quarta-feira, 14 de setembro de 2011

O MATA E O ESFOLA




Um programa que a televisão transmitiu este fim-de-semana, directamente de Braga, fez-me lembrar um filme sobre a chegada à terra dos extraterrestres. Os alienígenas chegaram e deram com um país de pernas para o ar, e o povo esmagado pelas botas de governantes sem coração e sem ideias salvadoras. Olharam uns para os outros, entre indignados e invadidos pela mais genuína estupefacção, e disseram, lá na sua linguagem difícil de entender, que isto assim vai mal, que isto não se faz a ninguém, que estamos perante um massacre, patati, patatá. De repente, um dos extraterrestres emitiu um som que me deixou vagamente inquieto: pareceu-me que tinha pronunciado Sócrates. Arrepiei-me. Como não se devia estar a referir ao filósofo, creio que a criatura queria dizer José Sócrates, dois nomes juntos que só têm uma tradução possível: CATÁSTROFE!

Como não ligo muito a programas de ficção, nem estava a dar muita importância àquilo. Mas o nome de Sócrates assustou-me. Alto, lá! Será que estou ver mal? Se calhar, isto não é ficção científica, mas um filme negro sobre a vida de alguma organização de malfeitores. Pus o livro que estava a ler de lado, e fixei-me no televisor, para ver se conhecia algum dos actores. Ia morrendo. Estavam ali as caras de muitos dos tipos que, nos últimos seis anos deram cabo disto tudo! Não era ficção científica idiota, não era um filme negro de terceira categoria, era muito pior, era a mais desgraçada realidade. Aquela gente que ali estava, a fazer-se de admirada – e indignada – pelo estado a que este país chegou, devia estar toda presa. Ou, no mínimo, proibida de falar em política os próximos 89 anos. Pelo menos.



E ali estava a rapaziada – e raparigada – do PS, a mandar vir com o PSD, por o PSD estar a esfolar o doente que o PS matou. Não foram os «socialistas» (socialistas, salvo seja!) que começaram as destruir o Serviço Nacional de Saúde e a Segurança Social? Não foram os «socialistas» que aumentaram o défice, o desemprego e a criminalidade, que criaram o trabalho precário, que privatizaram tudo o que puderam, que endividaram o país até à ponta dos cabelos e destruíram o aparelho produtivo, pondo-nos literalmente, nas mãos do estrangeiro? E estão a criticar o PSD por continuar a obra, passando agora a esfolar o corpo que eles lhes entregaram já morto?

Quem pode criticar o PSD sou eu, porque eu é que estou a ser esfolado. Eu é que sou obrigado a pagar por medicamentos, para doenças crónicas, metade do meu ordenado. Eu é que já deixei de beber leite e comecei a reduzir no pão. Eu é que vou descontar mais para pagar o meu futuro desemprego e, com isso, dar mais um grande negócio ao sector privado.

Eu é que ando a ser morto e esfolado, há mais de 36 anos, por dois bandos de celerados – PS e PSD – que se têm revezado, eficazmente, na carnificina.

A NATO está à espera de quê? Ou esta matança é democrática?



(João Carlos Pereira)



Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 14/09/2011.

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