quarta-feira, 23 de novembro de 2011

IDIOTAS, GURUS, BESTAS E GABIRUS

Um guru chamado Vaz, que escreve no Correio da Manhã, decretou que a Greve Geral só não prejudica os interesses dos especuladores financeiros. E regurgitou, decisivo, que ela é um instrumento partidário «contra medidas governamentais de executivos eleitos democraticamente». Pronto. O Vaz disse, está dito. No fundo, todas as medidas tomadas por governos democraticamente eleitos, são para comer e calar. São, por definição e natureza, medidas excelentes e inquestionáveis. Depois, os sindicalistas têm partidos, o que é terrível.
Os governantes democraticamente eleitos também têm partidos, mas aí é uma bênção.

Conclusões da brilhante regurgitação:

1 – Estamos nas mãos dos especuladores financeiros;
2 – Só pode ser sindicalista quem não tiver partido;
3 – Um governo democraticamente eleito é sagrado.

Depois de uma besta-quadrada ter mandado os jovens desempregados emigrar, uma besta cúbica da mesma manada, o secretário de Estado do Emprego, informou que o salário mínimo português (485 €) não é realmente baixo. Para que conste, informo eu que mais baixo que o de Portugal, na zona euro, só os da Eslováquia e da Estónia. Mais altos, temos o de Malta, com mais 180 €, os de Espanha e Eslovénia, com mais 263 €, Grécia, com mais 378 €, França com mais 880 €, os da Irlanda, Holanda e Bélgica todos com mais de 900 € acima, e o do Luxemburgo, com mais 1.273 €. Esta besta, ao serviço de um governo democraticamente eleito, deveria ser brindada com o salário mínimo. Ela e o guru Vaz. Talvez assim aderissem à Greve Geral.

Os gabirus (democraticamente eleitos) que governam a mando da Troika – ou seja, dos especuladores financeiros de que falava o guru Vaz – estão a passar Portugal a patacos. Fruto das benditas medidas aplicadas, a nossa economia perde riqueza ao ritmo de 8,2 milhões de € por dia. Os agiotas estão em grande. A corda na garganta está para ficar. E, ainda por cima, somos nós a pagá-la.

Aos gurus, às bestas e aos gabirus juntam-se, historicamente, os idiotas. São os que consideram que o mundo não andava se não houvesse uma coisa chamada Investidor (o tal especulador financeiro). O Investidor é um ser da galáxia Andrómeda, que chegou à Terra cheio de dinheiro, com a missão humanitária de ajudar os países em dificuldades. Sem ele, morreríamos asfixiados nas nossas imensas dívidas e, principalmente, seríamos incapazes de produzir uma agulha, semear um grão, colher uma azeitona ou esmagar uma uva.

Parecendo que não, os idiotas têm muita força. Se não houvesse tanto idiota, eles, os gurus, as bestas, os gabirus e os investidores já tinham passado à história há muito tempo. E – então, sim – ninguém pensaria em greves gerais.

Mas até lá, que remédio…





(João Carlos Pereira)



Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 23/11/2011.


1 comentário:

Anónimo disse...

A fotografia de «capa» está muito mal escolhida. É injusta para os macacos. Podem sentir-se ofendidos. Os macacos, chimpanzés, neste caso, não são idiotas, gurus, nem bestas, nem gabirus. Só os humanos podem ser estas coisas.