quarta-feira, 11 de julho de 2012

ASNOS E MAUS



Em cada dia que passa, o défice aumenta 35 milhões de euros, bastante pior do que no primeiro trimestre de 2011, quando eram Sócrates e Teixeira dos Santos os açougueiros de serviço. Quer isto dizer que a actual dupla de carniceiros, Passos / Gaspar, está a dar cabo do resto. E, pelo andar da carruagem, nenhum deles parece saber porquê. Aliás, do próprio governo surgem opiniões contrárias. Dizem uns, como Vítor Gaspar, que ficaram surpreendidos com a quebra das receitas, dizem outros que a coisa era absolutamente expectável. Nabo sou eu, e aqui há uns meses atrás escrevi e disse que o resultado da austeridade ia dar no que está a dar. Passos Coelho, esse, não diz nada que se perceba, salvo que ainda é cedo, para se falar em mais austeridade. Este ainda é cedo é assustador. Significa que o remédio que está a matar o doente já tem nova dose pronta a ser servida, para o que o Tribunal Constitucional fez o favor de passar a devida receita. Nem a pedido! Ou talvez sim…

Mas se o agravamento do défice provém, essencialmente, da quebra de receita relativa aos impostos indirectos, devido à enorme quebra do consumo das famílias – e estavam à espera de quê? – também resulta do agravamento da despesa, já que as prestações sociais aumentam a olhos vistos, fruto do desemprego e de milhares de novos pobres engrossarem o número dos beneficiários do Rendimento Social de Reinserção.

Segundo consta, Vítor Gaspar é economista. Passos Coelho também. Deviam saber que o buraco só pode ser reduzido e tapado sustendo a queda do PIB. Com menos riqueza gerada não há volta a dar, porque menos riqueza equivale a menos receita e, para além disso, porque cada euro de défice, sobre uma base (PIB) menor, tem um peso percentual maior. Deviam saber, mas parece que não sabem. Porque será?

Há quem garanta que um e outro não primam pela inteligência. Dizem outros que tudo resulta da sua formação neoliberal, a qual não comporta qualquer vestígio de preocupações sociais, vendo as pessoas como meros instrumentos ao serviço dos potentados económicos. Há quem seja da opinião que ambos padecem desses dois males: meio broncos e totalmente insensíveis aos valores humanistas que deviam caracterizar o homem moderno, principalmente quando se propõe gerir a coisa pública. 

Eu acredito que Passos e Gaspar são asnos e maus. E se o facto de serem maus lhes confere elevado estatuto nos meios financeiros que gostosamente servem, já o facto de serem estúpidos nos permite alguma esperança. Os patrões deles na Goldman Sachs, no Citigroup e quejandos, gostam daqueles que usam a inteligência para levar o saque a bom porto. Não é, notoriamente, o caso. Ora, nos tempos que correm, até para fazer o trabalho sujo é preciso ter alguns neurónios – e em bom estado. O tempo dos verdugos boçais já lá vai.

Mas nada disto é novo. Já Shakespeare dizia que «Homens são homens.
Esquecem-se, às vezes, de ser humanos».

E estas bestas de humanos nada têm.


(João Carlos Pereira)



Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 11/07/2012.

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