Ora, diz Eugénio Rosa que
«a entidade que controla os preços da electricidade no mercado regulado, a ERSE – Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos, cujo presidente foi nomeado pelo primeiro governo de Sócrates, anunciou que o preço da electricidade para as famílias, em 2010, iria aumentar em +2,9%. Esta subida do preço da electricidade é superior a mais do dobro da previsão para 2010 do aumento dos preços em Portugal, feita por várias entidades (OCDE, FMI, BdP), e os trabalhadores não têm garantido idêntico aumento salarial em 2010».
Segundo as contas feitas por Eugénio Rosa, cujo diploma de economista não foi passado em nenhum domingo – ou seja: é economista a sério – «se o preço da electricidade for aumentado em 2,9%, isso significará que os portugueses terão de pagar, pela mesma quantidade de kWh, mais 251,5 milhões de euros».
E garante ele que
«tal aumento de custos é inaceitável não só pelas razões referidas anteriormente, mas também porque:
Primeiro – O preço da electricidade em Portugal é já superior ao preço médio da União Europeia;
Segundo – O poder de compra das famílias portuguesas está muito abaixo do poder de compra médio da União Europeia;
E terceiro – A EDP, só nos primeiros nove meses de 2009, já arrecadou mais de 800 milhões euros de lucros líquidos».
Sócrates, atarefado a tratar dos casamentos entre homossexuais e a adjudicar obras públicas faraónicas, que são aquelas que deixam fortunas em comissões e luvas, para além de repolhudos fundos para os partidos que mexem os cordelinhos para a coisa ir em frente, não tem tempo para reparar nessas minudências. Ele, se calhar, nem sabe que, segundo o Eurostat, o preço médio da electricidade na União Europeia (a 27 países), é inferior ao preço médio em Portugal em -2,2%, mas o poder de compra médio na União Europeia (também a 27 países), medido pelo PIB por habitante, é superior ao poder de compra médio em Portugal em +31,6%.
E explica Eugénio Rosa:
«O poder de compra da população, em Portugal, corresponde apenas a 76% do poder de compra médio da União Europeia, mas o preço da electricidade no nosso País é superior ao preço médio da electricidade na União Europeia em +2,26% (se o preço da electricidade em Portugal fosse igual ao preço médio da U.E., os portugueses pagariam pela electricidade que consomem menos 190,8 milhões de euros por ano)».
E explica o economista que
«nos países onde o preço da electricidade é superior ao de Portugal, essa diferença de preço é mais do que compensada pela diferença, para mais, no poder de compra da população desses países, relativamente à portuguesa. Na Alemanha, o preço da electricidade é superior em +10,8% ao preço em Portugal, mas o poder de compra médio na Alemanha é superior ao português em +52,6%; no Luxemburgo, a electricidade custa mais 28,1% do que em Portugal, mas o poder de compra médio no Luxemburgo é superior ao de Portugal em +263,2%. Na Finlândia, Dinamarca e Noruega, o preço da electricidade é mais baixo do que em Portugal (entre -10,5% e -22,9%), mas o poder de compra médio das famílias nesses países é muito superior ao das famílias portuguesas (entre +53,9% e +151,3%).
Estas coisas não são explicadas aos portugueses – e bem podiam ser – bastando, para isso, que os grandes órgãos de comunicação social não estivessem nas mãos de quem ganha muitíssimo dinheiro devido às coisas serem assim. Mas se eles não explicam, explico eu – ou seja: explica Eugénio Rosa, a quem continuo a dar, gostosamente, a palavra:
«Devido aos elevados preços que pratica, a EDP tem arrecadado lucros muito elevados, nomeadamente após a entrada em funções do primeiro governo de Sócrates. Em 2005, que foi o 1º ano deste governo, os lucros líquidos da EDP foram superiores em +143,3% aos de 2004; em 2006 em +113,7%; em 2007 em +131,7%; em 2008 em mais 148%; e, em 2009, só nos primeiros 9 meses, os lucros foram superiores aos de 2004 em +89,7%. Se somarmos os lucros líquidos da EDP nos últimos 5 anos e 9 meses, eles totalizam já 5.399,1 milhões de euros a preços correntes (a preços actuais é um valor muito superior). Tudo isto mostra, por um lado, que o Estado perdeu uma fonte importante de receitas com a privatização da EDP; por outro lado, que a EDP privatizada se transformou num instrumento importante de exploração dos consumidores e de acumulação de elevados lucros para o capital privado que já a domina; e, finalmente, a EDP devido aos elevadíssimos lucros que já tem, pode absorver, sem grandes dificuldades, o chamado défice tarifário que está a ser utilizado para "justificar" o aumento do preço que se pretende impor à população. E isto continuando a obter lucros e sem aumentar os preços. Só teria de reduzir um pouco os elevadíssimos lucros que vem arrecadando, o que seria justificável face às dificuldades graves das famílias. Mas será isso que vai suceder? A resposta só poderá ser dada pelo governo, opondo-se ou vergando-se às exigências da EDP e de outras empresas, feitas através da ERSE, que se encontra totalmente refém da EDP».
E para percebermos a marosca toda:
«Para ficar claro os interesses que a ERSE está a defender, interessa referir que no fim de 2008, segundo o Relatório e Contas da EDP (pág.156), 49% do capital desta empresa estratégica já estava nas mãos de accionistas no estrangeiro (Espanha: 15%; Inglaterra:13%; Resto da Europa: 12%; EUA 9%). E, internamente, alguns dos principais accionistas são grandes grupos económicos (BCP com 3,39% do capital; BES: 3,05%; José de Mello com 4,82%). E segundo o art. 67º do Estatuto dos Benefícios Fiscais, que o governo de Sócrates se tem recusado continuamente a alterar, 50% dos dividendos distribuídos aos seus accionistas por empresas que foram privatizadas (e a EDP é uma delas) estão isentos do pagamento de IRS e de IRC, enquanto os rendimentos do trabalho estão sujeitos a impostos elevados. Os comentários parecem ser desnecessários».
Isto é: a privatização de EDP (e note-se que todas as privatizações são o bolo e a cereja oferecidos pelo poder político aos senhores capitalistas, e uma das imagens de marca indissociáveis das políticas de direita) teve três resultados imediatos – e verdadeiramente dramáticos para a nossa economia e, consequentemente, para a população portuguesa no seu conjunto:
Não contente com isto, Sócrates e o PS ainda mantêm isentos de IRC e IRS 50% dos lucros arrecadas por estes accionistas todos. Mas você e eu, que trabalhamos – ou trabalhámos – no duro, pagamos com língua de palmo sobre tudo aquilo que ganhamos, sejam os nossos miseráveis ordenados, sejam as nossas míseras reformas. Nós não temos estas generosas isenções. No fundo, o assalto resume-se assim: os lucros deles são conseguidos à custa do que nos tiram dos bolsos e, na volta, só pagam impostos sobre metade do que ganharam. Lindo! Maravilhoso «socialismo»!
Depois disto, ainda andará por aí alguém a dizer que o senhor «engenheiro» e o PS são de esquerda? Só se forem – para disfarçar – os Espírito Santo e os Mellos.
Resumindo. Se a EDP fosse uma empresa nacionalizada, teríamos a electricidade muito mais barata e, ainda por cima, os seus lucros – que, mesmo assim, seriam opulentos – serviriam para melhorar, por exemplo, os orçamentos da Saúde e da Educação.
Mas isso seria com políticas de esquerda. Com políticas de direita, é o que se vê. O assalto permanente aos nossos bolsos.
(João Carlos Pereira)
Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 06/01/2010.
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