Cheira-me a esturro. O troço do TGV, entre o Poceirão e Lisboa, que era viável no início do ano, deixou agora de o ser. A fazer fé na caterva socialista, isso deve-se à «significativa e progressiva degradação da conjuntura económica e financeira» de Portugal. Mas a significativa e progressiva degradação da conjuntura económica e financeira do país já era coisa sabida no início do ano. Não havia ninguém que o não dissesse – com excepção do governo socialista, liderado por um alegado engenheiro, que teimava em garantir que o quadro não era como o pintavam. E se já era espantoso o facto de o primeiro-ministro não saber aquilo que todo o país sabia, espanto maior é o mesmo governo garantir que, daqui a seis meses, o concurso agora anulado, devido à tal significativa e progressiva degradação da conjuntura económica e financeira de Portugal, vai ser reaberto. Isto é: daqui a uns mesitos, devido a qualquer poção mágica digna das histórias de Asterix, a conjuntura económica e financeira já não estará degradada. O que, naturalmente, significa que as medidas de austeridade que estão previstas para o Orçamento Geral do Estado, já não serão necessárias. Aliás, como desnecessária é a sangria feita pelo PEC, pois a crise, pelos vistos, como a chuva de Verão, vai ser coisa de pouca dura. Passageira. Face a isto, Passos Coelho já não tem dama pela qual se possa bater. Mesmo que seja para português ver.
Outra coisa que me faz pensar que aqui há gato, é que para o outro troço do TGV, entre o Poceirão e Caia, não há degradação da conjuntura económica e financeira. Esse avança. Não! Aqui há qualquer coisa que não bate certo. Diz-se por aí que o problema é outro. Que o problema tem o nome de Mota-Engil, empresa que ficou em segundo lugar no concurso agora anulado, atrás dum consórcio liderado pelos espanhóis da FCC, cuja proposta era 500 milhões de euros mais baixa que a da empresa onde pontifica, como presidente-executivo, o sublime socialista Jorge Coelho.
Aqui chegados, é bom recordar que Jorge Coelho foi ministro do Equipamento Social, tendo sido seu secretário de Estado das Obras Públicas um senhor chamado Luís Parreirão, que é, por desgraçado acaso, um dos actuais administradores da Mota-Engil, onde já estava quando Coelho entrou. Claro que nada disto reflecte qualquer promiscuidade entre o poder económico e o poder político, são mundos totalmente à parte, são coisas que acontecem por insondáveis desígnios do destino, nada mais que meras – e infelizes – coincidências. Mas que os cérebros maldosos e as línguas afiadas logo aproveitam para remoer as suspeitas do costume…
Para mim, que não ando cá há dois dias, esta manobra visa dois objectivos: O primeiro, é mesmo dar à Mota-Engil uma segunda oportunidade. Os camaradas, como os amigos, são para as ocasiões. O segundo, é assustar os indígenas. Estão ver como a coisa está realmente preta? Até o TGV, que é uma das meninas dos olhos do senhor engenheiro, está a sofrer com a crise! É porque isto está mesmo mau. Daí, que lá temos que ir aos bolsos da rapaziada. Com muita pena, mas não há outro remédio. Ou isso, ou o caos, a bancarrota, o dilúvio, o próprio inferno.
E a rapaziada, que acredita em tudo o que lhe dizem – e que ainda não percebeu que a crise é obra dos donos do dinheiro, com a conivência activa dos políticos – encolhe os ombros e dá a carteira aos assaltantes.
Sem um pio.
(João Carlos Pereira)
Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 22/09/2010.
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