quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

OS MALANDROS, OS MANTEIGUEIROS E O SENHOR PROCURADOR


A malandragem foi fotografada com a boca na botija e, como resposta, faz-se de prostituta ofendida na sua alegada virtude, gritando que o malandro é o fotógrafo, mais quem publicou as fotografias. Ela – a malandragem – é que sabe se mamou ou não. E como jura que não mamou, ponto final, está o assunto resolvido.

Os acólitos, que chupam na mesma botija, juntam-se ao coro, desatam aos berros e vão mais longe – Aqui d’el rei!, que ninguém estava a mamar, é tudo uma fotomontagem.

O guardião-mor do templo olha para as fotos e não vislumbra nenhum crime em mamar, e até acha que o fotógrafo viu mal a cena. Foi tudo um erro de paralaxe. Arquive-se.

Os manteigueiros, também conhecidos como engraxadores, género de pessoas a quem os brasileiros tratam por puxa-saco – e que, acima de tudo, também gostariam de mamar alguma coisa à conta – desdobram-se em opiniões destinadas a fazer crer que a malandragem é incapaz de mamar, que a botija não existe, e que, por isso mesmo, ninguém mamou. Um houve que chegou ao extremo de dizer que se trata de matéria irrelevante, coisa de fofoquice para vender jornais, e que daqui a uns tempos estará tudo esquecido. Os manteigueiros não têm a noção do ridículo.

Porém, um manteigueiro assim faz sempre falta, quanto mais não seja para nos fazer rir e, apanhando-lhe as palavras e desmontando-lhe as maroscas, ensinarmos as nossas crianças e os nossos jovens a serem pessoas sérias e cidadãos responsáveis. A não serem, por exemplo, manteigueiros.

Realmente, uma pessoa que desvalorize o facto de se poder conseguir uma licenciatura por vias reconhecida e indesmentivelmente impróprias – ou, se quisermos, fraudulentas – é alguém que fez o mesmo, ou que não desdenharia fazê-lo. É alguém cujos valores morais pecam por defeito. Será alguém, ainda, que não transmitirá aos seus filhos ou netos, caso os tenha, os princípios básicos da honestidade e da moral. Pobres crianças, se tal educador tiverem. E pobre país, que tresanda a manteigueiros.

Alguém que não vê ou não entende – ou finge que não vê ou não entende – nada de censurável ou anormal nas inúmeras embrulhadas em que José Sócrates e os seus boys – e todo o PS, pelo que parece – estão metidos, é alguém cuja sanidade mental ou sentido da ética e da decência andam ao nível do charco.

Um cidadão que não seja atrasado mental, mas que desvalorize – ou negue – os escândalos que por aí aparecem debaixo de cada pedra, envolvendo figuras públicas, altos magistrados judiciais, empresários e gestores que os conluios partidários içaram ao topo das empresas públicas e privadas, não pode ser mais que alguém sem qualquer sentido de honra, alguém capaz – e provavelmente desejoso – de entrar para a quadrilha.

Estava eu nestas lucubrações, quando me passou pelos olhos a transcrição de uma escuta onde o Penedos (filho) e um tal Marcos Perestrello falam da compra do apoio de Luís Figo a José Sócrates. Esclareço que Marcos Perestrello é, actualmente, secretário de Estado da Defesa, que Paulo Penedos é um dos arguidos do processo Face Oculta, exercendo funções, na PT, na dependência do não menos famoso ex-administrador Rui Pedro Soares (que também estava ligado à administração do Taguspark), e que é o tal que tentou impedir que o semanário Sol pusesse cá fora a transcrição das escutas, demitindo-se, depois, na sequência do escândalo. O mesmo, sem tirar nem pôr, que agora é acusado de ter comprado o apoio de Figo. Esclareço que toda esta rapaziada tem em comum a sua ligação ao PS. Tudo boys com belos jobs.

Vamos à conversa escutada, uma verdadeira pérola da nacional bagunça:


MARCOS PERESTRELLO – O teu superior hierárquico (o referido Rui Pedro Soares) foi para Barcelona ou Milão...

PAULO PENEDOS – Não, está no Algarve. Não foi para um sítio, nem para outro.

M.P. – Mas depois vai, acho eu.

P.P. – Vai para Milão, segunda-feira. Vai-se lá encontrar com o Figo, para com ele celebrar uma coisa um bocado pornográfica, mas pronto.

M.P. – Que é o quê?

P.P. – Eh pá… só te posso dizer se tu não disseres a ninguém. Se disseres, não te posso dizer.

M.P. – Se quiseres dizer, dizes! Se disseres que não é para dizer a ninguém eu não digo.

P.P. – Não, não digas que é uma coisa… Ele há dias disse-me, muito contente, que tinha conseguido que o Figo apoiasse o Sócrates e eu disse ‘boa e tal’, claro que é importante. E hoje ligou-me a pedir que eu lhe fizesse um contrato de patrocínio para a Fundação Luís Figo, à razão de 250 mil euros por ano.

M.P. – Pois, imagino…

P.P. – Ah?

M.P. – Claro, claro. E isso, aliás, vale muitos votos! Essa m... em subsídios de desemprego…

P.P. – Ah?

M.P. – Isso em subsídios de desemprego…

P.P. – Eh pá, mas ouve-me… O gajo conhece toda a gente e mais alguma e toda a gente em que ele tropeça, do mundo da bola, de repente estão a apoiar o PS e o Sócrates, mas depois todos têm por detrás contratos… todos têm contratos… Até deve ser alvo de alguma risota, não é.

M.P. – Por acaso não me deram o nome do Figo para os tempos de antena das personalidades para depor!

P.P. – Pronto, faz-te de novas que o nome vai-te aparecer, só que o apoiante espontâneo e fervoroso, primeiro deve querer assinar o contrato, não é?

M.P. – Sim, sim, vamos ver se depois aparece, se é como outros que eu cá sei que acham que é melhor não darem a cara. Acham que é melhor não darem a cara, abrem uma coisa ali, outra ali.

P.P. – Exactamente …

M.P. – Ai..., não aprenderam nada ainda.



Será por estas esclarecedoras conversas – e por outras que tais – que o senhor Procurador-Geral da República chama ao processo Face Oculta uma «armadilha política»? Bem… como as conversas são todas entre rapaziada do PS, o senhor Procurador só pode querer dizer que os socialistas se andam a armadilhar uns aos outros.

Ó senhor Procurador, francamente… Não consegue melhor?

O senhor Procurador, que não fica bem em nenhuma fotografia sempre que pretende justificar-se, também ignora, soberanamente, o facto de no computador do boy Rui Pedro Soares ter sido encontrado o contrato que permitiria à PT comprar a Media Capital, o tal negócio que visava calar Moura Guedes e o Jornal de Sexta. Antes, já a PJ tinha interceptado um mail em que constava a versão final desse contrato, enviada para a Prisa, em Madrid. Os mais altos quadros da PT desmentem o negócio, mas a verdade é que as escutas telefónicas, conjugadas com documentos apreendidos, provam exactamente o contrário. José Sócrates não só sabia do negócio desde o início, como queria mais: queria que aquele se fizesse de forma a disfarçar a ilegalidade da operação.

A manobra passaria por, inicialmente, serem empresários a adquirir 30% dos capitais da empresa, para evitar que a PT aparecesse como principal accionista. O objectivo, mais uma vez, era controlar a informação e acabar com o que era considerado o grande obstáculo à vitória socialista: a permanência de Manuela Moura Guedes e de Eduardo Moniz à frente dos conteúdos informativos da TVI.



Rui Pedro Soares, boy diligente, vai a Madrid, em 3 de Junho, para negociar com os espanhóis da Prisa. A 19 de Junho, pede a Paulo Penedos para enviar a versão definitiva do contrato para um mail em Espanha. Janta depois (é o próprio a afirmá-lo) com José Sócrates, e diz a Penedos que o «chefe estava bem-disposto». Rui Pedro Soares ainda afirma que Sócrates quer que seja a PT a «assumir o controlo da operação».

O senhor Procurador-Geral, Pinto Monteiro, não vê aqui nada de mal. Nem os documentos apreendidos, nem as conversas escutadas, nem o fim do Jornal de Sexta lhe dizem nada. Como lerdo não é, deve pensar que os lerdos somos nós.

Pela minha parte – e com o devido respeito – já não o vejo como Procurador-Geral da República. Parece-me mais um air-bag de Sócrates e do governo socialista.

E enquanto as coisas forem assim, ao nível do pântano e da pantominice, Portugal será sempre uma coisinha siciliana.

E muito mal cheirosa.


(João Carlos Pereira)

Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 24/02/2010.
Não deixe de ouvir em 98.7 Mhz e participar pelos telefones 212277046 ou 212277047 todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00.

3 comentários:

Anónimo disse...

"O prisioneiro político cubano Orlando Zapata Tamayo, de 42 anos, morreu ontem à noite, ao fim de 85 dias de greve de fome que iniciara como protesto contra as condições prisionais no país."

"Tamayo, um canalizador oriundo da província de Holguin e membro da organização de defesa civil Directório Democrático cubano (ilegal), foi preso em 2003 e condenado a uma pena de 18 a 25 anos de prisão pelos crimes de desrespeito da ordem pública, desordem e resistência ao Governo da ilha.
A Amnistia Internacional classificou-o como um dos 58 “prisioneiros de consciência” em Cuba. (...)
Nenhum comentário ao caso foi feito para já pelos chefes de Estado brasileiro, Lula da Silva, nem Venezuelano, Hugo Chávez – que chegaram ainda ontem à noite a Havana depois de participarem numa cimeira “de unidade” que reuniu no México os líderes de 32 países da região.
Lula ignorou, pelo menos publicamente, uma carta de dissidentes que tinham pedido a sua intervenção junto do regime para a libertação dos presos políticos. "

Anónimo disse...

Chamar “prisioneiro político” ou “prisioneiro de consciência” a quem recebia dinheiros da CIA para desenvolver acções internas de carácter terrorista contra a soberania e segurança do seu próprio País, só pode desconhecer as realidades ou então é alguém que consciente ou inconscientemente tenta fazer eco da propaganda anti-Cuba financiada pelos vários governos dos Estados Unidos da América desde há quase 50 anos.

A mesma Amnistia Internacional que ridiculamente classifica prisioneiros, não tem qualquer credibilidade quando pouco ou nada se tem importado com outras situações ilegais de injustiça - para não beliscar sequer os EEUU - procurando branquear todas as atrocidades que estes vêm cometendo no seu território ou em qualquer parte do mundo, assassinando das mais variadas formas pessoas inocentes e indefesas.

Ninguém deseja a morte de ninguém, mas o terrorismo contra Cuba apoiado e financiado pelo vizinho americano não olha a meios para atingir os seus fins.

E já agora pergunta-se: com a prisão de alguns pseudo-dissidentes (pseudos porque são pagos para isso) quantas vidas foram poupadas?

Anónimo disse...

"Chamar “prisioneiro político” ou “prisioneiro de consciência” a quem recebia dinheiros da CIA para desenvolver acções internas de carácter terrorista contra a soberania e segurança do seu próprio País, só pode desconhecer as realidades ou então é alguém que consciente ou inconscientemente tenta fazer eco da propaganda anti-Cuba financiada pelos vários governos dos Estados Unidos da América desde há quase 50 anos."
ISSO É QUE É INFORMAÇÃO PRIVILEGIADA.
QUAL A DIFERENÇA PARA OS MENINOS DO PCP QUE FIZERAM CHEGAR SEGREDOS DE ESTADO PORTUGUESES, DEPOIS DO 25 DE ABRIL À URSS?