quarta-feira, 8 de julho de 2009

E O CIRCO CONTINUA

A política é uma coisa espantosa. Pode ser um pântano, mas é um pântano espectacular. O que era ontem, deixou de ser num abrir e fechar de olhos. E onde nada havia, surgem, tiradas da manga ou da cartola, as coisas mais espantosas. A política é, na verdade, um espectáculo de ilusionismo, onde aparece e desaparece seja o que for sem que se perceba como aquilo é feito.

De repente, apareceu uma coisa chamada Fundação para as Comunicações Móveis, a que Paulo Rangel chamou Fundação Saco Azul. Na comunicação social já houve quem lhe chamasse offshore socialista. É uma pérola, parecida com a defunta Fundação para a Prevenção e Segurança (que ficou conhecida por Fundos para o PS), coisa tão descarada que, na altura, fez Jorge Sampaio correr com Armando Vara e mandar encerrar aquela autêntica gruta de Ali Babá. Nesta nova Fundação, o Estado já enterrou 61 milhões de euros, dinheirinho nosso, que ninguém controla e poucos sabem para onde vai. Até agora, consta que a Fundação comprou umas toneladas de computadores Magalhães, sem concurso, a uma firma de camaradas socialistas, pouco respeitadora, aliás, dos seus deveres fiscais. E diz-se que, feita a habilidade – ou o truque – por aí se vai ficar. Uma coisa é certa: o PS dá tudo e mais alguma coisa para amanhar umas fundaçõezitas à maneira. São as suas galinhas dos ovos de ouro. A de Mário Soares, então, é um autêntico maná!

Porém, passada a balbúrdia que se seguiu à denúncia, a Fundação – o offshore ou o saco azul – saiu do horizonte político. Tudo se calou. No entanto, a Fundação não apresenta contas a nenhuma entidade, tem uma sede onde ninguém entra, tem contactos… incontactáveis. Já alguém escreveu, num jornal diário, que é legítimo pensar-se que a Fundação até pode pagar as campanhas eleitorais do PS. Escreveu e não foi desmentido. Nem lhe foi levantado nenhum processo. Certo é que a Fundação deixou de ser assunto. E assim como apareceu, parece que se vai sumir. Tal como os milhões de euros lá enterrados. Mas a magia – a política – é assim mesmo: a arte de iludir os basbaques e sustentar os mágicos.

Aqui há tempos, apareceu a Empresa na Hora, um milagre dos neurónios de Sócrates e comandita, mas porque se presta a mil habilidades financeiras, desde lavagem de dinheiro a preciosas fugas ao fisco, a Empresa na Hora já tem as horas contadas. Vai desaparecer.

Há quatro anos, apareceu um embrulho cor-de-rosa, havendo quem garantisse – até em espectaculares outdoors espalhados pelo país – que lá dentro estavam 150 mil novos postos de trabalho. Desfez-se o embrulho e – oh! espanto dos espantos – não havia nada lá dentro. Mas um bom ilusionista não pára, não se cansa, nem deixa o público descansar. De onde deu sumiço a 150 mil novos postos de trabalho, tirou, num ápice, um número recorde de desempregados. E melhor ainda: num apagão assombroso, retirou das estatísticas vários outros milhares, não fosse o público ficar sem fôlego e cair para o lado, com uma coisa má.

Também de repente, desapareceram o TGV, o novo aeroporto e a nova travessia do Tejo. A avaliação dos professores entrou em banho-maria. E o negócio da TVI deixou de o ser mais depressa que um relâmpago.

Ao som da música de Vangelis desapareceram maternidades inteiras, centros de saúde, urgências hospitalares e escolas. Em contrapartida, apareceu um engenheiro completo, com diploma e tudo.

Em segundos, desapareceu um ministro. Não por ser a anedota de ministro que todos sabemos, mas porque imitou, com os ministeriais dedinhos, uns cornos bem espetados na sua brilhante cabecinha.

De 7 para 8 de Junho desapareceu o «animal feroz» e surgiu o cordeirinho manso. Por pouco tempo, é certo, mas não deixou de ser um bom número de circo, ridículo e grotesco quanto baste para nos fazer rir às gargalhadas. Compreende-se. No meio de tanto ilusionismo, uma boa palhaçada cai sempre bem…

Numa área protegida, apareceu uma coisa chamada Freeport. E pela mesma altura desapareceram quatro milhões de euros. O mágico garante que não é nada com ele, que desse truque não sabe nada. Só estava lá por acaso…

Desculpem-me se não falo de coisas sérias e importantes, como a morte de Michael Jackson ou a apresentação de Cristiano Ronaldo. Mas hoje deu-me para aqui, para só falar de magias e outras aldrabices…



(João Carlos Pereira)


Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 08/07/2009.
(Não deixe de ouvir em 98.7 Mhz e participar pelos telefones 212277046 ou 212277047 todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00).

3 comentários:

Anónimo disse...

Você bate forte no governo. E com razão. Mas não gostaria de olhar um pouco para o seu lado esquerdo, especialmente aí no seu concelho?

Tonho Ze disse...

O lado esquerdo do Concelho do Seixal esta de saude e recomenda-se.
Tonho Ze

Anónimo disse...

Dizendo de outra maneira: você não gostaria de olhar um pouco para o concelho do Seixal? De facto, lado esquerdo está a mais. Já lá vai o tempo, já lá vai o tempo...