A trupe que governa o
país, onde pontifica um quarteto que seria risível caso não espalhasse
angústia, sofrimento e morte (Pedro, Miguel, Vítor e Álvaro), continua a
olhar-se ao espelho e a garantir que não há ninguém mais perfeito do que ela –
a trupe. Frequentemente risonhos, os quatro truões afiançam que o programa de
resgate financeiro do país está a ser um sucesso. São pontos de vista tão
respeitáveis como quaisquer outros. Tudo depende dos objectivos, das
prioridades e dos princípios ideológicos que se tenham. Os campos de extermínio
nazis, por exemplo, eram tidos como um sucesso para um regime que visava
eliminar tudo aquilo de que não gostava: opositores políticos, sindicalistas,
pessoas de certas raças e credos, como ciganos e judeus. E até homossexuais,
embora disso não faltasse nas hostes garbosas do regime. Já as vítimas foram de
opinião diferente. Exagerei na comparação? Talvez. Mas fi-lo conscientemente,
porque às vezes é preciso carregar no traço para se perceber o desenho – e eu
sei para quem estou a desenhar.
Ao sucesso do governo – e dos quatro bufões – corresponde um número
anormalmente alto de suicídios, realidade esta que se tenta disfarçar, havendo
até indicações expressas nas redacções dos órgãos de comunicação social para
não serem imputados à crise.
Ao sucesso do governo – e dos compères Passos, Relvas, Gaspar e Álvaro –
corresponde o aumento de gente sem trabalho, designadamente o aumento de casais
que sofrem (os dois) da magnífica «oportunidade» de estarem no desemprego.
Actualmente, estão a beneficiar deste enorme «sucesso» 8.316 casais, mais 92% do que em igual
mês do ano passado (números do IEFP, não meus).
Ao sucesso do governo – e dos três doutores, a que acresce o outro,
o Miguel, que também gostava de o ser – corresponde, (segundos dados do INE,
não meus), o aumento da população que está no limiar da pobreza, sendo já
1.900.000 o número de portugueses nessa situação. E o «sucesso» é tanto, que
quatro milhões e meio de pessoas (ou seja: quase metade dos portugueses), só
não estão na pobreza porque recebem prestações sociais pagas pelo Estado.
De sucesso em sucesso – e só no primeiro semestre deste ano –, o
Estado, apesar do aumento dos impostos, regista uma quebra significativa nas
receitas fiscais, a CP perde 6 milhões de passageiros, os restantes transportes
públicos vêem desaparecer cerca de 40% de utilizadores, a Brisa cobra menos 27
milhões de euros em portagens, as famílias fogem de ter filhos, foge-se do país
a sete pés e a Segurança Social perde receitas e vê crescer a despesa.
Feitas as contas ao tal sucesso, o empobrecimento dos portugueses é
uma realidade, há cada vez mais fome, mais desemprego, mais falências, o
alastramento da miséria é iniludível, a recessão instalou-se e, para o quadro
ser perfeito, o défice e a dívida são maiores do que antes das medidas
salvadoras. Do sucesso…
Entregues a um bando de gente medíocre e sem vergonha – do qual
emerge a parelha Passos e Relvas como símbolo da bagunça oportunista, da
imoralidade, da insensatez, da desumanidade e da vassalagem aos usurpadores
imperiais da Alta Finança – os portugueses não revelam qualquer centelha
insurgente.
Por concordarem com a sangria? Nada disso! Por evidente falta de
tomates.
(João Carlos Pereira)
Crónica lida nas “Provocações” da Rádio
Baía em 01/08/2012.
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