quarta-feira, 1 de setembro de 2010

O SENHOR PEREIRA, O SENHOR SILVA E O SENHOR SOUSA



Mal um dos nossos ouvintes soube que eu tinha regressado de férias, enviou-me o seguinte e-mail:

«Ainda bem que voltaste. O país precisa de ti agora, mais do que nunca, porque nos vimos livres do Sócrates e do seu miserável governo. Lá, onde estiveste, não deves ter ouvido notícias e, por isso, desconheces que aqueles processos judiciais, que já duravam há largos anos chegaram ao fim e que os réus foram todos condenados a pesadas penas de prisão. Acabaram as taxas moderadoras na saúde e os hospitais estão a funcionar em pleno, já não existindo listas de espera. Os bancos passaram a pagar os mesmos impostos que são exigidos às outras empresas e estão proibidos de cobrar aquelas taxas de serviços que não pedimos, nem necessitamos. Foram abolidos definitivamente os recibos verdes na função pública e os trabalhadores passaram todos para os quadros, com aumentos médios muito acima da inflação que se dizia existir. O desemprego caiu drasticamente e todos os dias são criadas novas empresas de tipo familiar, que estão a colocar a nossa economia muito à frente dos restantes países europeus. Este verão, praticamente não houve incêndios, porque as matas são limpas e os poucos pirómanos que ainda existem são imediatamente presos e tão cedo não se metem noutra. Os combustíveis e o IVA desceram e já pagamos o mesmo que os espanhóis. Há muitas outras novidades que tu desconheces e por isso almoçamos um dia destes, para ficares ao corrente do que se passou por cá. Até lá um abraço e anima-te, que isto agora é que vai "avante"».


Sorri-me do humor negro do meu amigo. Continuando a ler os e-mails, destacou-se logo outro, este de uma ouvinte nossa, também regressada agora de férias. Entre outras coisas, dizia-me:

«Esta viagem que fiz, deu, mais uma vez, para perceber que somos, efectivamente, uma vergonha para a Europa. Como te escrevi há uns tempos, não me importa nada em saber se todos os países que visitei são governados por políticas de esquerda ou de direita, estou-me nas tintas para a nomenclatura, a única coisa que sei, porque vi e testemunhei, é que aquela gente vive com extrema qualidade de vida e em liberdade. Percorri, com algum detalhe, a França, a Suiça, principalmente a Áustria, a Alemanha e a Itália e parecia que estava noutro planeta, a anos luz deste terreno plantado à beira-mar, bonitinho, que amamos porque aqui temos enterrada a nossa vida, mas totalmente inabitável, a todos os níveis».


Ai de mim, que passei as férias cá dentro, deitando contas à vida, e incapaz de me alhear da nossa triste realidade. Estive grande parte do tempo a respirar o fumo dos incêndios, ou a vê-los lavrar, sem precisar de assistir aos noticiários da televisão. Ouvi as queixas dos bombeiros e de elementos da GNR, todas coincidentes em dois pontos: falta de meios e incúria do governo, que não sabe defender a nossa riqueza natural, deixando a fauna e a flora, especialmente a que está à sua guarda, em áreas protegidas, completamente ao abandono.


Ouvi as patacoadas indecentes do senhor Pereira, ministro da Administração Interna, que não se cansava de repetir que estava a arder menos que no ano de 2003. Porquê 2003, senhor ministro? Não há, no seu registo mental, o ano de 2002? Nem de 2001? Ou os anos de 2004 a 2009? Apagou esses anos das estatísticas? Porque não lhe interessou citá-los? E porque não nos explicou, senhor Pereira, porque não se desbloqueia a verba para entregar aos bombeiros as 35 viaturas que reconhecidamente estão em falta? Será porque se gastou a massinha toda com os 962 carros de luxo para a rapaziada dos ministérios? E que explicação tem V. Exa., bem como os dois optimistas (o senhor Silva e o senhor Sousa) que interromperam férias para se inteirarem da situação e, perante ela, se sentiram satisfeitos e tranquilos, quando ficámos a saber que de toda a área ardida no espaço comunitário – na Europa – desde o dia 1 de Janeiro, 70% ardeu neste cantinho chamado Portugal? Como explicam vossas sumidades que nesta meia dúzia de quilómetros quadrados tenha ardido mais do dobro que na Europa toda? Pronto, mas ardeu menos que em 2003, não é senhor Pereira?

O país continua a arder. Em todos os sentidos. Arde a floresta, arderam 1.836 empresas em seis meses e ardem 224 empregos por dia. Ardem os nossos bolsos com os impostos e os aumentos de tudo o que somos obrigados a comprar. Arde o nosso futuro às mãos de políticos trafulhas, incompetentes e desavergonhados, mentirosos e trapaceiros.

Entretanto, o senhor Silva vai recandidatar-se; o senhor Sousa aguarda que o ponham com dono, para ir brincar aos engenheiros ali para as bandas da Covilhã, onde já tem obra feita; e o senhor Pereira, coitado, regressou ao ano de 2003, que era o único ano de que se lembrava…

(João Carlos Pereira)


Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 01/09/2010.
Não deixe de ouvir em 98.7 Mhz e participar pelos telefones 212277046 ou 212277047 todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00.
Também pode comentar para o
Jornal Comércio do Seixal e Sesimbra.

5 comentários:

Anónimo disse...

O problema é que se nos livramos dos Silvas, dos Sousas e dos Pereiras, vêm outros, Alegremente, com passos de Coellho e a m.... fica na mesma.
Alternativas sérias e credíveis precisam-se, urgentemente, antes que já não haja qualquer volta a dar.
Acordem, Portugueses.

J.S. Teixeira disse...

Novo edifício da Câmara Municipal do Seixal primeiro edifício público em Portugal a obter a Declaração de Certificação Energética. Saiba mais detalhes no blogue O Flamingo.

Tenho dito.

Anónimo disse...

A passarona quer fazer crer que o novo edifício da Câmara Municipal do Seixal obteve a Declaração de Certificação Energética graças aos seus patrões, mas não refere que:

O Decreto-Lei n.º 78/2006 aprova o Sistema Nacional de Certificação Energética e da Qualidade do Ar Interior nos Edifícios e transpõe parcialmente para a ordem jurídica nacional a Directiva n.º 2002/91/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 16 de Dezembro de 2002, relativa ao desempenho energético dos edifícios.

Este Decreto-Lei dá cumprimento à obrigatoriedade dos Estados-Membros de implementarem um sistema de certificação energética que assegure a melhoria do desempenho energético e da qualidade do ar interior nos edifícios e que garanta que estes passem a deter um Certificado de Desempenho Energético.

O sistema agora aprovado abrangerá, de forma faseada, em função da sua tipologia e dimensão, todos os edifícios habitacionais e de serviços.
A sua aplicação prática terá início em 2007, abrangendo nesse ano os grandes edifícios residenciais e de serviços a construir. Os edifícios residenciais existentes, cujos proprietários deverão possuir um certificado informativo sobre os consumos energéticos esperados, para efeitos de venda, locação e arrendamento, só serão abrangidos a partir de 2009.

Mais um tiro no pé da passarona...

Anónimo disse...

O país arde. O Zé Povinho arde ainda mais, com estas políticas e com estes políticos. Qualquer Sousa, Silva ou Santos, apanhando-se no poleiro, pensa que pode construir a sua obrazinha (mais ou menos de fachada), como os faraós mandavam construir pirâmides. Ontem, como hoje, é sempre o Zé a pagar - e com línguia de palmo - as megalomanias dos faraós. Dos verdadeiros e das imitações baratas e gaguejantes.

Os novos Paços do Concelho foram erguidos com dinheiro por haver - ou seja, que outros hão-de pagar - enquanto tudo o mais definha à falta de obra, de iniciativa, de trabalho, de competência e de dedicação ao Povo.

Entretanto, adjudicam-se a privados as tarefas que deveriam ser executadas por trabalhadores do município. E enquanto se reduz o pessoal operário e administrativo, incha o números de quadros e técnicos, assessores, adjuntos e demais marmanjos que, noutras latitudes, são designados por boys.

E depois admiram-se quando ouvem dizer que «eles são todos iguais».

Anónimo disse...

Para o anónimo de 2 de Setembro, às 18:55

Ó homem assine, não se esconda. Quem fala (escreve, neste caso) assim, não deve ter medo nem vergonha de dar a cara. De vozes assim é que nós precisamos.

Um trabalhador da CMS (anónimo por razões óbvias, pois a liberdade de expressão, nalguns sítios, é uma treta).