quarta-feira, 6 de junho de 2012

FOLHAS SOLTAS


Tema para as minhas crónicas é coisa que não falta. A dificuldade é escolher um. Outra dificuldade é, estando as coisas como estão, é missão impossível falar de algo mais que não seja das maldades que os governos do mundo – com o nosso em destaque – fazem aos povos a mando dos grandes banqueiros (que são quem manda nisto, e o resto é conversa).

Por isso, enquanto nos tirarem o sangue a esta velocidade, é disso que eu falarei. Porém desta vez, vou fazer desta crónica uma espécie de salada russa – ou caldeirada, se quiserem – aproveitando aquilo que li e ouvi por aí. Vamos a isso:

Christine Lagarde, que é a patroa do FMI, descobriu só agora que há crianças esfomeadas em África e que, portanto, os gregos que estejam caladinhos e tratem mais é de pagar os seus impostos. Mas acontece que esta madame recebe cerca de 440 mil euros por ano… limpinhos de impostos. E acontece, também que quem foge aos impostos na Grécia, como cá, não são os desgraçados dos trabalhadores por conta de outrem, que os pagam à cabeça, mas os bandos ligada à especulação e aos jogos financeiros, especialmente a matulagem que tem o PASOK e a Nova Democracia nas mãos – ou seja, o PS e o PSD lá do sítio – os verdadeiros responsáveis pela crise grega. Madame Lagarde revelou não passar de uma pessoa sem ética e notoriamente pouco inteligente. Ou – por qualquer razão que só ela saberá – um pouco descontrolada.

Na mesma linha desta madame, está o grande social-democrata António Borges, que já serviu no FMI e numa organização igualmente sinistra, o banco Goldman Sachs, cujos tentáculos se estendem por todo o mundo, garroteando as dívidas soberanas da Europa e dos EUA, alimentando-se da crise do subprime, enfim sugando tudo o que pode da riqueza produzida no planeta. Ora, António Borges foi, até 2008, dirigente deste banco, em Londres, e agora dá conselhos ao senhor Passos Coelho, ao que consta, na área das privatizações. E começou logo por achar que os salários dos portugueses devem ser reduzidos «urgentemente». Ele, que ganhou, em 2011, 225 mil euros – ora adivinhem – igualmente livres de impostos.

Curiosamente, o governo do PSD recusa-se a informar quanto está a pagar ao senhor Borges, apesar de ser o povo português a suportar a despesa. E mais: é que a antiga entidade patronal deste cavalheiro – o tal banco Goldman Sachs, como já vimos – é especialista em negócios como aqueles que as privatizações permitem. Ninguém melhor que António Borges para tratar do assunto. Tudo de uma transparência assustadora.

Quem também não está mal na vida, é outro banqueiro, o senhor Jardim Gonçalves, cuja excelente e honorabilíssima gestão ia dando com o BCP de pantanas. Como prémio, o ilustre, competente e honrado gentil-homem recebe uma reforma de 175 mil euros mensais, o que lhe dá para as despesas, coisa que Cavaco Silva, por exemplo, não consegue. Ora, o arcebispo de Braga, Jorge Ortiga, confessou que quase se engasgou quando tomava o pequeno-almoço e leu que o antigo presidente do BCP recebia tal reforma. Jorge Ortiga deve deixar de ler jornais, se quiser viver mais uns anos. Pelo menos, enquanto estiver a comer…

O Tribunal de Contas descobriu que um boy socialista meteu mais de 700 milhões de euros nos bolsos de empresas privadas, no âmbito das famigeradas Parcerias Público Privadas, tendo-o feito através de contratos fantasmas, para fugir ao visto do TC. Como de costume, ninguém vai ser preso. E logo veio o espantoso ministro da Economia dizer que a redução das rendas pagas às PPP deve ser tratada com «muito cuidado».

- Olha, lá, ó Coiso: nunca pensaste em resolver esse assunto com o mesmo cuidado com que o corte nos nossos subsídios e pensões foi tratado? Do género tiro e queda?

Se calhar, não. Deixavas logo de ser ministro, não era?


Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 06/06/2012.

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