O desemprego está a provocar uma "incerteza considerável"
sobre a execução da Segurança Social, explicou o ministro Gaspar. Em linguagem
de gente, quis ele dizer que se amanhã não houver dinheiro para pagar pensões e
outras prestações sociais, a culpa é só do coiso. De mais ninguém – e muito
menos dele e das suas medidas de austeridade.
Como sabem, o coiso é o desemprego, isto no linguajar do
ministro Álvaro, o dos pastéis. Ora, sendo assim, de quem será a culpa do
desemprego? Ah! A culpa do desemprego é do arrefecimento da economia, explica o
rapaz que faz as vezes de primeiro-ministro, que também descobriu que o coiso –
o desemprego – é mesmo um mundo de grandes oportunidades.
Bom, já estamos a aprender qualquer coisa. Mas de quem é a
culpa do arrefecimento da economia? – perguntam os chatos imbecis como eu. A
culpa do arrefecimento da economia é da instabilidade política, associada a
conjunturas económicas e financeiras desfavoráveis (ou vice-versa, tanto faz,
já que uma e outra se revezam no papel de causas e consequências), o que faz os
mercados retraírem-se face aos riscos decorrentes dessas mesmas conjunturas,
explicam, por sua vez os senhores Camilos Lourenços, aduzindo que é necessário
fazer alguns sacrifícios para as coisas se recomporem.
Estou a ver, sim senhor. Mas de quem é a culpa das
conjunturas económicas e financeiras desfavoráveis, que derivam – ou que
provocam – a instabilidade política (ou vice-versa, obviamente), da quais
resulta o arrefecimento da economia, que vai dar no desemprego, que por sua vez
provoca o estrangulamento da Segurança Social?
Boa pergunta, sim senhor, dizem os sábios destes assuntos.
As conjunturas económicas e financeiras desfavoráveis – a que podemos, daqui
para a frente, designar por Crise – resultam de vários factores, sendo o mais
determinante, na actual situação, o endividamento excessivo, que desaguou na
crise do subprime, nos
activos tóxicos e nas chamadas bolhas, a começar pela do imobiliário. Fácil,
não é?
Facílimo! Mas de quem é a culpa do endividamento
excessivo, da crise do subprime e das tais bolhas? Bem, a culpa disso
nasceu da necessidade de endividar as pessoas, para que elas possam comprar o
que as fábricas produzem (no, fundo, o que elas, as pessoas, produzem) já que
lhes tinham reduzido ao máximo o poder de compra, é, ao mesmo tempo, garantir
que os bancos aumentem, através dos juros do crédito, os seus lucros. Ou seja:
O endividamento é uma forma do capital financeiro pagar ordenados mais baixos e
ainda ganhar dinheiro com os empréstimos que faz para compensar a perda de
poder de compra. Mas não convém dizer isto muito alto, está a perceber?
Oh, se estou! Mas isso deu para o torto, não deu? Pois
deu. A sangria foi tão grande que as pessoas deixaram de poder pagar os seus
empréstimos, reduziram o consumo ao mínimo, as fábricas e as lojas fecharam,
começou a engrossar o coiso (perdão: o desemprego), e a economia a arrefecer.
Mau! Está a dizer-me que a culpa do desemprego é do
próprio desemprego?
Sim, é isso mesmo. A culpa é sempre do coiso. De mais
ninguém.
Fácil, não é? De facto, só um grande imbecil é que não
percebe uma coisa tão simples…
Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 30/05/2012.
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