O povo laranja parece um comprimido efervescente acabado de cair num copo de água. E o povo cor-de-rosa, ainda a lamber as feridas, é um resto de vinho azedo no fundo de um copo rachado. O povo laranja passou a adorar as políticas de austeridade de Sócrates, e até acha que é pouco. E o povo cor-de-rosa, porque está tudo muito fresco, ainda não tem coragem, nem lata, para criticar agora o que antes aplaudia.
Se o PS pôs os portugueses a pagar uma crise que os portugueses não fizeram – porque não foram os portugueses comuns que governaram o país nem controlaram a economia –, o PSD vai, como já se viu, continuar a cobrar aos portugueses o preço dessa crise.
Mas há, nesta aparente similitude, uma diferença substancial. Enquanto o PS atirava para a crise internacional a culpa da situação, o PSD, de forma mais subterrânea e perversa, atira para os ombros dos trabalhadores – para os seus «direitos adquiridos» – a culpa pela situação vivida. De vários lados vêm esses sinais.
Um escriba igual aos que passavam os recados de Salazar e Caetano, esclarece, num assomo de lucidez genial, que a culpa da crise grega se deve aos direitos adquiridos pelos gregos, que atingiram as raias – diz ele – da demência. E dá cinco exemplos lapidares:
- Um lago seco desde 1930 tem, ainda hoje, um instituto para a sua protecção, com dezenas de funcionários ao serviço;
- Num hospital público, existe um jardim com 4 arbustos, sendo que foram contratados, para cuidar desses arbustos, 45 jardineiros;
- As filhas solteiras dos funcionários públicos têm direito a uma pensão vitalícia, após a morte do familiar:
- Os hospitais gregos compram pace-makers 400 vezes mais caros do que aqueles que são adquiridos pelo SNS britânico;
- Existem 600 profissões que podem pedir a reforma aos 50 (mulheres) e aos 55 (homens), porque são profissões de alto desgaste. Entre elas, e a par dos mineiros, estão cabeleireiras e apresentadores de TV.
Estão detectadas – e à vista desarmada – as razões da crise: os «direitos adquiridos» dos trabalhadores. Foram os trabalhadores gregos que exigiram cuidar de lagos defuntos e que, para cada arbusto grego, existam 11,25 jardineiros. Os trabalhadores gregos têm o direito adquirido de exigir aos administradores hospitalares que esbanjem os dinheiros públicos com a compra de pace-makers, com as luvas e as comissões já incluídas no preço. Foram as filhas solteiras dos funcionários públicos que obrigaram o governo a sustentá-las, caso não casassem. E, claro, como na Grécia só há mineiros, cabeleireiras de madames finas e apresentadoras de TV que, aliás, passam o tempo a entoar loas aos governos de direita que, há décadas, estão no poder, eis as razões da falência grega: os «direitos adquiridos» dos trabalhadores, esses malandros.
Para a laranjada nunca existiu o regabofe da alta finança, a crise do subprime, os Madoffs, os BPNs, sucateiros, Varas, Loureiros e demais quadrilhas. Aliás, os direitos da banqueirada, dos administradores, dos boys e das girls – na Grécia ou cá – não são adquiridos.
São divinos.
Oh! se são…
Se o PS pôs os portugueses a pagar uma crise que os portugueses não fizeram – porque não foram os portugueses comuns que governaram o país nem controlaram a economia –, o PSD vai, como já se viu, continuar a cobrar aos portugueses o preço dessa crise.
Mas há, nesta aparente similitude, uma diferença substancial. Enquanto o PS atirava para a crise internacional a culpa da situação, o PSD, de forma mais subterrânea e perversa, atira para os ombros dos trabalhadores – para os seus «direitos adquiridos» – a culpa pela situação vivida. De vários lados vêm esses sinais.
Um escriba igual aos que passavam os recados de Salazar e Caetano, esclarece, num assomo de lucidez genial, que a culpa da crise grega se deve aos direitos adquiridos pelos gregos, que atingiram as raias – diz ele – da demência. E dá cinco exemplos lapidares:
- Um lago seco desde 1930 tem, ainda hoje, um instituto para a sua protecção, com dezenas de funcionários ao serviço;
- Num hospital público, existe um jardim com 4 arbustos, sendo que foram contratados, para cuidar desses arbustos, 45 jardineiros;
- As filhas solteiras dos funcionários públicos têm direito a uma pensão vitalícia, após a morte do familiar:
- Os hospitais gregos compram pace-makers 400 vezes mais caros do que aqueles que são adquiridos pelo SNS britânico;
- Existem 600 profissões que podem pedir a reforma aos 50 (mulheres) e aos 55 (homens), porque são profissões de alto desgaste. Entre elas, e a par dos mineiros, estão cabeleireiras e apresentadores de TV.
Estão detectadas – e à vista desarmada – as razões da crise: os «direitos adquiridos» dos trabalhadores. Foram os trabalhadores gregos que exigiram cuidar de lagos defuntos e que, para cada arbusto grego, existam 11,25 jardineiros. Os trabalhadores gregos têm o direito adquirido de exigir aos administradores hospitalares que esbanjem os dinheiros públicos com a compra de pace-makers, com as luvas e as comissões já incluídas no preço. Foram as filhas solteiras dos funcionários públicos que obrigaram o governo a sustentá-las, caso não casassem. E, claro, como na Grécia só há mineiros, cabeleireiras de madames finas e apresentadoras de TV que, aliás, passam o tempo a entoar loas aos governos de direita que, há décadas, estão no poder, eis as razões da falência grega: os «direitos adquiridos» dos trabalhadores, esses malandros.
Para a laranjada nunca existiu o regabofe da alta finança, a crise do subprime, os Madoffs, os BPNs, sucateiros, Varas, Loureiros e demais quadrilhas. Aliás, os direitos da banqueirada, dos administradores, dos boys e das girls – na Grécia ou cá – não são adquiridos.
São divinos.
Oh! se são…
(João Carlos Pereira)