
De um gajo porreiro, passei a um ser tipo agressivo, descortês, insultuoso e provocador. Diga-se que a desculpa para a indignação não é tanto aquilo que digo, mas – alegam eles – a forma como o digo. Não tenho espaço, tempo ou pachorra para recuperar o muito que disse de Sócrates e do PS, bem como dos que, com o seu apoio, nos puseram, durante seis anos, nas mãos do «maior sacripanta» que alguma vez tinha governado o país.
De «bando cor-de-rosa» e de «malfeitores» (10.11.10), até chamar aos socialistas que apoiavam o governo um grupo de «velhacos ou imbecis» 13.10.11), ou «gente medíocre e desprezível, tartufos» (06.10.10), nada faltou no menu da minha indignação. E não me faltaram aplausos de vários quadrantes, a começar pelos que agora me estigmatizam. Até Sócrates ser corrido, eu era bestial, elegante e subtil. Quase um herói. Agora, para as hostes laranjas, sou uma besta provocadora, grosseira e fanática. «Felizmente» – com aspas, certo? – começo a ser muito apreciado por certas franjas cor-de-rosa. Para eles, é ao contrário: deixei de ser besta e estou quase a ser bestial.
Mas vamos a

É trabalhar mais, por menos dinheiro.
- É não ter férias pagas, subsídio de férias e subsídio de Natal.
- É estar disponível para o seu patrão a qualquer dia da semana e a qualquer hora do dia ou da noite.
- É, mesmo com os rendimentos diminuídos, pagar mais impostos, da casa ao carro – porque ter casa e carro é um luxo a que só as elites têm direito – e sobre o que se come e se bebe.
- É pagar mais caro por consultas, medicamentos, meios auxiliares de diagnóstico, internamentos, operações, transportes, água, electricidade e gás, porque tudo isto são bens supérfluos de que só a fina-flor da sociedade pode – e deve – usufruir.
- É não ter acesso a graus elevados de ensino, porque os grandes cérebros só existem nas famílias ditas da alta.
- É não poder comprar um livro, um jornal, ir jantar fora, ao teatro, comprar um disco, ir ao café.

Não ter privilégios é vegetar-se para salvar uma economia que as elites, a fina-flor da sociedade, as famílias da alta e os políticos – no nosso caso, os senhoritos do PS, PSD e CDS/PP – destruíram.
Mas se eu chamar criminosa a esta gente, e obtusos ou pérfidos a quem a defende ou justifica, ai de mim, que não passo de um bárbaro sem maneiras.
Pronto, está bem. O vilão sou eu.
(João Carlos Pereira)
Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 02/11/2011.
1 comentário:
Para mim está bem assim e se for para mudar é de tratá-los tal como nos tratam a nós: abaixo de cão.
PQP!
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