quinta-feira, 21 de maio de 2009

SE…

Se o Apito Dourado fosse em Itália, Pinto da Costa estava preso e o F. C. do Porto teria baixado de divisão.

Se o caso Freeport fosse em Inglaterra, Sócrates estaria a contas com a Justiça e, naturalmente, já não seria primeiro-ministro. E, antes de mais, não haveria uma dama, reconhecidamente conotada com o partido metido na embrulhada, a coordenar todo a investigação. Porque a mulher de César… etc. e tal.

Se Lopes da Mota fosse francês, já não seria presidente do Eurojust e estaria entregue ao poder judicial. Aliás, depois do caso de Felgueiras, em que foi suspeito de ter avisado a dona Fátima da eminência da prisão, nem presidente do Eurojust teria sido.

Se Armando Vara fosse alemão, nunca teria sido ministro e se, por estranho acaso, o tivesse sido, logo após o escabroso caso da Fundação para a Prevenção e Segurança, de inquérito judicial não se livrava. Seguramente, não voltaria à Caixa Geral de Depósitos como director, para logo passar a administrador, ele que era um simples caixa numa remota agência da instituição, quando enveredou pela carreira política, sabendo escolher os colos certos. O de Sócrates foi um deles. Por isso, o sujeito é, nos dias que correm, administrador do principal banco privado português. De onde eu retiraria logo o meu dinheiro, caso o houvesse lá depositado.

Se o caso da licenciatura de Sócrates fosse em Espanha, a coisa não teria morrido à nascença e, garantidamente, a Espanha teria mudado de primeiro-ministro. E a universidade (se àquilo se podia chamar uma universidade…) teria de explicar como licenciou tanto rapaz do PS (Vara, também, por acaso), sem que eles tivessem sido vistos a frequentar normalmente as aulas.

Se o caso dos paquetes alugados para servirem de hotel durante a Expo’98 fosse na Holanda, não estaria em águas de bacalhau.

Se o caso das trafulhices com aterro sanitário da Cova da Beira – e onde o nome de Sócrates aparece mais uma vez mencionado – fosse na Irlanda, já estaria muita gente presa.

Se o caso da Casa Pia fosse na Bélgica, quem mais estaria no banco dos réus?

Se o problema dos licenciamentos fantasmas dos projectos assinados por Sócrates, enquanto técnico autárquico, fosse no Luxemburgo, não teriam sido transformado num monte de anedotas sobre a piroseira projectada, mas seria um autêntico caso de polícia.

Se a farsa do computador Magalhães – e, principalmente, o modo como a sua caricata produção e posterior comercialização foram entregues à rapaziada da família (que até estava a contas com o fisco) – fosse na Áustria, já não havia Magalhães, nem empresa fornecedora, nem governo, nem, consequentemente… tantos erros de ortografia a deseducar as crianças.

Se a serra da Arrábida não tivesse a infelicidade de ser em Portugal, não estaria a ser corroída pelas pedreiras nem a ser envenenada pela teimosia psicopata de um governante – Sócrates, ele mesmo – que garantiu a toda a Europa que a co-incineração nunca seria… no Parque Natural da Arrábida. E já se saberia em quanto as cimenteiras contribuíram para certas campanhas eleitorais…


Se todos os presidentes de câmara fossem obrigados a explicar – e a provar – como aumentaram o seu património, desde que assumiram os destinos dos seus concelhos – e a fazer fé naquilo que tem sido divulgado e, principalmente, por aquilo que ainda falta divulgar… – mais de metade deles prestaria contas à Justiça e teria o fisco à perna.

Se alguém se lembrar de comparar a carreira de dois profissionais, em iguais circunstâncias, sendo que um enveredou pela carreira política e outro se manteve na sua profissão, como explicará que, ao fim de alguns anos, o primeiro, caso tenha sido deputado, ministro ou mero presidente de câmara, apresente um património e quadro de rendimentos infinitamente superior àquele que se manteve na profissão?

Se um dia, em qualquer país da Europa, um ministro da Justiça parisse leis que deixassem o país entregue à bicharada, apenas para salvar os criminosos de colarinho branco que por aí proliferam – bem lavados, de resto, nas suas cascatas de offshores – e atenuar, ao mesmo tempo, os crimes do bando de pedófilos que estão a braços com a lei, certamente que logo deixaria de ser ministro, porque, naturalmente, o governo deixaria de ser governo.

Se em qualquer país da Europa se pagasse imposto sobre os rendimentos de trabalho, mais IVA sobre tudo o que se compra, mais um imposto sobre o lixo, outro sobre os esgotos, ainda outro sobre as infra-estruturas urbanísticas, um outro sobre a casa que se comprou, mais outro disfarçado de contribuição para o audiovisual, mais outro ainda vestido de taxa de exploração para a DGGE (que sabe-se lá o que será), mais taxas moderadoras quando se vai aos serviços públicos de saúde, mais propinas quando se quer estudar, mais portagens em tudo o que for parecido com uma auto-estrada, mais transportes públicos caros e maus, bem, se tudo isto acontecesse em qualquer país desta Europa connosco, já teria acontecido por lá algo semelhante a uma nova Revolução Francesa. Ou ainda melhor.

Se… se… se…

E se não fôssemos um triste e sebento rebanho de carneiros, o que é que gostaríamos de ser?

(João Carlos Pereira)

Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 20/05/2009.
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