quinta-feira, 2 de agosto de 2012

O SUCESSO NO PAÍS DOS CASTRADOS

A trupe que governa o país, onde pontifica um quarteto que seria risível caso não espalhasse angústia, sofrimento e morte (Pedro, Miguel, Vítor e Álvaro), continua a olhar-se ao espelho e a garantir que não há ninguém mais perfeito do que ela – a trupe. Frequentemente risonhos, os quatro truões afiançam que o programa de resgate financeiro do país está a ser um sucesso. São pontos de vista tão respeitáveis como quaisquer outros. Tudo depende dos objectivos, das prioridades e dos princípios ideológicos que se tenham. Os campos de extermínio nazis, por exemplo, eram tidos como um sucesso para um regime que visava eliminar tudo aquilo de que não gostava: opositores políticos, sindicalistas, pessoas de certas raças e credos, como ciganos e judeus. E até homossexuais, embora disso não faltasse nas hostes garbosas do regime. Já as vítimas foram de opinião diferente. Exagerei na comparação? Talvez. Mas fi-lo conscientemente, porque às vezes é preciso carregar no traço para se perceber o desenho – e eu sei para quem estou a desenhar.

Ao sucesso do governo – e dos quatro bufões – corresponde um número anormalmente alto de suicídios, realidade esta que se tenta disfarçar, havendo até indicações expressas nas redacções dos órgãos de comunicação social para não serem imputados à crise.

Ao sucesso do governo – e dos compères Passos, Relvas, Gaspar e Álvaro – corresponde o aumento de gente sem trabalho, designadamente o aumento de casais que sofrem (os dois) da magnífica «oportunidade» de estarem no desemprego. Actualmente, estão a beneficiar deste enorme «sucesso» 8.316 casais, mais 92% do que em igual mês do ano passado (números do IEFP, não meus).

Ao sucesso do governo – e dos três doutores, a que acresce o outro, o Miguel, que também gostava de o ser – corresponde, (segundos dados do INE, não meus), o aumento da população que está no limiar da pobreza, sendo já 1.900.000 o número de portugueses nessa situação. E o «sucesso» é tanto, que quatro milhões e meio de pessoas (ou seja: quase metade dos portugueses), só não estão na pobreza porque recebem prestações sociais pagas pelo Estado.

De sucesso em sucesso – e só no primeiro semestre deste ano –, o Estado, apesar do aumento dos impostos, regista uma quebra significativa nas receitas fiscais, a CP perde 6 milhões de passageiros, os restantes transportes públicos vêem desaparecer cerca de 40% de utilizadores, a Brisa cobra menos 27 milhões de euros em portagens, as famílias fogem de ter filhos, foge-se do país a sete pés e a Segurança Social perde receitas e vê crescer a despesa.

Feitas as contas ao tal sucesso, o empobrecimento dos portugueses é uma realidade, há cada vez mais fome, mais desemprego, mais falências, o alastramento da miséria é iniludível, a recessão instalou-se e, para o quadro ser perfeito, o défice e a dívida são maiores do que antes das medidas salvadoras. Do sucesso…

Entregues a um bando de gente medíocre e sem vergonha – do qual emerge a parelha Passos e Relvas como símbolo da bagunça oportunista, da imoralidade, da insensatez, da desumanidade e da vassalagem aos usurpadores imperiais da Alta Finança – os portugueses não revelam qualquer centelha insurgente.

Por concordarem com a sangria? Nada disso! Por evidente falta de tomates.


(João Carlos Pereira)

Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 01/08/2012.

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