Nos últimos dias, o rapazito tem-se desunhado a mandar vir.
Não se calou. Ou melhor: falou o triplo do que é costume falar, com a atenção
reverencial da comunicação social. Aliás, o rapazito só foi esquecido quando os
nossos compatriotas Mourinho, Ronaldo, Coentrão e Ricardo Carvalho venceram a
liga de futebol da outra parte da Península Ibérica, feito glorioso que a
história pátria registará ao lado da descoberta do caminho marítimo para a
Índia e da batalha de Aljubarrota. Quatro portugueses, coadjuvados por alguns
espanhóis, brasileiros, argentinos, franceses e sei lá que mais, cometeram a
notável proeza de se sagrarem campeões, amouxando o Barcelona de Messi e
Guardiola, toma lá que é para saberes quanto custa não teres portugueses no elenco.
A façanha teve honras de abertura de telejornais, primeiras páginas da imprensa
escrita e falada, entradas em directo da Praça de Cibeles, onde os referidos
portugueses pareciam césares a entrar em Roma após mais uma vitória sobre os
bárbaros. A pátria honraram? Pois a pátria, embevecida, nestes directos de
Madrid, vos contempla! O resto, é nada, como diria o poeta!
Perante tamanho feito – que leva a sermos, obrigatoriamente,
todos nós adeptos do Real e, consequentemente, campeões de Espanha (para além
da perna do Ronaldo ser mais bela que a do Messi, um enfezadito que não tem
fama de papar gajas às paletes, ou de estoirar Ferraris sempre que lhe apetece)
– ficaram para segundo lugar um milhão e tal de desempregados, dois milhões de
portugueses com larica, o aumento das listas de espera para operações, as
rendas das Parcerias Público-Privadas, a corrupção...
Corrupção!? Qual corrupção!?
A propósito de PPP: só a Brisa, dos Mellos, pede ao Estado
1,1 mil milhões de indemnização por atraso da entrada em serviço do lote 4
da concessão da Costa da Prata, introdução de portagens nessa via rápida e
coisas relacionadas com a construção.
Está bem, pronto, os Mellos eram, nos tempos do Salazar e do
Tomás, donos da CUF, de um banco e mais umas coisitas, como a Tabaqueira,
companhias de navegação e tal e coiso, mas as estradas ainda eram nossas, do
Estado. Agora são donos de muito mais, os tempos são outros, é a modernidade, a
globalização, a inovação, sabem como é, o Estado patati-patatá, quando tivermos
tempo vamos ver isso das rendas das PPP.
Pois. Mas até na Saúde os Mellos nos levam os olhos da cara,
disto não fala o zapazito, que já mandou na JSD, manda agora no país inteiro
(manda, é como quem diz: alguém o manda mandar assim), então, lá vai patati,
patatá, o desemprego tira-me o sono, não durmo desde que tomei posse, por isso
preparem-se para mais desemprego, porque para acabar com o desemprego vai ser
preciso desempregar ainda muito mais. Patati, patatá.
Ah, pois, isto com salários baixos também é uma chatice, é
preciso aumentá-los, mas para que se possa aumentar os salários é preciso
baixá-los primeiro, não sei se estão a seguir o raciocínio do rapazito que não
dorme há uma data de tempo.
Patati, patatá.
Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 09/05/2012.
Sem comentários:
Enviar um comentário