Em cada dia que passa, o
défice aumenta 35 milhões de euros, bastante pior do que no primeiro trimestre
de 2011, quando eram Sócrates e Teixeira dos Santos os açougueiros de serviço.
Quer isto dizer que a actual dupla de carniceiros, Passos / Gaspar, está a dar
cabo do resto. E, pelo andar da carruagem, nenhum deles parece saber porquê.
Aliás, do próprio governo surgem opiniões contrárias. Dizem uns, como Vítor
Gaspar, que ficaram surpreendidos com a quebra das receitas, dizem outros que a
coisa era absolutamente expectável. Nabo sou eu, e aqui há uns meses atrás
escrevi e disse que o resultado da austeridade ia dar no que está a dar. Passos
Coelho, esse, não diz nada que se perceba, salvo que ainda é cedo, para se falar em
mais austeridade. Este ainda é
cedo é assustador. Significa
que o remédio que está a matar o doente já tem nova dose pronta a ser servida,
para o que o Tribunal Constitucional fez o favor de passar a devida receita.
Nem a pedido! Ou talvez sim…
Mas se o agravamento do
défice provém, essencialmente, da quebra de receita relativa aos impostos
indirectos, devido à enorme quebra do consumo das famílias – e estavam à espera
de quê? – também resulta do agravamento da despesa, já que as prestações
sociais aumentam a olhos vistos, fruto do desemprego e de milhares de novos
pobres engrossarem o número dos beneficiários do Rendimento Social de
Reinserção.
Segundo consta, Vítor
Gaspar é economista. Passos Coelho também. Deviam saber que o buraco só pode
ser reduzido e tapado sustendo a queda do PIB. Com menos riqueza gerada não há
volta a dar, porque menos riqueza equivale a menos receita e, para além disso,
porque cada euro de défice, sobre uma base (PIB) menor, tem um peso percentual
maior. Deviam saber, mas parece que não sabem. Porque será?
Há quem garanta que um e
outro não primam pela inteligência. Dizem outros que tudo resulta da sua
formação neoliberal, a qual não comporta qualquer vestígio de preocupações
sociais, vendo as pessoas como meros instrumentos ao serviço dos potentados
económicos. Há quem seja da opinião que ambos padecem desses dois males: meio
broncos e totalmente insensíveis aos valores humanistas que deviam caracterizar
o homem moderno, principalmente quando se propõe gerir a coisa pública.
Eu acredito que Passos e
Gaspar são asnos e maus. E se o facto de serem maus lhes confere elevado
estatuto nos meios financeiros que gostosamente servem, já o facto de serem
estúpidos nos permite alguma esperança. Os patrões deles na Goldman Sachs, no
Citigroup e quejandos, gostam daqueles que usam a inteligência para levar o
saque a bom porto. Não é, notoriamente, o caso. Ora, nos tempos que correm, até
para fazer o trabalho sujo é preciso ter alguns neurónios – e em bom estado. O
tempo dos verdugos boçais já lá vai.
Mas nada disto é novo. Já
Shakespeare dizia que «Homens são homens.
Esquecem-se, às vezes, de ser humanos».
E estas bestas de humanos nada têm.
(João Carlos Pereira)
Crónica lida nas “Provocações” da Rádio
Baía em 11/07/2012.
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