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Na última campanha eleitoral, Sócrates garantiu aos portugueses que, caso ganhasse as eleições, o seu governo iria oferecer a todos os recém-nascidos um cheque de 200 euros para a abertura de uma conta-poupança. Não faço ideia de quantos papalvos votaram PS à conta desta patranha, tal como não sei se algum casal de palonços se lembrou de fazer um filho, fiado na promessa do senhor «engenheiro». Se alguém o fez, faça agora cruzes na boca. A lei que daria vida a tal promessa está na mesma gaveta onde repousa, comido pelas traças, o socialismo do doutor Soares: a gaveta dos esquecidos. Se aqui trago este exemplo, é só porque ele ilustra bem a qualidade da democracia portuguesa.
Democracia vem da palavra grega “demos”, que significa povo. Consta por aí que, em democracia, é o povo quem detém o poder soberano sobre o poder legislativo e o executivo. É democrático um governo no qual o poder e a responsabilidade cívica são exercidos por todos os cidadãos, directamente ou através dos seus representantes livremente eleitos. As democracias promovem regularmente eleições livres e justas, abertas a todos os cidadãos. As eleições devem ser verdadeiras competições pelo apoio do povo. Democracia é, também, um conjunto de princípios e práticas que protegem a dignidade e a liberdade; é a institucionalização desses valores. Por isso, a democracia sujeita os governos ao Estado de Direito e assegura que todos os cidadãos sejam iguais perante a Lei.
Estes lindos conceitos, em Portugal, transformaram-se numa imensa fraude. Em primeiro lugar, porque a manipulação ideológica, assente em estruturas propagandísticas cientificamente montadas, levam os cidadãos a aderir aos partidos principalmente por via empática, ou seja, como base em afectos e outros estímulos emocionais, e não por razões objectivas de interesse pessoal ou de classe. Adere-se a um partido porque se simpatiza com o líder, ou por outra qualquer razão absolutamente pueril e, a partir daí, cometa esse partido os crimes que cometer, ou sejam os seus responsáveis verdadeiros malfeitores, come-se e cala-se. E, às vezes, até se aplaude.
As campanhas eleitorais, por seu lado, não são um espaço sério de confrontação de projectos e de apresentações de propostas de governação. São, no geral, um lastimável cortejo de enganos, de promessas falaciosas, um desfilar carnavalesco de intrujices por atacado, um turbilhão circense de palhaçadas e, principalmente, um encobrimento obsceno das medidas que, poleiro alcançado, hão-de fustigar, forte e feio, as classes trabalhadoras.
A maioria do eleitorado, não vota racionalmente. Vota «clubisticamente», como se o que estivesse em jogo fosse apenas a vitória numa disputa desportiva, e não questões fundamentais da nossa vida, como o emprego, o salário, a Saúde, a Educação a Segurança Social, enfim, tudo o que é realmente importante para um ser humano. Em Portugal, limitamo-nos a entregar pelo voto, de forma néscia e irresponsável, os poderes legislativos e executivo a grupos de intrujões salafrários que, depois, fazendo tábua rasa das suas propostas eleitorais e da sua obrigação de zelar pelos nossos interesses – e valendo-se da nossa incapacidade para intervir civicamente – levam a efeito políticas que conduzem sempre ao mesmo resultado: a subordinação social e económica de milhões de pessoas aos interesses de pequenos grupos que, porque detêm o poder económico, detém, realmente, o poder político.
Isto é a subversão do Estado de Direito. Isto é a subversão da ideia de Democracia. O recente debate sobre o estado da nação, com o governo e os senhores deputados a representarem a rábula do costume, é um exemplo obsceno da grande intrujice em que se transformou a nossa vida política. Uma liturgia infame, representada por senhores e senhoras que nada fazem para resolver os problemas nacionais, que, aliás, todos os dias se agravam. Conversa fiada, discursos e intervenções sempre iguais, ataques e contra-ataques inflamados.
País fora, os apaniguados de cada equipa exultam, ora babando-se com as tiradas dos «seus», ora ululando com as respostas dos «outros». Os indiferentes, riem-se do espectáculo mas, depois, chamados ao voto, muitos deles alimentam a palhaçada. E feitas as contas, quase metade dos cidadãos já nem se dá ao trabalho de comparecer nas urnas.
Uma coisa é certa: se esta «democracia» funcionasse, o país não estava como está: cada vez mais pobre, cada vez mais desigual, cada vez mais injusto, cada vez mais inseguro, cada vez mais inviável.
É altura de pedir contas a estes intrujões.
(João Carlos Pereira)
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1 comentário:
"A MAIORIA DO ELEITORADO, NÃO VOTA RACIONALMENTE. VOTA CLUBISTICAMENTE"
Esta é a grande verdade e por isso o país está como se sabe.
Mas também que racionalidade pode ezistir se ideologicamente PS e PSD há muito que se desviaram dos seus princípios programáticos?
Atente-se ao que estes partidos querem fazer da Constituição e logo percebemos que tipo de democracia eles defendem.
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