quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

COELHO ESCONDIDO COM TUDO DE FORA


A fome alastra na Grécia, onde já se registaram casos de crianças que desmaiam durante as aulas, em consequência de carências alimentares. Afecta ao poder, a maioria da comunicação social silenciou – ou desvalorizou – esta situação, porque o que interessa é que a austeridade não provoque mais indignação e leve o povo a levantar-se contra os governantes e o poder económico – os investidores, ou os mercados, ou os especuladores, ou os agiotas – pois são eles os pais da crise. Não importa o que as crianças sofrem, seja na Grécia, seja na Serra Leoa, seja em Portugal, desde que os senhores investidores possam ver bem remunerados os empréstimos que nos fazem com o dinheiro que acumularam à custa do nosso trabalho. Com o dinheiro que nos roubaram.

Por cá, entusiasmado com a mansidão do bom povo português, sempre à espera que a senhora de Fátima (ou D. Sebastião) faça o milagre de salvar o país, o garotelho que o PSD pôs à experiência em S. Bento já veio dizer que daqui a 20 anos as pensões de reforma estarão reduzidas a metade. Acrescenta o salafrário que o melhor é os portugueses começarem a poupar, constituindo reservas em instituições públicas ou privadas, de maneira a que as suas pensões sejam menos miseráveis do que ele, em tom de ameaça, já vaticina. Para além de confessar o fracasso do sistema económico e financeiro em que vivemos, o mariola – qual coelho escondido com tudo de fora – vai, sub-repticiamente, empurrando a maralha para subscrever produtos financeiros dos bancos e das seguradoras, que por acaso – e só por mero acaso – estão nas mãos dos senhores capitalistas, os tais que ajudaram à festa e que, assim, alargarão a sua manjedoura. E que, depois, darão emprego, com boas reformas no fim, aos tratantes dos governantes e deputados que lhes animarem o negócio.




Poupar? Mas poupar o quê? E como? Não saberá o biltre que ele tem, acolitado pelo carniceiro Gaspar, rapado os últimos cêntimos dos bolsos dos portugueses, e que todos os dias promete mais e melhor rapinanço?

Alguém disse, há dias, esta coisa muito certa: «Esta é uma crise do capitalismo e foi criada pela sobre-exploração da força de trabalho, com os imensos lucros do grande capital e a sua acumulação. O capitalismo é um sistema que está podre e obsoleto. Não pode ser corrigido. Enquanto o capitalismo existir, trará sempre consigo desemprego, fome, guerra, exploração brutal para as classes trabalhadoras e a população em geral».

Parece claro que – e as palavras do rapazola não deixam margem para dúvidas – com os facínoras que há trinta e cinco anos nos governam, só nos resta ver os nossos filhos a cair de fome.

Por muito menos a Maria da Fonte veio para a rua de pistolas nas mãos. E nós? Estamos à espera de quê?



(João Carlos Pereira)


Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 28/12/2011.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

O ESCRITÓRIO DE BRUXELAS

A taxa de desemprego oficial (que é muito inferior à real) subiu para mais de 12%. Por dia, quase duas dezenas de empresas declaram falência, ou limitam-se a fechar as portas. Nos últimos meses, cerca de cinco mil casas foram entregues aos bancos, por incapacidade de cumprimento das famílias e construtores. O crédito malparado não pára de subir, atingindo níveis nunca antes registados. Só nos últimos três meses, subiu 14%. O investimento é inexistente. A escassos dias do Natal, as lojas estão às moscas e nem as grandes promoções salvam as vendas. Se há um ano havia mais de dois milhões de portugueses a passar mal, o número agrava-se todos os dias, com milhares de novos pobres a aumentar o cortejo de miséria que percorre o país de alto a baixo.

Contudo, em Bruxelas, a Comissão Europeia acha pouco e diz que o governo português deve ter «perseverança e determinação para superar os fortes interesses instalados que estão no caminho das reformas». Bruxelas exige ao País que avance «rapidamente» com reformas para reduzir os custos do trabalho e aumentar a flexibilidade laboral. Em linguagem de gente, dizem que é necessário ganhar menos e trabalhar mais, a qualquer dia, a qualquer hora. Sempre ao dispor do seu amo, tal como no tempo da escravatura.




Não saberá Bruxelas que, em Portugal, se praticam já os salários mais baixos da Europa ocidental? Sabe, mas acha pouco.

Não saberá Bruxelas que o que arruinou o país foram as políticas de destruição do aparelho produtivo português, por si impostas, as famigeradas parcerias público-privadas, com juros aterradores, ou os custos monumentais da energia, para que os contratos com as renováveis gerem milhões que vão direitinhos para bolsos privados, mas pagos pelos consumidores com língua de palmo? Sabe, mas é disso que ela gosta.

Não saberá Bruxelas que um banco onde o estado investiu milhares de milhões de euros, para tapar os roubos de banqueiros e dos seus homens de mão, foi vendido – melhor dizendo: foi oferecido – por 40 milhões de euros, não se sabendo quanto mais ainda o Estado – todos nós – vai ter que ali enterrar? Sabe, mas aplaude.

Não saberá Bruxelas o que se passa com os investimentos especulativos através do crédito bancário, a que as negociatas obscenas da Bolsa deram sumiço? Sabe, mas os Mercados são assim mesmo. Não saberá Bruxelas que o país está a saque há muitos anos, acumulando-se fortunas à custa da especulação e dos cofres do Estado, enquanto o aparelho produtivo definhava e a maioria da população era esvaída sem dó nem piedade? Sabe, mas a Europa rica tem excedentes que a Europa pobre deve comprar.

Bruxelas sabe isso tudo, porque Bruxelas é o grande escritório Europeu dos interesses do capital financeiro.

E a Europa dos Povos?

Ah, essa! Daqui a duzentos anos pensamos nisso.




(João Carlos Pereira)



Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 21/12/2011.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

DÁ CÁ O MEU!

Segundo o semanário Expresso, foi proposto à Assembleia Municipal de Cascais, de maioria PSD, que o cabaz de Natal e o bolo-rei que a autarquia costuma oferecer, nesta altura, aos senhores e senhoras deputados municipais, fossem distribuídos por famílias carenciadas. Não estranho que os dinheiros públicos possam ser utilizados desta forma, como se eleitos municipais, para além dos seus ordenados e das roliças senhas de presença, ainda tivessem direito a miminhos pelo Natal, pagos pelo Zé, e logo num ano em que o Natal vai ser, para milhões de compatriotas nossos, um tempo frio e amargo. E não estranho, porque é sabido que neste miserável e pestilento país os detentores de cargos políticos têm por hábito encher a pança à conta do pagode, seja qual for o pretexto. O amanhanço faz parte do cargo, é o venha a nós enquanto há, nem que seja um mísero cabaz de Natal e um bolo-rei, ainda por cima sem fava e sem brinde, que a UE, sempre preocupada com a nossa saúde, não quer que morramos engasgados. À míngua, pode ser; asfixiados, jamais!

Pensava eu que a proposta seria aprovada por unanimidade e aclamação, nem que fosse para inglês ver. Julgava, mas enganei-me. A votação deu uns interessantes 16-16, competindo ao senhor presidente desempatar. E o senhor presidente, eleito pelo CDS/PP, dentro do espírito cristão que caracteriza os centristas, lá desempatou a coisa. Mantenha-se a esmola aos senhores deputados, que devido aos cortes no subsídio de Natal podem ter algumas dificuldades este mês. E depois, que diferença fariam trinta e tal cabazes de Natal no meio da tanta fome que por aí vai? Para além disso, essa gente, a que chamamos carenciada, não pode ser mal habituada. Na volta ainda vinham, daqui a um ano, exigir, como direito adquirido, um cabaz de Natal para toda a gente que passa mal – e para toda a vida. Então, mais de trinta cabazes de Natal e bolos-rei, pagos com o dinheiro dos munícipes, vão aconchegar a mesa dos senhores deputados municipais de Cascais, pelo menos daqueles que votaram a favor da manutenção de obscena regalia.

Este episódio retrata bem o carácter de grande parte da nossa classe política. Para a maioria, os cargos são, antes de mais, um por aqui me sirvo despudorado. Deitam a mão a tudo o que podem, tudo serve de pretexto para regalar a pança e satisfazer a gula. E a sofreguidão é de tal ordem, que nem se dão ao trabalho de disfarçar. Ou de pensar duas vezes.

Boçais, tacanhos, ávidos e devassos, arregalam os olhos e salivam o verdume da ganância, mal lhes passa à frente a hipótese de um ganho. Se não são capazes de se conter com um cabaz de Natal e um bolo-rei, veja-se lá do que estas alimárias não são capazes.

O país a saque? Que ideia! É só assim uma espécie de Ó Abreu, dá cá o meu!

E o povo que se lixe!





(João Carlos Pereira)



Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 14/12/2011.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

A GREVE, OS CÍNICOS E OS ASNOS

Andam por aí alguns cavalheiros a carpir a sua indignação pelos prejuízos que a Greve Geral terá causado ao país. Não os ouvi carpir quando um binómio tenebroso, constituído pela alta finança e o poder político, vendeu ao desbarato a nossa capacidade produtiva e endividou o país até aos cabelos. Caladinhos que nem ratos, viram as empresas estratégicas nacionais e os sectores básicos da nossa economia serem – e, se deixarmos, o que resta também será – saborosas pechinchas para a voracidade do capital financeiro. Mas da greve argumentaram que é apenas uma face da luta partidária, não passando, em suma, de atentado ilegítimo ao interesse nacional.

Por mero acaso – e só por mero acaso – são os mesmos cavalheiros que achavam que as greves promovidas pelo senhor Walesa, na Polónia, eram o último grito do poder sindical. Por mero acaso – e só por mero acaso – são os mesmos cavalheiros que acham que todo o património é intocável – sagrado, até – com uma só excepção: o património que resulta da venda do trabalho, ou seja, os ordenados e as pensões. Por mero acaso – e só por mero acaso – são os mesmos cavalheiros que acham legítimo um empresário fechar a sua empresa e ir reabri-la no estrangeiro, ou fazer dos offshores um delicioso refúgio da riqueza conseguida à custa de quem trabalha ou da mais nauseabunda especulação. Não, nada disso incomoda os grandes patriotas. Só as greves.

Não os incomoda que as políticas de austeridade, impostas por estrangeiros, provoquem um estado de recessão crónica, com a economia a contrair, segundo a OCDE, 3,2% em 2012, ano em que o desemprego atingirá novos máximos, acrescentando aos actuais mais 75 mil novos desempregados.

Não incomoda estes cínicos – ou asnos chapados – que a par da perda do poder de compra, seja pelo aumentos dos preços, seja pelo roubo de parte das remunerações e da quebra dos direitos básicos dos portugueses – como o acesso à Saúde, à Educação, ao Trabalho e à Cultura – se pretenda transformar cada trabalhador num mero instrumento do interesse empresarial, aumentando-lhe a carga horária e colocando-o numa quase permanente disponibilidade face ao seu empregador, como se em vez de um ser humano não passasse de um escravo «democrático», algo que nem um tipo nascido em Santa Comba Dão, e que aperreou o país por mais de quatro décadas, foi capaz sequer de imaginar.

Um por cento da população portuguesa dá-se bem com este estado de coisas – e até acha pouco. Compreende-se. São os eternos vampiros insaciáveis, cínicos que gostariam que as vítimas se deixassem sangrar sem um queixume.

O que não se compreende é que entre os 99% de vítimas existam tantos asnos.



(João Carlos Pereira)


Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 07/12/2011.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

A ENGORDA



Compra-se um porco, pouco mais que um leitão, e durante alguns meses trata-se o bicho com todo o carinho. Mal sabe o animal que o dono não o faz por amor, mas por interesse. Quando, lá para o inverno, o bácoro estiver anafado, leva com a faca no cachaço e paga, com juros, os meses da engorda. Esta é a engorda tradicional, cada vez mais em desuso.

Agora, quando se fala em engorda, é doutra coisa que se fala. Um tipo desde cedo se arrima a um partido com vocação para o poder, começa nas fileiras da Juventude das hostes, aprende as manhas e os tiques da política com o baronato do redil, é premiado com uns cargos que a sua dedicação justifica – dinheiro quanto baste, trabalho nenhum – e por aí se serve. Se tiver sorte e souber encontrar os arrimos certos, até pode chegar a primeiro-ministro.

Outros, vêm lá das berças com uma mãozita atrás e outra à frente, mas trazem uma cartinha de recomendação passada pelo senhor doutor advogado lá da terrinha, para um colega, também advogado, bem colocado em Lisboa, ligado a um certo partido político que está – ou já esteve – no governo. Se não se é parvo de todo e se mostrar que se é pau para toda a obra, trepa-se depressa. Arranja-se uma licenciatura, caso dela não se disponha – há universidades milagrosas, uma para cada um dos principais partidos – passa-se a ser o senhor doutor, ou engenheiro, e fica-se apto a mais largos voos. Num dia, é-se secretário de estado, no outro já se é ministro. Se os deuses ajudaram, até primeiro-ministro um tipo destes pode ser.


Como o tempo passa a correr, tão depressa se está no governo, como fora dele, pois a democracia tem uma coisa chamada eleições, algo necessário a que os verdadeiros democratas se alimentem alternadamente à mesa do orçamento. O problema, de facto, é o tamanho da mesa: é uma mesa pequena, não dá para todos ao mesmo tempo. Ora agora comes tu, ora agora como eu.

Esta é a primeira fase da engorda dos tempos modernos, que também se distingue da engorda tradicional porque não se mata o porco por altura do Natal. Realmente, findo este ciclópico período de engorda, um verdadeiro sacrifício em prol da nação, o ex-governante vai engordar para outra pocilga, isto é, vai ocupar um lugar de destaque numa das muitas empresas que, por mero acaso, teve a felicidade de, enquanto governante, ajudar a medrar. É a segunda e decisiva fase da engorda.

Este pequeno apontamento sobre pecuária, porcos e porcarias não ficaria completo sem uma última informação: Mota-Engil, Iberdrola, Lusoponte, PT, BPN, SLN, CGD, BCP e GALP são os locais de engorda preferidos das duas varas de porcos mais conhecidas do nosso país.

Moral da história: este país é um chiqueiro.




(João Carlos Pereira)



Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 30/11/2011.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

IDIOTAS, GURUS, BESTAS E GABIRUS

Um guru chamado Vaz, que escreve no Correio da Manhã, decretou que a Greve Geral só não prejudica os interesses dos especuladores financeiros. E regurgitou, decisivo, que ela é um instrumento partidário «contra medidas governamentais de executivos eleitos democraticamente». Pronto. O Vaz disse, está dito. No fundo, todas as medidas tomadas por governos democraticamente eleitos, são para comer e calar. São, por definição e natureza, medidas excelentes e inquestionáveis. Depois, os sindicalistas têm partidos, o que é terrível.
Os governantes democraticamente eleitos também têm partidos, mas aí é uma bênção.

Conclusões da brilhante regurgitação:

1 – Estamos nas mãos dos especuladores financeiros;
2 – Só pode ser sindicalista quem não tiver partido;
3 – Um governo democraticamente eleito é sagrado.

Depois de uma besta-quadrada ter mandado os jovens desempregados emigrar, uma besta cúbica da mesma manada, o secretário de Estado do Emprego, informou que o salário mínimo português (485 €) não é realmente baixo. Para que conste, informo eu que mais baixo que o de Portugal, na zona euro, só os da Eslováquia e da Estónia. Mais altos, temos o de Malta, com mais 180 €, os de Espanha e Eslovénia, com mais 263 €, Grécia, com mais 378 €, França com mais 880 €, os da Irlanda, Holanda e Bélgica todos com mais de 900 € acima, e o do Luxemburgo, com mais 1.273 €. Esta besta, ao serviço de um governo democraticamente eleito, deveria ser brindada com o salário mínimo. Ela e o guru Vaz. Talvez assim aderissem à Greve Geral.

Os gabirus (democraticamente eleitos) que governam a mando da Troika – ou seja, dos especuladores financeiros de que falava o guru Vaz – estão a passar Portugal a patacos. Fruto das benditas medidas aplicadas, a nossa economia perde riqueza ao ritmo de 8,2 milhões de € por dia. Os agiotas estão em grande. A corda na garganta está para ficar. E, ainda por cima, somos nós a pagá-la.

Aos gurus, às bestas e aos gabirus juntam-se, historicamente, os idiotas. São os que consideram que o mundo não andava se não houvesse uma coisa chamada Investidor (o tal especulador financeiro). O Investidor é um ser da galáxia Andrómeda, que chegou à Terra cheio de dinheiro, com a missão humanitária de ajudar os países em dificuldades. Sem ele, morreríamos asfixiados nas nossas imensas dívidas e, principalmente, seríamos incapazes de produzir uma agulha, semear um grão, colher uma azeitona ou esmagar uma uva.

Parecendo que não, os idiotas têm muita força. Se não houvesse tanto idiota, eles, os gurus, as bestas, os gabirus e os investidores já tinham passado à história há muito tempo. E – então, sim – ninguém pensaria em greves gerais.

Mas até lá, que remédio…





(João Carlos Pereira)



Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 23/11/2011.


quarta-feira, 16 de novembro de 2011

A BESTA

Há dias, uma eminência parda do governo do doutor Passos e do enfermeiro – ou carniceiro? – Gaspar, saiu-se com esta tirada bestial: «Os jovens portugueses desempregados devem emigrar, em vez de ficarem na sua “zona de conforto”». A besta (porque a sua tirada foi bestial) que urrou o dislate é o secretário de Estado da Juventude e do Desporto, Alexandre Miguel Mestre. A frase, só por si, diz tudo. Um dos responsáveis pela juventude portuguesa, cuja primeira obrigação seria a de criar condições para que todos os jovens deste país pudessem, na sua pátria, realizar-se como homens e cidadãos, e a ela dando, em contrapartida, o melhor das suas competências, sintetizou, em quinze palavras, o que pensa dos portugueses e do país. Podia ter dita apenas: Andas por aí aos caídos, não é? Olha, pá, desenrasca-te. Ou então: Quem está mal, muda-se. Ou para ser completamente franco: Pirem-se daqui para fora. Não me chateiem.

Este bestial governante até acha que os jovens devem sair da sua «zona de conforto». Presumo que queria dizer, lá na sua, que estar desempregado, viver às custas dos pais, mendigando uns trocos e vendo a vida a passar-lhe ao lado é como estar ainda no aconchego do útero materno. Coitada da besta que, por ter o azar de não estar desempregada, deve sentir-se extremamente desconfortável. Daí o coice. Arre macho, que estás com a mosca! Ou foi o cheiro da palha?

Emigrar é, então, a solução para os jovens desempregados. Cavem daqui para fora, que a enxovia já deu o que tinha a dar. Pisguem-se também os desempregados menos jovens, vejam se arranjam trabalho na Andaluzia a colher fruta, ou na construção civil na Holanda ou na Bélgica. Parece que os palheiros na Andaluzia e os dormitórios em barracões nos Países Baixos não andam muito longe dos bidonvilles. E até pode ser que vos paguem qualquer coisa no fim do mês. Raspem-se mas é todos os desempregados, mais os reformados que ainda possam trabalhar, deixem-se de andar por aí confortavelmente à míngua, não vêem como desembarcam em Itália, França ou Espanha, vindos de África, milhares de pessoas que, nos seus países, também estavam confortavelmente sem fazer nada, a coçar preguiçosamente os sovacos e outras zonas igualmente mal cheirosas?


Toca a emigrar, seu bando de inúteis, porque este país não está para jovens, como não está para velhos, nem para os que já não são jovens mas ainda não são velhos. O Sócrates não emigrou? O Guterres não emigrou? O Durão não emigrou? Só não emigram os que conseguem um lugarzinho na Mota-Engil, na Lusoponte, na Caixa Geral de Depósitos, no Millenium, na PT, na Galp e por aí fora.

Bem. Emigrar todos, também não. Fique pelo menos alguém que saiba como se faz papel higiénico.

É só para a besta não sujar os dedinhos.





(João Carlos Pereira)


Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 16/11/2011.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A CRISE E OS IDIOTAS (OU COISA PIOR)

A lengalenga que por aí se entoa é mais ou menos assim: os portugueses vivem acima das suas posses, ganham demais, não são produtivos. Os gregos são uns caloteiros, madraços e o que querem é viver à grande, à custa do dinheiro dos coitados dos banqueiros. Quando se pergunta a estes papagaios quem são os portugueses e os gregos de que estão a falar, metem a viola no saco. Um dia destes, vai dizer-se o mesmo dos italianos. E dos espanhóis. E não vai parar por aí.

A outra pergunta – e a que realmente importa fazer – é esta: que pessoas e que políticas conduziram a esta crise? Isto é: quem são os responsáveis por ela? Qualquer imbecil percebe que para se combater um mal é preciso conhecer-se a sua natureza, identificá-lo, perceber o que a ele conduziu. Mas para governantes, banqueiros e os bem pagos cérebros que a toda a hora debitam sobre a Crise, isso é coisa tabu. A Crise aconteceu, e pronto! A Crise é autónoma, tem vida própria, apareceu por combustão espontânea.

No entanto, a resposta é simples e óbvia: quem fez a Crise foram as pessoas que definem e aplicam as políticas económicas. As pessoas que têm nas mãos os mecanismos que regem a Economia. Foram, para abreviar, os detentores do capital financeiro e os governantes. Se alguma coisa deu para o torto, foram eles os responsáveis. Não foram os portugueses, os gregos, os italianos, os espanhóis ou os irlandeses.




Posto isto – e parece-me que ninguém, por muito estúpido ou descarado que seja, poderá dizer que há aqui qualquer falha de raciocínio – as questões que se colocam a seguir são estas: como é possível, num mundo em crise, haver alguém que acumulou tanto dinheiro que pode financiar os países aflitos? De onde lhes vieram os fundos, já que nenhuma riqueza criam? Que mecanismos legais – ou outros – os governantes encontraram para transferir, dos cofres dos Estados para os cofres desses «beneméritos», o produto da riqueza produzida – os fundos – que agora nos «vêm salvar» a juros canibalescos?

Há duas soluções para a Crise.

Uma «solução» – a dos que provocaram a Crise – é apresentar a factura aos gregos, aos portugueses, aos irlandeses, aos espanhóis, aos italianos e aos povos que se seguirem. E, claro, manter o mesmo esquema de usurpação: exaurir o erário público dos estados e, depois, ir salvá-los a juros extorsionários. É a solução viciosa.

A verdadeira solução: responsabilizar política e criminalmente os governantes que aqui conduziram os seus países. E, naturalmente, recuperar para os estados os fundos desviados para o bolso dos «investidores». Nacionalizá-los.

Claro que os banqueiros, e os políticos devassos e vendidos preferem a solução viciosa. E enquanto tiverem as costas quentes pelos idiotas – ou coisa pior – vão levando a água ao seu moinho.

A Crise é o seu maná.



(João Carlos Pereira)



Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 09/11/2011.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

EU, VILÃO, ME CONFESSO

A propósito da terrível situação que vivemos, mantenho, com algumas pessoas uma acesa troca de opiniões. Verifico, sem espanto, porque já ando cá há alguns anos, que deixaram de achar corajosos, acutilantes, justos e oportunos os meus pontos de vista sobre a governação laranja, que só difere da governação rosa porque está a enterrar a faca muito mais fundo e com maiores requintes de malvadez.

De um gajo porreiro, passei a um ser tipo agressivo, descortês, insultuoso e provocador. Diga-se que a desculpa para a indignação não é tanto aquilo que digo, mas – alegam eles – a forma como o digo. Não tenho espaço, tempo ou pachorra para recuperar o muito que disse de Sócrates e do PS, bem como dos que, com o seu apoio, nos puseram, durante seis anos, nas mãos do «maior sacripanta» que alguma vez tinha governado o país.

De «bando cor-de-rosa» e de «malfeitores» (10.11.10), até chamar aos socialistas que apoiavam o governo um grupo de «velhacos ou imbecis» 13.10.11), ou «gente medíocre e desprezível, tartufos» (06.10.10), nada faltou no menu da minha indignação. E não me faltaram aplausos de vários quadrantes, a começar pelos que agora me estigmatizam. Até Sócrates ser corrido, eu era bestial, elegante e subtil. Quase um herói. Agora, para as hostes laranjas, sou uma besta provocadora, grosseira e fanática. «Felizmente» – com aspas, certo? – começo a ser muito apreciado por certas franjas cor-de-rosa. Para eles, é ao contrário: deixei de ser besta e estou quase a ser bestial.

Mas vamos a
outras misérias: às da nossa vida. Já disse que Sócrates me fez ter saudades de Salazar, e que Passos faz-me ter saudades de Sócrates. Hoje em dia, o poder político, diligente capataz do capital financeiro, não tem o mínimo pejo em difundir a ideia de que aos portugueses não resta outra solução se não abrir mão dos seus privilégios. Então, o que é não ter privilégios?

É trabalhar mais, por menos dinheiro.

- É não ter férias pagas, subsídio de férias e subsídio de Natal.

- É estar disponível para o seu patrão a qualquer dia da semana e a qualquer hora do dia ou da noite.

- É, mesmo com os rendimentos diminuídos, pagar mais impostos, da casa ao carro – porque ter casa e carro é um luxo a que só as elites têm direito – e sobre o que se come e se bebe.

- É pagar mais caro por consultas, medicamentos, meios auxiliares de diagnóstico, internamentos, operações, transportes, água, electricidade e gás, porque tudo isto são bens supérfluos de que só a fina-flor da sociedade pode – e deve – usufruir.

- É não ter acesso a graus elevados de ensino, porque os grandes cérebros só existem nas famílias ditas da alta.

- É não poder comprar um livro, um jornal, ir jantar fora, ao teatro, comprar um disco, ir ao café.





Não ter privilégios é vegetar-se para salvar uma economia que as elites, a fina-flor da sociedade, as famílias da alta e os políticos – no nosso caso, os senhoritos do PS, PSD e CDS/PP – destruíram.

Mas se eu chamar criminosa a esta gente, e obtusos ou pérfidos a quem a defende ou justifica, ai de mim, que não passo de um bárbaro sem maneiras.

Pronto, está bem. O vilão sou eu.



(João Carlos Pereira)


Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 02/11/2011.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

OS LOBOS

Anda por aí muita gente irritada. Nervosa. Muita gente que se recusa a aceitar a realidade. Muita gente que quer continuar a acreditar que vivemos no melhor dos mundos, entregues às melhores das pessoas (que são as pessoas em quem votamos), mas que sente que, todos os dias, a vida lhes mostra que estão enganadas.

É triste vermos ruir aquilo em que acreditamos? Rejeite-se a realidade.

É doloroso sermos vítimas das políticas que pensávamos que magoariam só os outros? Disfarcemo-nos de patriotas e digamos que estamos dispostos a isto e a muito mais.

Assusta a ideia que o pior ainda está para vir? Aponte-se o dedo a tudo e a todos mas – muita atenção! – Jamais àqueles em quem sempre acreditámos.

Não temos respostas sérias para explicar o que está a acontecer? Ou temos, mas se as dermos estaremos a aceitar o que sempre rejeitámos? Recusemo-nos a responder a isso. Chutemos para fora e assobiemos para o lado.

A verdade é que os lobos entraram no povoado e não assaltam só os galinheiros e os casebres dos pobres. Entraram nos quintais das traseiras, e nos primeiros andares dos prédios. E alguns rondam já os muros de algumas moradias. O regedor, que nada mais é que um lobo com pele de carneiro, aconselha o povo a fechar-se em casa e a deixar comida à porta. Pode ser que assim a alcateia se apazigúe. Mas a alcateia tomou-lhe o gosto, já percebeu que basta uivar e mostrar os dentes. A alcateia está nas suas sete quintas. O povo, tolhido, vai pondo à porta tudo o que tem.

– E quando não tivermos mais?
– Faremos como os nossos ancestrais: sacrificaremos uns dos nossos, para lhes saciarmos a voracidade.
– E se te calhar a ti?
– Não hei-de ter um azar desses.
– Também dizias que os lobos nunca viriam cercar-nos a moradia. Que se contentavam com as galinhas dos outros…
– Olha. Seja o que deus quiser. Mas o regedor vai dar a volta a isto.
– E se matássemos os lobos?
– Credo! Sou contra a violência.
– Mas eles são violentos. Era legítima defesa.
– Se isto continuar assim, votamos noutro regedor.
– No irmão, aquele que esteve lá antes deste?
– Isso.

Nota – Peço desculpa aos lobos verdadeiros se acaso se sentirem ofendidos com as comparações aqui feitas. Teriam todas as razões para isso, já que são animais absolutamente respeitáveis.



(João Carlos Pereira)


Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 26/10/2011.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

A DEMOCRACIA TEM DESTAS COISAS

A vitória de Alberto João deixou espantada muito boa gente que, candidamente, pergunta como é possível um tipo daqueles continuar a merecer a confiança dos eleitores. Espantado fico eu com o espanto dessas pessoas, dado que grande parte delas votou três vezes em Sócrates, várias em Soares e Cavaco e, para culminar, entregou a cruz ao senhor dos Passos, coisas bem mais incompreensíveis, mas está bem, o que é que se há-de fazer, o povo tem destas coisas. E a democracia também.

Por esta altura, o presidente da república aprovou a diminuição das indemnizações por despedimento sem justa causa, primeiro passo para acabar com isso logo que possível. A este propósito, Carvalho da Silva, secretário-geral da CGTP, recordou que os senhores que defendem o fim das indemnizações devidas por despedimento, são os mesmos que, ao serem admitidos para os quadros superiores das grandes empresas públicas ou privadas, exigem grossas indemnizações ou compensações por rescisão do contrato, reformas integrais e rechonchudas ao fim de uns mesitos, embora também defendam, para os trabalhadores comuns, o aumento da idade da reforma e fórmulas de cálculo que as minguam e reduzem à sua expressão mais simples. Mas está bem, o que é que se há-de fazer, a democracia tem destas coisas.

No tempo do fascismo, abriam-se centros de saúde (chamavam-lhes Postos da Caixa) e escolas, quem descontava tinha a reforma garantida e havia a Sopa dos Pobres (ou do Sidónio). Agora, fecham-se centros de saúde e escolas, todos os dias nos dizem que as reformas podem não estar asseguradas, mas a Sopa dos Pobres mantém-se, embora com rótulos muito mais bonitos, pois a fome democrática não é nada que se compare à fome fascista. Enfim, vai sendo altura de percebermos que esta coisa dos rótulos tem muita importância. No fascismo, o desemprego, a fome e a guerra eram resultado de uma política desumana e opressiva. Em democracia, o desemprego, a fome e a guerra são coisas perfeitamente normais – e seguramente positivas – pois só assim se compreende que todos os dias o desemprego aumente, a fome também, e até as guerras, porque não temos nenhuma nossa, gastamos balúrdios a combater as guerras dos outros. Mas está bem, o que é que se há-de fazer, a democracia tem destas coisas.

No tempo do fascismo – do obscurantismo – a televisão transmitia, no horário nobre, programas culturais com João Villaret (poesia e teatro), João de Freitas Branco (música a sério), Vitorino Nemésio (literatura), Raul Machado (língua portuguesa), António Pedro (teatro), David Mourão-Ferreira (literatura) e, para não me alongar, teatro em directo, todas as quartas-feiras. Hoje a TV mostra-nos o José Castelo Branco, o Cláudio Ramos, uns gordos em supostas curas de emagrecimentos, uns imbecis a regurgitar bacoradas numa casa fechada e, para que nada falhe num quadro da mais absoluta estupidez, resmas de telenovelas estupidificantes. Mas está bem, o que é que se há-de fazer, a democracia tem destas coisas…



(João Carlos Pereira)


Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 19/10/2011.


quarta-feira, 12 de outubro de 2011

ORA AGORA ROUBAS TU…

Leio a notícia num jornal diário, o Correio da Manhã: «Pina Moura, Armando Vara e Dias Loureiro. Todos eles foram ministros, todos eles tinham salários modestos antes de chegarem ao Governo e todos eles acabaram por fazer carreira no mundo empresarial, aumentando o rendimento anual para valores acima dos cinco dígitos». Estes são apenas três exemplos do que é a democracia em curso. Podíamos falar de Ferreira do Amaral, que foi o ministro dos negócios da Ponte Vasco da Gama, e que agora é administrador – adivinhem lá – isso, precisamente da Lusoponte. Podíamos falar de Mira Amaral, que foi ministro da Economia, e que hoje está bem encostado à fortuna da família dos Santos, e que recebeu, de bandeja, o BPN. Podíamos falar do Jorge Coelho, que foi ministro das Obras Públicas, e que hoje tem cadeirão numa das maiores empresas de – adivinhem lá – isso, precisamente de obras públicas, a Mota-Engil.

Já estou a ouvir os gritos indignados de algumas pessoas que eu conheço, todas encrespadas a debitar desculpas e justificações para estas cascatas de ouro, na parte que toca aos nomes ligados aos seu partido (quanto aos nomes do outro partido, batem palmas), e argumentando velhacamente, e em desespero de causa, que isto é resultado do 25 de Abril.

Encho-me de pachorra e lá vou tentando explicar-lhes que não, não é nada disso, este tipo de amanhanços não tem nada a ver com o 25 de Abril, mas com o assalto que os filhos e netos do fascismo – quer a nível político, quer a nível financeiro e económico – fizeram ao aparelho do Estado, nele se entrincheirando bem armados e equipados. Herdeiros que, diga-se a verdade, são mais glutões e descarados do que os seus pais e avós, que tinham algumas maneiras à mesa e um pouco de vergonha na cara.

Vejam bem que uma dessas criaturas dizia-me, há dias, que os escândalos verificados nas empresas públicas de transportes, com a distribuição de benesses aos senhores administradores, era culpa do 25 de Abril, que as nacionalizou, e não de terem sido administradas por gente nomeada, à vez, por governos do PS e PSD (ora agora roubas tu, ora agora roubo eu), numa clara afronta aos valores do 25 de Abril, já para não dizer, aos valores republicanos e democráticos. Para aquela cabecinha, os “boys” e “girls” que administram, por escolha do PS e do PSD, a CP, a TAP, o Metro, a Transtejo ou a Soflusa nem queriam carros de luxo, ordenados opíparos, cartões de crédito bem recheados, telemóveis de “plafond” ilimitado, reforma cedo e choruda, etc, etc, mas foi o 25 de Abril que lhes disse: Façam favor de aceitar, caso contrário vai tudo preso.

Com gatunos destes – e com eleitores destes – alguém acredita que este país – esta enxovia – algum dia terá cura?


(João Carlos Pereira)



Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 12/10/2011.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

CRISE – O PAPÃO DO SÉCULO XXI



Os senhores da alta finança e os políticos às suas ordens criaram a Crise. Há quem diga que foi por mera incompetência e excessiva ganância. Eu creio que a Crise é apenas um cenário muito bem elaborado que serve de pretexto para sorverem aos trabalhadores o máximo que puderem – e enquanto puderem. Nenhum grande banqueiro ficou mais pobre, nenhum político perdeu mordomias nem foi devidamente responsabilizado – política e criminalmente – pelas consequências das suas políticas – ou seja, pelas malfeitorias praticadas. Quem não tem a mínima responsabilidade na Crise – caso a Crise fosse uma coisa real e não o utilíssimo papão que é – são os trabalhadores. Todos eles estão inocentes. Limpos. Puros. Mas é a eles que a alta finança, através dos seus governos, apresenta a factura.

Apavorado, inconsciente, abúlico, ignorante, desorientado, estúpido e cobarde, e incapaz de perceber o esquema sinistro de que está a ser vítima, o povo vai obedecendo, bovinamente, à vontade dos seus algozes, suportando o aguilhão como se de uma merecida fatalidade se tratasse.

Perfeitamente consciente da mansidão da manada, o governo do PSD quer que ela trabalhe cada vez mais, por cada vez menos dinheiro, a qualquer hora do dia, a qualquer dia da semana e sempre com a sombra do despedimento a pesar-lhes no cachaço. Cada trabalhador nada mais é, face à prepotência reinante, que um mero parafuso ao dispor do dono da empresa. A entidade patronal passou a ser dona e senhora das vidas dos seus empregados. Diligentes, os «democratas» de serviço aos donos do mundo – e à sua concepção de estrutura política, social e económica da sociedade – estão a conduzir este infame retrocesso civilizacional com enorme competência, de tal modo que até eu continuo a utilizar o termo «trabalhadores», em vez de, mais apropriadamente, usar «servos» ou «escravos de novo tipo».

Qual é a solução? Só vejo uma: agarrarmos pelos colarinhos todos os políticos que, de Mário Soares para cá, tiveram responsabilidades governativas, e todos os que, na Assembleia da República e na Presidência da República os apoiaram – ou, por omissão, permitiram os seus desmandos. Ao mesmo tempo, tomarmos conta dos sectores chaves da economia.

Por outras palavras: Se não lhes dermos cabo da vida, serão eles – como estão a ser – a dar cabo da nossa.

De pé, ó vítimas da fome!

Ou se preferirem: Aux armes, citoyens!



(João Carlos Pereira)

Crónica lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 05/10/2011.