quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

E DEPOIS?

Quando já não houver mais nada para vender, como é que o governo vai pagar a dívida e os juros? Não pode ignorar-se que, segundo dados do próprio Governo, por 78.000 milhões de euros disponibilizados pela troika, o Estado terá de desembolsar 112.400 milhões, já que, só de juros, pagaremos 34.400 milhões, ou seja, 44% do montante do empréstimo. Não sei se já perceberam que nunca produziremos riqueza suficiente para pagar o que devemos, fundamentalmente porque sucessivos governos entregaram a nossa capacidade produtiva a troco de uns fundozitos para construir estradas e auto-estradas, todas elas agora desertas – mas portajadas –, para além de uns trocos para acções de formação, que desapareceram nos bolsos de espertalhões arrimados aos partidos do poder, sem formar fosse quem fosse, ou no que quer que fosse, salvo na arte da ladroagem.
A venda da EDP e da REN, que deixava nos cofres do Estado milhões de euros, acabou também com esse encaixe. Para cúmulo, até os milhões de euros relativos aos lucros do exercício de 2011 vão direitinhos para os bolsos dos compradores chineses, embora nesse ano ainda nem sonhassem ser donos dessas empresas. Isto sem falar do facto, ainda mais grave, de entregar a estrangeiros todo o nosso sector energético, o que significa que TODA A NOSSA ECONOMIA fica nas mãos de interesses que não são os nossos. Mais tarde, venderão a água, das nuvens aos rios, as praias e toda a orla costeira, talvez a Serra da Estrela e o parque Natural da Peneda Gerês, oferecendo, como bónus, a Arrábida e as Berlengas. Mesmo assim, iremos continuar a pedir dinheiro para pagar a dívida e os juros, porque há muito que deixámos de ser economicamente viáveis. E porque as dívidas – e os juros – serão cada vez maiores.

De seguida, dissolverão as Forças Armadas, porque não há dinheiro para as sustentar, já que os militares insistem em ter ordenado, carreiras e fardas, exigências que um verdadeiro patriota nunca deveria fazer. Venderão, consequentemente, os novos submarinos, os carros de combate e o Castelo de S. Jorge. Feitas as contas, o Gaspar vai dizer que não chega, daí que se venderão as escolas, os hospitais, os centros de saúde e os tribunais. E quem quiser estudar, tratar-se ou recorrer à Justiça, emigrará e, no país de destino, tratará desses pequenos detalhes.

Claro que não haverá dinheiro para as reformas e pensões, nem para salários, a não ser para os senhores administradores, membros do governo, assessores, adjuntos, especialistas, comentadores, analistas, deputados, autarcas e afins.

Aqui chegados, perguntará alguém:

– Então, e depois? Continuamos a pagar impostos, se o Estado, vendida a última pedra, e fechada a última porta da última repartição, já não gere seja o que for?

Claro, então, de que é que viveriam os senhores administradores, membros do governo, assessores, adjuntos, especialistas, comentadores, analistas, deputados, autarcas e afins e, principalmente, os investidores?







Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 22/02/2012.

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