Um banqueiro norte-americano, Allen
Stanford, foi agora condenado a 110 anos de prisão pelo crime de fraude. O
Ministério Público norte-americano tinha pedido a pena máxima de 230 anos por
Stanford ter defraudado milhares de investidores em mais de sete mil milhões de
dólares.
Este caso é posterior ao do banqueiro
Madoff, que em 2008 foi condenado a 150 anos de prisão, por crimes semelhantes.
Estas duas fraudes foram descobertas muito depois do caso BPN ter vindo lume –
já em 2000 havia rumores do que se passaria no banco da rapaziada do PSD – e os
dois banqueiros norte-americanos já foram julgados e condenados.
Em Portugal, ninguém acredita que coisa
parecida possa acontecer. O gang de Oliveira e Costa, com ramificações que se
estendem por um ilustre bando de beneficiários dos crimes praticados, vai sair
de tudo isto como se nada se tivesse passado. E como se uma factura de muitos
milhares de milhões de euros não estivesse a ser paga por todos os portugueses.
Em Portugal, quanto maior o roubo, maior a impunidade. O povo continua sereno e
servil. Carneiro até mais não!
Claro que as Troikas e os FMIs só exigem que
os portugueses que não são banqueiros, nem vivem dos rendimentos da especulação
financeira, nem têm milhões em off-shores, nem pertencem à SLN – que era a
empresa que deveria ter sido nacionalizada juntamente com o BPN, pois se no
banco só havia lixo, era na SLN que estava parte dos milhões desviados – paguem
a crise com os seus miseráveis ordenados e pensões. Nada de mexer no património
da gatunagem. Nem de penhorar os seus bens.
É evidente que, ao mesmo tempo, também não
passa pela cabeça da Troika, nem do FMI, nem da União Europeia, como não passa
pelas cabecinhas de Passos, Gaspar ou Pereira dos Santos, que se ponha Portugal
a produzir aquilo que precisa. Numa altura em que nunca foi preciso produzir
tanta coisa, e numa altura em que há tanta gente sem trabalho – e quando a
solução só pode ser uma: criar riqueza – ninguém mexe uma palha para
recuperarmos a nossa indústria, a nossa agricultura, as nossas pescas, a nossa
pecuária e, simultaneamente, começarmos a recuperar a nossa independência.
Não, bom e pachorrento povo português. Isso
é que seria um crime gravíssimo de lesa-majestade. Não se pode mexer no lucro
aos senhores Investidores. Roubar bancos por dentro, sendo coisa desagradável,
principalmente porque se deixou que a bronca estourasse, é, ainda assim,
suportável. Na verdade, a populaça paga e nem refila. Alguns, coitados até
julgam que não lhes sai do bolso. Mas pôr o país a produzir o que precisa, aí,
meus amigos, alto e para o baile. Aí, já se estava a ir ao bolso dos grandes
agiotas, o que é impensável. Sabiam que sempre foi por bulir com esses
interesses que começaram todas as guerras?
Um ano depois das grandes medidas salvadores
do país terem começado a ser aplicadas, alguém se enganou na receita. O doente
está pior.
Incompetência? Nem pensar! O objectivo é ter
o doente sempre ligado à máquina. Com medo de morrer, ele paga e não bufa.
(João Carlos Pereira)
Crónica lida nas “Provocações” da Rádio
Baía em 27/06/2012.