devido, em parte, à recessão económica – pudessem perdurar para sempre (o banqueiro M. Simmons prevê uma alta significativa dentro de seis a nove meses). E mesmo com os actuais preços baixos do barril, a TAP acaba de anunciar que foi obrigada a cancelar 2400 voos no 2.º semestre de 2009. Hoje, até mesmo altos dirigentes de companhias de petróleo recomendam "poupar, poupar, poupar" . Mas os governos, ao serviço dos grandes empreiteiros, fazem orelhas moucas.
Quem porá cobro a isto?», pergunta o autor do texto.
A única resposta que me ocorre é esta: só nós podemos pôr cobro a isto. Nós, a maioria, os nove milhões e muitas centenas de milhares que nos deixamos governar assim. É preciso recuperar a ideia democrática de que não são as pessoas que deverão estar ao serviço dos partidos, dos políticos, dos empresários e da economia, mas precisamente o contrário. Não podemos consentir que meia dúzia de senhores, encaixados nos partidos políticos – onde fazem carreiras de luxo – ou grandes empresários, surripiadores e sanguessugas – que vivem como nababos à nossa custa – decidam do nosso destino, como se isso fosse uma telúrica e inevitável fatalidade. Esta sociedade, dita democrática, está montada ao contrário. Compete-nos, a nós, endireitá-la.
Como reflexo deste estado de coisas, tudo se esboroa e estratifica. Perdem-se os valores, institui-se a lei da selva, recorre-se ao salve-se quem puder. É uma espécie de cada um por si… e tudo ao monte. Neste ambiente degradado e degradante, surgem fenómenos como aqueles de que Setúbal, nos dias que correm, é um triste exemplo.
Embora eu não seja dos que alinham na tese de que tudo radica em causas sociais, desculpabilizando os criminosos e ignorando que é no temperamento de cada um que se encontram as principais explicações para se enveredar – ou não – pelos caminhos do crime, não posso deixar de reconhecer que as grandes injustiças sociais de que somos vítimas – todos, e não só os ladrões e assassinos – escancaram as portas à criminalidade e oferecem-lhe estímulos e justificações para soltarem os seus instintos e má formação.
Uma sociedade justa, equilibrada, límpida e rigorosa não é terreno fértil para a bagunça que por aí alastra. Ao invés, uma sociedade onde as desigualdades sociais todos os dias se acentuam, crescendo, em pólos opostos, os condomínios de luxo e os guetos como os de Setúbal, e os senhores do mando não são pessoas imaculadas nem, sequer, respeitáveis, essa sociedade propicia toda a série de desmandos a que hoje assistimos.
Mas recordo, principalmente aos peregrinos da desculpabilização, que as mesmas causas não produzem os mesmos efeitos em todas as pessoas. Se assim fosse, em vez de duzentos ou trezentos marginais, praticamente todo o bairro da Bela Vista seria um coito de criminosos, o que não é verdade. Mas já é verdade que, numa mesma família, sujeita às mesmas dificuldades, haja gente de bem e gente de mal. No fundo, o temperamento, que é inato em cada um de nós, determina o nosso comportamento. As circunstâncias, depois, fazem o resto.
Aqui chegados, vão-me perguntar, afinal, como penso que a sociedade deve lidar com a chamada marginalidade. Só tenho uma resposta: sem dó nem piedade. Mas note-se uma coisa importante: eu não limito o conceito de marginalidade aos casos que conhecemos dos bairros ditos problemáticos, como os da Bela Vista ou Cova da Moura. Criminosos não são, apenas, os assaltantes de bancos, de carrinhas de valores ou de tabaco, de ourivesarias ou supermercados. Os javardos do carjacking não são mais javardos do que aqueles que assaltam os bancos a partir dos respectivos conselhos de administração, ou os políticos corruptos, que arrecadam milhões à conta das obras públicas e respectivas derrapagens, ou para facilitar este ou aquele empreendimento.
Um pedófilo repugnante não é apenas o que se chama Bibi, mas também o senhor doutor que tem assento em importantes cadeirões cá da lixeira, e que recebia, num dos seus apartamentos, «sobrinhos» e «afilhados» aos magotes. Crime de peculato não o pratica só aquele que, à margem da lei, se aproveita de dinheiros públicos confiados à sua guarda, mas também – e principalmente – aqueles que, podendo produzir as leis, as fazem para, por caminhos transformados em legais, do mesmo dinheiro público se aproveitarem e dele se encherem.
Por isso, aqui o digo sem medo ou hesitação: para todos os criminosos, de colarinho preto, enxovalhado ou branco, a mão pesada e severa da lei, com todo o seu rigor.
E já que estamos com a mão na massa: o inquérito requerido pelo Conselho Superior do Ministério Público concluiu que o presidente do Eurojust, o socialista e amigo de Sócrates, Lopes da Mota, pressionou mesmo os procuradores que investigam o caso Freeport.
E, por hoje, já chega de crimes e criminosos. E javardices semelhantes.
Olhando à minha volta – e centrando-me, apenas, na realidade que nos envolve – percebo que a crise veio para ficar. Não porque a crise seja uma coisa com vontade própria, um instrumento divino para castigar os homens, ou uma consequência de forças naturais. Claro que não. A crise explica-se pela intervenção dos homens. E, neste mundo, os homens que fazem, refazem e desfazem as crises são aqueles que têm poder para isso. O poder de fazer leis, o poder de mandar na economia, enfim, o poder de decisão sobre a vida de milhões e milhões de pessoas.
Porque não vale a penas falarmos da crise global, falemos da crise que nos afecta, já que ela tem, em si própria, todos os ingredientes da crise mundial. Li, no sítio da Internet http://www.resistir.info/, sob o título PAÍS A SAQUE E A CAMINHO DA RUÍNA, que «a depressão económica que agora se inicia no mundo capitalista, pode ser agravada ou amenizada pelas políticas dos governos nacionais. No caso português, o governo do senhor Sócrates, parece apostado em agravá-la ao máximo. Fecham empresas todas as semanas, aumenta o desemprego, os défices tornam-se assustadores, a dívida externa agrava-se a níveis monstruosos, mas ele permanece impávido nos seus projectos ruinosos – como o novo aeroporto, TGV, terceira ponte sobre o Tejo, o super-hospital de Todos os Santos, etc, etc. Enquanto isso, as universidades vivem à míngua, maternidades e centros de saúde são encerrados, as pensões de reforma são uma miséria, a repartição do rendimento é a pior de todos os países da Europa (a do Leste inclusive).
O custo do novo aeroporto está agora orçamentado em 5 mil milhões de euros. E, como toda a gente sabe, os orçamentos têm o hábito de fazer derrapagens da ordem dos 40, 50 ou mais por cento. Ao mesmo tempo, este governo autista e de lesa economia nacional ignora deliberadamente a realidade do Pico Petrolífero. Como se os preços momentaneamente baixos do barril – devido, em parte, à recessão económica – pudessem perdurar para sempre (o banqueiro M. Simmons prevê uma alta significativa dentro de seis a nove meses). E mesmo com os actuais preços baixos do barril, a TAP acaba de anunciar que foi obrigada a cancelar 2400 voos no 2.º semestre de 2009. Hoje, até mesmo altos dirigentes de companhias de petróleo recomendam "poupar, poupar, poupar" . Mas os governos, ao serviço dos grandes empreiteiros, fazem orelhas moucas.
Quem porá cobro a isto?», pergunta o autor do texto.
A única resposta que me ocorre é esta: só nós podemos pôr cobro a isto. Nós, a maioria, os nove milhões e muitas centenas de milhares que nos deixamos governar assim. É preciso recuperar a ideia democrática de que não são as pessoas que deverão estar ao serviço dos partidos, dos políticos, dos empresários e da economia, mas precisamente o contrário. Não podemos consentir que meia dúzia de senhores, encaixados nos partidos políticos – onde fazem carreiras de luxo – ou grandes empresários, surripiadores e sanguessugas – que vivem como nababos à nossa custa – decidam do nosso destino, como se isso fosse uma telúrica e inevitável fatalidade. Esta sociedade, dita democrática, está montada ao contrário. Compete-nos, a nós, endireitá-la.
Como reflexo deste estado de coisas, tudo se esboroa e estratifica. Perdem-se os valores, institui-se a lei da selva, recorre-se ao salve-se quem puder. É uma espécie de cada um por si… e tudo ao monte. Neste ambiente degradado e degradante, surgem fenómenos como aqueles de que Setúbal, nos dias que correm, é um triste exemplo.
Embora eu não seja dos que alinham na tese de que tudo radica em causas sociais, desculpabilizando os criminosos e ignorando que é no temperamento de cada um que se encontram as principais explicações para se enveredar – ou não – pelos caminhos do crime, não posso deixar de reconhecer que as grandes injustiças sociais de que somos vítimas – todos, e não só os ladrões e assassinos – escancaram as portas à criminalidade e oferecem-lhe estímulos e justificações para soltarem os seus instintos e má formação.
Uma sociedade justa, equilibrada, límpida e rigorosa não é terreno fértil para a bagunça que por aí alastra. Ao invés, uma sociedade onde as desigualdades sociais todos os dias se acentuam, crescendo, em pólos opostos, os condomínios de luxo e os guetos como os de Setúbal, e os senhores do mando não são pessoas imaculadas nem, sequer, respeitáveis, essa sociedade propicia toda a série de desmandos a que hoje assistimos.
Mas recordo, principalmente aos peregrinos da desculpabilização, que as mesmas causas não produzem os mesmos efeitos em todas as pessoas. Se assim fosse, em vez de duzentos ou trezentos marginais, praticamente todo o bairro da Bela Vista seria um coito de criminosos, o que não é verdade. Mas já é verdade que, numa mesma família, sujeita às mesmas dificuldades, haja gente de bem e gente de mal. No fundo, o temperamento, que é inato em cada um de nós, determina o nosso comportamento. As circunstâncias, depois, fazem o resto.
Aqui chegados, vão-me perguntar, afinal, como penso que a sociedade deve lidar com a chamada marginalidade. Só tenho uma resposta: sem dó nem piedade. Mas note-se uma coisa importante: eu não limito o conceito de marginalidade aos casos que conhecemos dos bairros ditos problemáticos, como os da Bela Vista ou Cova da Moura. Criminosos não são, apenas, os assaltantes de bancos, de carrinhas de valores ou de tabaco, de ourivesarias ou supermercados. Os javardos do carjacking não são mais javardos do que aqueles que assaltam os bancos a partir dos respectivos conselhos de administração, ou os políticos corruptos, que arrecadam milhões à conta das obras públicas e respectivas derrapagens, ou para facilitar este ou aquele empreendimento.
Um pedófilo repugnante não é apenas o que se chama Bibi, mas também o senhor doutor que tem assento em importantes cadeirões cá da lixeira, e que recebia, num dos seus apartamentos, «sobrinhos» e «afilhados» aos magotes. Crime de peculato não o pratica só aquele que, à margem da lei, se aproveita de dinheiros públicos confiados à sua guarda, mas também – e principalmente – aqueles que, podendo produzir as leis, as fazem para, por caminhos transformados em legais, do mesmo dinheiro público se aproveitarem e dele se encherem.
Por isso, aqui o digo sem medo ou hesitação: para todos os criminosos, de colarinho preto, enxovalhado ou branco, a mão pesada e severa da lei, com todo o seu rigor.
E já que estamos com a mão na massa: o inquérito requerido pelo Conselho Superior do Ministério Público concluiu que o presidente do Eurojust, o socialista e amigo de Sócrates, Lopes da Mota, pressionou mesmo os procuradores que investigam o caso Freeport.
E, por hoje, já chega de crimes e criminosos. E javardices semelhantes.
(joão Carlos Pereira)
Lida nas “Provocações” da
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