quarta-feira, 20 de junho de 2012

OS BUFÕES E O HOLOCAUSTO


Bufões, ou parlapatões, títeres, palhaços, impostores, charlatães, intrujões, pantomineiros, enfim, sinónimo de bufão é coisa que não falta no dicionário. Qualquer destes termos se aplica aos saltimbancos, truões, funâmbulos e malabaristas que, pelo voto, conseguiram alcançar as rédeas da governação. E tudo isto com o devido respeito pela rapaziada das actividades circenses e afins, trupes de qualquer espécie das artes do espectáculo cómico ou burlesco, que merecem todo o nosso respeito.

Há um ano que os bufões de serviço tomaram conta do palco, à custa de garantirem que nunca fariam o que estão a fazer, e jurando fazer o que ainda não fizeram. Resultado: o país está pior do que há um ano atrás, e todos os dias piora sem que se vejam sinais que apontem para o sentido inverso. Pelo contrário.

Um dos palhaços desta trupe nefanda, de seu nome Borges, veio agora desdizer o que antes disse. Garante que não disse que empobrecer o país é o remédio para o enriquecer. Não se sabe, nesse caso, o que é para ele ser uma emergência baixar os salários, a menos que um país de pobres – de mais pobres e cada vez mais pobres – seja a sua ideia de um país rico. Poderá ser, quando muito, um rico país, mas para ele e para os que, como ele, vivem principescamente à custa, precisamente, da miséria que os seus conceitos económicos, políticos e sociais vão espalhando.

As medidas salvadoras da trupe social-democrata – nome artístico que esconde uma ideologia que de social e de democrata nada tem – limitam-se a seguir um guião velho de séculos, que se destina a colocar milhões de seres humanos ao serviço das elites dominantes: Amos e Senhores lhes chamavam em tempos idos, sendo que hoje preferem ser designados por Investidores. E enquanto, no antanho, se exibiam e ostentavam a sua opulência, hoje preferem ser gente sem rosto, sem pátria e sem morada conhecida.

Assim, Portugal morre um pouco todos os dias. Só em 2011, a população portuguesa sofreu uma redução de 30.317 indivíduos, o que revela uma taxa de crescimento negativa de 0,29 %. A quebra resulta de terem morrido mais 5.986 pessoas do que as que nasceram, e de terem emigrado mais 24.331 pessoas do que as que entraram no país.

Agora – e como se nada disto viesse a provocar, directa ou indirectamente, o agravamento deste silencioso e tranquilo holocausto – voltam a subir a electricidade, o gás e, por arrastamento, todos os bens e serviços que destas energias dependem. Assim, simplesmente: aumenta-se tudo, como se da coisa mais simples e inofensiva se tratasse.

Passos, Gaspar, Borges e todos os bufões de serviço aos Investidores desempenham o seu sinistro papel. E enquanto as vítimas se calarem – e muitas delas até aplaudirem – o holocausto continua.

(João Carlos Pereira)

Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 20/06/2012.

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