segunda-feira, 4 de junho de 2012

PATATI, PATATÁ

Nos últimos dias, o rapazito tem-se desunhado a mandar vir. Não se calou. Ou melhor: falou o triplo do que é costume falar, com a atenção reverencial da comunicação social. Aliás, o rapazito só foi esquecido quando os nossos compatriotas Mourinho, Ronaldo, Coentrão e Ricardo Carvalho venceram a liga de futebol da outra parte da Península Ibérica, feito glorioso que a história pátria registará ao lado da descoberta do caminho marítimo para a Índia e da batalha de Aljubarrota. Quatro portugueses, coadjuvados por alguns espanhóis, brasileiros, argentinos, franceses e sei lá que mais, cometeram a notável proeza de se sagrarem campeões, amouxando o Barcelona de Messi e Guardiola, toma lá que é para saberes quanto custa não teres portugueses no elenco. A façanha teve honras de abertura de telejornais, primeiras páginas da imprensa escrita e falada, entradas em directo da Praça de Cibeles, onde os referidos portugueses pareciam césares a entrar em Roma após mais uma vitória sobre os bárbaros. A pátria honraram? Pois a pátria, embevecida, nestes directos de Madrid, vos contempla! O resto, é nada, como diria o poeta!

Perante tamanho feito – que leva a sermos, obrigatoriamente, todos nós adeptos do Real e, consequentemente, campeões de Espanha (para além da perna do Ronaldo ser mais bela que a do Messi, um enfezadito que não tem fama de papar gajas às paletes, ou de estoirar Ferraris sempre que lhe apetece) – ficaram para segundo lugar um milhão e tal de desempregados, dois milhões de portugueses com larica, o aumento das listas de espera para operações, as rendas das Parcerias Público-Privadas, a corrupção...

Corrupção!? Qual corrupção!?

A propósito de PPP: só a Brisa, dos Mellos, pede ao Estado 1,1 mil milhões de indemnização por atraso da entrada em serviço do lote 4 da concessão da Costa da Prata, introdução de portagens nessa via rápida e coisas relacionadas com a construção.

Está bem, pronto, os Mellos eram, nos tempos do Salazar e do Tomás, donos da CUF, de um banco e mais umas coisitas, como a Tabaqueira, companhias de navegação e tal e coiso, mas as estradas ainda eram nossas, do Estado. Agora são donos de muito mais, os tempos são outros, é a modernidade, a globalização, a inovação, sabem como é, o Estado patati-patatá, quando tivermos tempo vamos ver isso das rendas das PPP.

Pois. Mas até na Saúde os Mellos nos levam os olhos da cara, disto não fala o zapazito, que já mandou na JSD, manda agora no país inteiro (manda, é como quem diz: alguém o manda mandar assim), então, lá vai patati, patatá, o desemprego tira-me o sono, não durmo desde que tomei posse, por isso preparem-se para mais desemprego, porque para acabar com o desemprego vai ser preciso desempregar ainda muito mais. Patati, patatá.

Ah, pois, isto com salários baixos também é uma chatice, é preciso aumentá-los, mas para que se possa aumentar os salários é preciso baixá-los primeiro, não sei se estão a seguir o raciocínio do rapazito que não dorme há uma data de tempo.

Patati, patatá. 


Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 09/05/2012.

Sem comentários: