quarta-feira, 23 de março de 2011

OS HITLERZINHOS


Hitler sonhou conquistar o mundo e subordinar todos os povos à raça ariana. Considerava que o povo alemão tinha direito, como raça superior, ao espaço necessário à sua expansão territorial e, naturalmente, à apropriação dos recursos naturais necessários ao seu progresso e bem-estar. A conquista desse espaço – o Espaço Vital, na óptica e designação nazis – partia da premissa que toda a sociedade, em certo grau de desenvolvimento, devia conquistar os territórios onde as pessoas são menos desenvolvidas. Se bem pensou e disse, melhor o fez – ou tentou fazer. Deu no que deu. E convém não esquecer que Hitler chegou ao poder através de eleições democráticas, tanto quanto – ontem, como hoje – podem ser democráticas as eleições que levam às urnas turbas alienadas pela habilidade discursiva e as circunstâncias excepcionais de cada época. Goebbels fez escola.

Em 1933, já era claro que a Alemanha preparava a ocupação do seu Espaço Vital, ou seja, a conquista de territórios, a pilhagem de recursos naturais e a dominação de povos sob os ideais do nacional-socialismo. Objectivos e ideais que, diga-se a verdade, eram aplaudidos e compartilhados por grandes e diversificados extractos sociais nos países capitalistas, onde ser germanófilo, como então se dizia, não era assim coisa tão rara ou criticável.



Ao recordar estes factos, é impossível não se reparar no espantoso paralelismo entre os argumentos nazis e os que, desde há décadas, sem qualquer rebuço, são confessados pelos políticos norte-americanos, ao reivindicarem para si o direito de intervir em qualquer parte do mundo onde os seus «Interesses Vitais sejam postos em causa». Entre o Espaço Vital de Hitler e os Interesses Vitais dos EUA, as diferenças são puramente formais. No fundo, trata-se de subordinar os povos tidos como inferiores, aos interesses de um povo superior. É isto – e nada mais – que leva os arianos de hoje, com a sua corte europeia de lacaios mais ou menos mussolinianos, a agredir a Líbia. É o petróleo e o gás natural, e não Kadafi e os direitos humanos, que é para esse lado que Bush ou Obama, Sarkosi ou Merkel dormem melhor. Aliás, ainda há poucos meses Kadafi apertava a mão a Obama, almoçava com Sócrates e beijava Sarkosi. É claro, portanto, que a agressão à Líbia não visa resolver o conflito interno, mas que foi o conflito interno, bem cozinhado a partir do exterior, que serviu de pretexto ao assalto em curso às jazidas de petróleo e gás natural líbios. Aliás, ninguém ainda nos explicou como foi que, num regime opressor, como se diz ser o de Kadafi, os «manifestantes» – rapidamente promovidos a queridos e apaparicados «rebeldes» – disponham de armamento sofisticado que até inclui, pelo que nos foi dado ver, baterias anti-aéreas.

Os Interesses Vitais dos EUA são, como se percebe, tão criminosos quanto o era a ideia do Espaço Vital de Hitler. Espalham a morte e a destruição ao sabor da fúria saqueadora necessária à satisfação das exigências da economia estado-unidense. Mas enquanto os nazis assumiam claramente as suas causas, os «democratas» de hoje, cínica e cobardemente, fabricam os pretextos necessários a conferir uma aparente legalidade à rapina.

Aliás, é de um cinismo revoltante que seja em nome dos direitos humanos que países que têm mais pobres e desempregados, mais excluídos e esfomeados que toda a população da Líbia junta, corram a bombardear um país onde não se dorme debaixo das pontes ou nos túneis do Metro, não se vasculham os caixotes do lixo, como em Nova Yorque ou Paris, nem se morre por falta de assistência médica, como em Portugal ou nos EUA.

Já agora: será que as centenas de milhares de manifestantes contra Sócrates, que lutam em defesa dos seus direitos humanos – Trabalho, Pão Saúde, Educação – também o podem fazer de armas na mão?

Era justo.



(João Carlos Pereira)

Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 23/03/2011.

1 comentário:

Anónimo disse...

É uma vergonha...
Em Évora existe um call-center que explora os jovens alentejanos, com contratos precários... há muitos anos... usando-se o sistema de rescindir com uma empresa e fazer contrato com outra.
Trabalhamos com todos os sistemas informáticos do grupo caixa seguros, Império Bonança, Fidelidade Mundial e Multicare, mas não temos o direito a receber um preço mais justo pelo nosso trabalho, tal como os funcionários das Companhias?
Quando contactamos os clientes das Companhias é como se fossemos funcionários destas Companhias, mas para recebermos ordenado já não nos identificamos como tal.
Limitamo-nos a receber entre € 400,00 a € 500,00 e somos tratados como máquinas, pior ainda… pois quando os computadores não funcionam, não existe remédio… quando estamos a precisar de ir à casa de banho, já temos tempos estipulados e a correr depressa.
O Call-center já funciona há muitos anos, muitas empresas passaram muitos “escravos” ficaram…
Agora que mudaram a gestão do Call Center, para uma empresa de escravatura dos tempos modernos, denominada Redware, do grupo Reditus, decidiram inaugurar… vejam lá… inaugurar o Call Center, que devia-se chamar Senzala.
Este grande acontecimento vai acontecer amanhã, dia 25 de Março, e vai ter direito à visita do Secretário de estado para a inovação Carlos Zorrinho, do Presidente da Câmara de Évora José Ernesto Ildefonso Leão de Oliveira, do Presidente da Caixa Geral de Depósitos Fernando Faria de Oliveira, do Presidente das Companhias de Seguros do Grupo Caixa Seguros Jorge Magalhães Correia e as suas comitivas.
E pergunto-me vão inaugurar o quê, mais uma fase da exploração de pessoas, que têm que se sujeitar às condições destes empregos porque não existe mais nada?
Mas não somos pessoas?
Não devíamos ter direito a usufruir de condições mais justas pelo nosso trabalho, para termos direito a viver?
Até quando é que o nosso Pai, a nossa Mãe, o nosso Tio, a nossa Tia,… poderão ajudar-nos?
Mas depois é ver a publicidade destas empresas, em que parecem todos bons rapazes e muito solidários, eis um exemplo http://www.gentecomideias.com.pt/gentecomideias/Pages/MensagemdoPresidente.aspx
Sr. Presidente da Câmara, tenha vergonha em pactuar com esta forma de escravatura… ponha a mão na sua consciência, isto se ainda a tiver…