- O homem roubou? Não consta.
- Comprou a licenciatura? Não. Parece que a dele é verdadeira.
- Recebeu dinheiro para facilitar empreendimentos? Nunca foi suspeito disso.
- A família tem milhões em offshores? Não há indícios de tal.
- É suspeito de peculato? Não senhor.
- Então, de que crime é suspeito? De ter gasto dinheiro a mais em obras públicas? Também não é isso.
- Foi apanhado em escutas telefónicas a conspirar contra o Estado de Direito? Não, senhor.
Então? Parece que gastou mais do que disse que tinha gasto. Por isso, o défice é maior do que aquele que se supunha.
Não me digam! No entanto – e como as obras estão à vista e, principalmente, por o diabo ter uma capa com que tapa e outra com que destapa – parece que todos sabiam que as despesas tinham sido feitas. Ou seja: os surpreendidos estavam informados do que se passava, mas nenhum reagiu aos sucessivos alertas do Tribunal de Contas. Todos? Mas quem? Dois presidentes da República, dois procuradores-gerais da República, três primeiros-ministros, quatro ministros das Finanças, três presidentes da Assembleia da República, dois presidentes do Supremo Tribunal Administrativo, três presidentes do Tribunal Constitucional, três presidentes do Supremo Tribunal de Justiça e entidades regionais (líderes dos partidos e deputados incluídos). Então, sabiam e deixaram andar?
Mas, afinal, se o défice do país é o que é de há anos a esta parte – e até chegou a ser revisto em alta, várias vezes, muitos meses depois – qual é, exactamente o crime do senhor Alberto, que não possa ser também imputado a todos os que, nas últimas décadas, têm governado o país? Foi só o senhor da Madeira que pôs o país de rastos?
Cá por mim, que se investigue e julgue Alberto João. Mas – façam favor – não se esqueçam de todos os outros que deram cabo disto tudo, a começar num tal Soares. E a acabar num tal Sócrates, este não só pela gestão danosa do país, como por todas as trafulhices em que se viu metido.
Ou não…
(João Carlos Pereira)
Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 28/09/2011.