Todo o menino ou cavalheiro que quiser casar com outro menino ou cavalheiro, vai, finalmente, poder dar o nó. Um deles, provavelmente, de véu e grinalda, o outro, vestido à homem. E com beijinho na boca, no fim da cerimónia. As meninas e as damas que decidirem dar o nó dentro do mesmo género, também vão poder fazê-lo. Uma delas, de fato e gravata, a outra, de lindo vestido de noiva, como convém. Beijo na boca, línguas activas, sorriso radiante para as câmaras, juras de amor eterno… e siga a fantochada. Que sejam felizes e tenham muitos meninos.
O que disse eu? Ter muitos meninos!? Mas como, se não conseguem, não sabem ou não querem fazê-los, pois são alérgicos ao sexo oposto? Bem, talvez por adopção, lá mais para diante, quando formos um país verdadeiramente todo prafrentex, moderno e desenvolvido.
Já aqui há uns tempos, todas as donzelas que engravidaram por obra e graça do espírito santo – ou seja: sem saberem como, nem porquê – passaram a poder desenvencilhar-se do feto às custas do Estado. Coisa igualmente moderna, reveladora dos mais altos padrões civilizacionais. E deste então, como todos sabemos, o país deu o primeiro grande passo a caminho da mais entusiasmante liberdade e, principalmente, do desenvolvimento absoluto. Bem… só faltava o casamento entre pessoas do mesmo sexo, desiderato agora em vias de satisfação plena. Finalmente, somos um país de vanguarda. Um abraço de parabéns ao senhor «engenheiro» e a todos quantos o apoiaram nestas exaltantes causas.
Nestes dois sucessos, estiveram sempre presentes os espectros dos lóbis. Das minorias organizadas. Chegado aqui, pus-me a pensar porque razões são sempre satisfeitas as mais absurdas e antinaturais exigências, quando as que são justas, naturais, urgentes e necessárias nunca são atendidas?
As pessoas exigem uma consulta médica no momento em que adoecem? Não há nada para ninguém.
As pessoas reclamam exames médicos (radiografias, tacs, ecografias, análises e outros meios de diagnóstico) quando fazem falta? Não há nada para ninguém.
As pessoas reclamam a operação necessária antes que seja tarde? Não há nada para ninguém.
As grávidas não querem ir parir a cascos de rolha? Não há nada para ninguém.
As pessoas reclamam escolas seguras e, para os mais novitos, que sejam a poucos minutos de casa? Não há nada para ninguém.
As pessoas exigem poder aceder à Justiça sempre que necessário, sem ser preciso ser-se rico? Não há nada para ninguém.
As pessoas exigem transportes decentes, água, electricidade, gás e outros serviços públicos a preços acessíveis? Não há nada para ninguém.
As pessoas exigem segurança? Não há nada para ninguém.
As pessoas – milhões de pessoas – exigem ordenados e pensões decentes? Não há nada para ninguém.
Mas se quiseres matar o filho que estás a gerar, o Estado diz: mata, que eu pago.
Mas se quiseres casar com outra pessoa do mesmo género, o Estado diz: casa, que eu abençoo.
Como já perceberam – embora alguns finjam que não – este programa não é uma amena cavaqueira onde se debatem coisas abstractas, híbridas ou inócuas. Não é um espaço de salamaleques politicamente correctos.
Este programa não é uma amigável tertúlia de senhoras e senhores simpáticos, que discutem aspectos teóricos e ideológicos da nossa vida em sociedade, confrontando-se num elegante – mas anestesiante e improfícuo – diálogo.
Este programa não é uma pausa civilizada e florida num tempo e num espaço social onde primam o peculato, a sordidez, a violência e a injustiça, e onde o bom-senso e a honra parecem ser um vício ou uma estupidez.
Este programa não serve para trocar galhardetes entre gente bem pensante – e bem-falante – tornando-se, desse modo, cúmplice dos crimes sociais, políticos e económicos que levam a miséria e o desespero a milhões de portugueses. E, em muitos casos, os conduzem à morte.
Este programa é um espaço de liberdade plena, onde se pensa pela cabeça própria, e também se diz o que nos vai na alma. Por isso, chama às coisas feias e más da nossa vida os nomes que elas têm, sabendo bem que só aos responsáveis por tanta nojeira é que interessam os punhos de renda e as palavrinhas mansas.
Este programa é um tempo de luta contra o sono, o obscurantismo, o imobilismo, a distracção, a estupidez, a cobardia e a canalhice que, na sua nefasta amálgama, nos transformaram no país mais atrasado da Europa – e assim nos mantêm.
Este programa é um espaço de denúncia, mas é, principalmente, um espaço de verdade, porque ninguém alguma vez me conseguiu apontar a mínima falsidade ou imprecisão. Nunca me disseram: mentiste!
Este programa fala dos nossos mais de dois milhões de pobres, dos cerca de 700 mil desempregados, dos milhares de trabalhadores com salários em atraso, do trabalho precário, das falências e das deslocalizações, da dívida externa monstruosa, da dívida pública idem, idem, aspas, aspas, da economia de rastos, em suma.
Este programa fala de um sistema público de saúde criminosamente mutilado, com doentes oncológicos desprezados e a morrerem sem que a operação necessária se faça, grávidas a ser encaminhadas para o estrangeiro ou a parir em ambulâncias, de uma justiça que protege os criminosos de colarinho branco e é implacável para o cidadão comum, e cada vez mais inacessível aos humildes e remediados.
Este programa fala dos lucros imoralmente fabulosos dos grandes grupos financeiros e económicos, alcançados através da espoliação dos recursos nacionais e dos bolsos dos portugueses que vivem do seu trabalho e das suas pensões, (veja-se o exemplo da EDP e dos aumentos da electricidade, aqui focado há oito dias) e que, totalmente ao contrário do que dizem os papagaios de direita, só contribuem para o descalabro económico em curso.
Neste programa, por isso, chama-se trafulha e malandro a quem diz que é necessário que o grande capital aumente e consolide os seus já enormes e imorais lucros, pois é esse grande capital que investe e gera emprego, quando a realidade nos mostra o inverso, ou seja, que à subida constante e meteórica dos lucros, correspondem o aumento do desemprego, a perda do poder de compra dos salários e das pensões de reforma e a diminuição da procura. Em consequência, a economia sufoca e o país, em vez de se desenvolver, definha a olhos vistos. Se a receita fosse a que esses safados dizem, não estávamos, como estamos, de tanga. Ao inverso, e, como disse José Niza, «Quantos mais desempregados na rua, mais Porches na estrada!». E – acrescento eu – mais condomínios de luxo esgotados.
Este programa fala, então, de uma política económica que, ao invés de promover o nosso desenvolvimento, nos tem sacudido cada vez mais para a cauda da Europa, prova insofismável da sua falência e desadequação.
Este programa denuncia as tramas das privatizações, que outra coisa não fazem que não seja retirar ao país e à generalidade da população os recursos comuns, enchendo os bolsos dos accionistas nacionais e – sobretudo – estrangeiros, que consomem, assim, a riqueza nacional e obstam ao nosso desenvolvimento.
Este programa fala das políticas de esquerda e de direita, provando, com factos e com números, que as de direita enriquecem as minorias opulentas, e as de esquerda favoreceriam a população, no seu geral.
Este programa recusa-se a aceitar as políticas em curso como factos consumados, porque as políticas não resultam de fenómenos naturais ou fatalidades do destino, mas da vontade de alguns homens, sabendo nós que esses homens são aqueles para quem as coisas assim é que estão bem. Que querem que assim continuem. E que – espertalhaços – não querem que chamemos os bois pelos nomes, desmascarando-os.
Este programa destapa as vergonhosas teias de interesses espúrios e corrupção, que são a moeda corrente entre a alta finança e a máfia política instalada, eivadas de labregos licenciados em três tempos, sucateiros e finórios traficantes de influências e cabedais.
Este programa denuncia a imoralidade reinante, esta sociedade cada vez mais sem valores e sem sentido, onde nem da lei da selva se pode falar, porque as selvas, como tudo o que é natural, têm leis ajustadas às suas necessidades, desenvolvimento e sobrevivência.
Este programa, por fim, precisa que os que não estão na mesma barricada, também aqui deixem a sua opinião, na certeza de uma coisa: eles, com a sua lorpice natural, ou com a sua enfática velhacaria, com a sua falta de argumentos e notória ausência de valores morais e sociais, acabam por ser a melhor prova de que estamos do lado certo da vida.
E precisam de saber que nós, como parte dos que sofrem a violência e as malfeitorias das políticas que eles defendem, não entramos no jogo perverso do «debate de cavalheiros», pois o que aqui se joga são verdadeiras questões de vida e morte.
Por isso, aos que me querem embalar, iludir e desviar com cínicos arrulhos de falsas pombas, e aos que, perdido o tino, me querem levar pela reata, atiro, como uma pedra, o último verso do famoso poema de José Régio, Cântico Negro.
– Sei que não vou por aí!
E aqui está, como bónus, o Cântico Negro, do Régio (um grito de Liberdade, um rasgar das convenções, um desmascarar do cinismo, um cuspir na ordem natural das coisas, que só convém aos capatazes da humanidade, enfim, um arrepiante manifesto contra o ser-se carneiro, mesmo que isso compense…). Poema que eu gostaria de saber dizer como o dizia João Villaret.
O que disse eu? Ter muitos meninos!? Mas como, se não conseguem, não sabem ou não querem fazê-los, pois são alérgicos ao sexo oposto? Bem, talvez por adopção, lá mais para diante, quando formos um país verdadeiramente todo prafrentex, moderno e desenvolvido.
Já aqui há uns tempos, todas as donzelas que engravidaram por obra e graça do espírito santo – ou seja: sem saberem como, nem porquê – passaram a poder desenvencilhar-se do feto às custas do Estado. Coisa igualmente moderna, reveladora dos mais altos padrões civilizacionais. E deste então, como todos sabemos, o país deu o primeiro grande passo a caminho da mais entusiasmante liberdade e, principalmente, do desenvolvimento absoluto. Bem… só faltava o casamento entre pessoas do mesmo sexo, desiderato agora em vias de satisfação plena. Finalmente, somos um país de vanguarda. Um abraço de parabéns ao senhor «engenheiro» e a todos quantos o apoiaram nestas exaltantes causas.
Nestes dois sucessos, estiveram sempre presentes os espectros dos lóbis. Das minorias organizadas. Chegado aqui, pus-me a pensar porque razões são sempre satisfeitas as mais absurdas e antinaturais exigências, quando as que são justas, naturais, urgentes e necessárias nunca são atendidas?
As pessoas exigem uma consulta médica no momento em que adoecem? Não há nada para ninguém.
As pessoas reclamam exames médicos (radiografias, tacs, ecografias, análises e outros meios de diagnóstico) quando fazem falta? Não há nada para ninguém.
As pessoas reclamam a operação necessária antes que seja tarde? Não há nada para ninguém.
As grávidas não querem ir parir a cascos de rolha? Não há nada para ninguém.
As pessoas reclamam escolas seguras e, para os mais novitos, que sejam a poucos minutos de casa? Não há nada para ninguém.
As pessoas exigem poder aceder à Justiça sempre que necessário, sem ser preciso ser-se rico? Não há nada para ninguém.
As pessoas exigem transportes decentes, água, electricidade, gás e outros serviços públicos a preços acessíveis? Não há nada para ninguém.
As pessoas exigem segurança? Não há nada para ninguém.
As pessoas – milhões de pessoas – exigem ordenados e pensões decentes? Não há nada para ninguém.
Mas se quiseres matar o filho que estás a gerar, o Estado diz: mata, que eu pago.
Mas se quiseres casar com outra pessoa do mesmo género, o Estado diz: casa, que eu abençoo.
Como já perceberam – embora alguns finjam que não – este programa não é uma amena cavaqueira onde se debatem coisas abstractas, híbridas ou inócuas. Não é um espaço de salamaleques politicamente correctos.
Este programa não é uma amigável tertúlia de senhoras e senhores simpáticos, que discutem aspectos teóricos e ideológicos da nossa vida em sociedade, confrontando-se num elegante – mas anestesiante e improfícuo – diálogo.
Este programa não é uma pausa civilizada e florida num tempo e num espaço social onde primam o peculato, a sordidez, a violência e a injustiça, e onde o bom-senso e a honra parecem ser um vício ou uma estupidez.
Este programa não serve para trocar galhardetes entre gente bem pensante – e bem-falante – tornando-se, desse modo, cúmplice dos crimes sociais, políticos e económicos que levam a miséria e o desespero a milhões de portugueses. E, em muitos casos, os conduzem à morte.
Este programa é um espaço de liberdade plena, onde se pensa pela cabeça própria, e também se diz o que nos vai na alma. Por isso, chama às coisas feias e más da nossa vida os nomes que elas têm, sabendo bem que só aos responsáveis por tanta nojeira é que interessam os punhos de renda e as palavrinhas mansas.
Este programa é um tempo de luta contra o sono, o obscurantismo, o imobilismo, a distracção, a estupidez, a cobardia e a canalhice que, na sua nefasta amálgama, nos transformaram no país mais atrasado da Europa – e assim nos mantêm.
Este programa é um espaço de denúncia, mas é, principalmente, um espaço de verdade, porque ninguém alguma vez me conseguiu apontar a mínima falsidade ou imprecisão. Nunca me disseram: mentiste!
Este programa fala dos nossos mais de dois milhões de pobres, dos cerca de 700 mil desempregados, dos milhares de trabalhadores com salários em atraso, do trabalho precário, das falências e das deslocalizações, da dívida externa monstruosa, da dívida pública idem, idem, aspas, aspas, da economia de rastos, em suma.
Este programa fala de um sistema público de saúde criminosamente mutilado, com doentes oncológicos desprezados e a morrerem sem que a operação necessária se faça, grávidas a ser encaminhadas para o estrangeiro ou a parir em ambulâncias, de uma justiça que protege os criminosos de colarinho branco e é implacável para o cidadão comum, e cada vez mais inacessível aos humildes e remediados.
Este programa fala dos lucros imoralmente fabulosos dos grandes grupos financeiros e económicos, alcançados através da espoliação dos recursos nacionais e dos bolsos dos portugueses que vivem do seu trabalho e das suas pensões, (veja-se o exemplo da EDP e dos aumentos da electricidade, aqui focado há oito dias) e que, totalmente ao contrário do que dizem os papagaios de direita, só contribuem para o descalabro económico em curso.
Neste programa, por isso, chama-se trafulha e malandro a quem diz que é necessário que o grande capital aumente e consolide os seus já enormes e imorais lucros, pois é esse grande capital que investe e gera emprego, quando a realidade nos mostra o inverso, ou seja, que à subida constante e meteórica dos lucros, correspondem o aumento do desemprego, a perda do poder de compra dos salários e das pensões de reforma e a diminuição da procura. Em consequência, a economia sufoca e o país, em vez de se desenvolver, definha a olhos vistos. Se a receita fosse a que esses safados dizem, não estávamos, como estamos, de tanga. Ao inverso, e, como disse José Niza, «Quantos mais desempregados na rua, mais Porches na estrada!». E – acrescento eu – mais condomínios de luxo esgotados.
Este programa fala, então, de uma política económica que, ao invés de promover o nosso desenvolvimento, nos tem sacudido cada vez mais para a cauda da Europa, prova insofismável da sua falência e desadequação.
Este programa denuncia as tramas das privatizações, que outra coisa não fazem que não seja retirar ao país e à generalidade da população os recursos comuns, enchendo os bolsos dos accionistas nacionais e – sobretudo – estrangeiros, que consomem, assim, a riqueza nacional e obstam ao nosso desenvolvimento.
Este programa fala das políticas de esquerda e de direita, provando, com factos e com números, que as de direita enriquecem as minorias opulentas, e as de esquerda favoreceriam a população, no seu geral.
Este programa recusa-se a aceitar as políticas em curso como factos consumados, porque as políticas não resultam de fenómenos naturais ou fatalidades do destino, mas da vontade de alguns homens, sabendo nós que esses homens são aqueles para quem as coisas assim é que estão bem. Que querem que assim continuem. E que – espertalhaços – não querem que chamemos os bois pelos nomes, desmascarando-os.
Este programa destapa as vergonhosas teias de interesses espúrios e corrupção, que são a moeda corrente entre a alta finança e a máfia política instalada, eivadas de labregos licenciados em três tempos, sucateiros e finórios traficantes de influências e cabedais.
Este programa denuncia a imoralidade reinante, esta sociedade cada vez mais sem valores e sem sentido, onde nem da lei da selva se pode falar, porque as selvas, como tudo o que é natural, têm leis ajustadas às suas necessidades, desenvolvimento e sobrevivência.
Este programa, por fim, precisa que os que não estão na mesma barricada, também aqui deixem a sua opinião, na certeza de uma coisa: eles, com a sua lorpice natural, ou com a sua enfática velhacaria, com a sua falta de argumentos e notória ausência de valores morais e sociais, acabam por ser a melhor prova de que estamos do lado certo da vida.
E precisam de saber que nós, como parte dos que sofrem a violência e as malfeitorias das políticas que eles defendem, não entramos no jogo perverso do «debate de cavalheiros», pois o que aqui se joga são verdadeiras questões de vida e morte.
Por isso, aos que me querem embalar, iludir e desviar com cínicos arrulhos de falsas pombas, e aos que, perdido o tino, me querem levar pela reata, atiro, como uma pedra, o último verso do famoso poema de José Régio, Cântico Negro.
– Sei que não vou por aí!
E aqui está, como bónus, o Cântico Negro, do Régio (um grito de Liberdade, um rasgar das convenções, um desmascarar do cinismo, um cuspir na ordem natural das coisas, que só convém aos capatazes da humanidade, enfim, um arrepiante manifesto contra o ser-se carneiro, mesmo que isso compense…). Poema que eu gostaria de saber dizer como o dizia João Villaret.
“CÂNTICO NEGRO” de José Régio
...
«Vem por aqui» – dizem-me alguns com os olhos doces,
estendendo-me os braços, e seguros
de que seria bom que eu os ouvisse
quando me dizem: «vem por aqui!».
Eu olho-os com olhos lassos,
(há, nos olhos meus ironias e cansaços)
e cruzo os braços,
e nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
com que rasguei o ventre a minha mãe.
Não, não vou por aí! Só vou por onde
me levam os meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
porque me repetis: «vem por aqui!»?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
redemoinhar aos ventos,
como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
a ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
só para desflorar florestas virgens
e desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
para eu derrubar os meus obstáculos?
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
e vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
tendes jardins, tendes canteiros,
tendes pátria, tendes tectos
e tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
e sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios!
Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
mas eu, que nunca principio nem acabo,
nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah!, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: «vem por aqui!».
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
..
Não sei por onde vou,não sei para onde vou
– Sei que não vou por aí!
(João Carlos Pereira)
Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 13/01/2010.
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2 comentários:
Continue João Carlos Pereira com esta irreverência saudável. Nem sempre concordo com as suas provocações, mas reconheço a coerência das posições por si assumidas e o facto de assumir claramente o que diz. Já é raro encontrar pessoas com a sua verticalidade.
Sabe, Duarte, há muito que percebi que a melhor maneira de estar de bem comigo é dizer sempre o que penso - e viver de acordo com o que penso. Estou vivo, assim.
E à medida que o tempo passa, tudo me parece mais claro e mais facilmente decifrável. Em termos sociais e políticos, sempre que os manda-chuva vão falar, já sei o que vão dizer e, principalmente, o que querem fazer. É facil, aliás: dizem sempre o mesmo, e querem sempre a mesma coisa - manter o estado de exploração em que o povo vive. E, o que é mais perverso, sob a capa do «é democrático» e (cúmulo do cinismo!) em nome do bem-estar do próprio povo.
Para mim, hoje em dia, a corja dos políticos é mais previsível do que uma criança de 5 anos.
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